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ARTIGO
Prevenir urgentemente
MARIA JOSÉ O'NEILL
ESPECIAL PARA A FOLHA
Dentro de um contexto de tantas crises é pouco provável que
muitos de nós tenhamos tempo e
atenção para alguns temas que,
embora sejam bastante sérios,
ocultam-se por sua sutileza. E, em
meio a estes problemas, certamente encontra-se a questão da
segurança e saúde no trabalho
-que, mesmo sendo de suma
importância e diga respeito à dignidade humana, acaba parecendo
supérflua. Em meio à crise que
atravessamos, a possibilidade de
trabalhar passa a ser não um direito, mas uma conquista.
Ora, se não conseguimos, dentro deste quadro, sensibilizar as
autoridades e a sociedade para o
gritante descaso com que são tratados os casos típicos das doenças
e acidentes do trabalho, dificuldade maior ainda temos de fazer
chegar até a opinião pública as
questões relacionadas às LER -
lesões por esforços repetitivos. No
entanto -se mantida esta posição quanto ao assunto- corremos o risco de, em curto espaço
de tempo, estar diante de uma
verdadeira legião de pessoas
-quando não incapacitadas para
o trabalho- portadoras de restrições bastante sérias. Há necessidade urgente de se colocar luz sobre este assunto.
Esta realidade não é nova. Já por
volta de 1700 o médico italiano
Bernardino Ramazine citava casos de doenças que ocorriam com
os escribas e tinham como causas
principais o sedentarismo, a pressão para não manchar os livros e
os movimentos repetitivos.
Mais de 300 anos após estas
constatações, vivemos num mundo onde a natureza de muitas atividades oferece as mesmas condições -com o agravante de atingir
diversas categorias profissionais.
Embora o assunto não seja ainda tema de muitos debates, e não
tenha chegado ainda ao conhecimento da sociedade, as LER já são
-segundo o próprio INSS- a
segunda causa de afastamento do
trabalho no Brasil.
Na cidade de São Paulo, segundo pesquisa do Datafolha, cerca
de 310 mil trabalhadores têm
diagnóstico firmado por médicos,
ou seja, 6% da população trabalhadora. Como referência vale
mencionar que, em 1998, nos
EUA foram registrados 650 mil
novos casos de LER, que foram
responsáveis por 2/3 das ausências no trabalho e tiveram custo
estimado entre US$ 15 bilhões e
US$ 20 bilhões, segundo a OMS
(Organização Mundial da Saúde).
Entendemos que, neste momento, há tanto esforço para fazer
frente às questões denominadas
básicas, que possam devolver ao
povo brasileiro um pouco de sua
dignidade. No entanto, não há como deixar de lado situações como
a questão de saúde e segurança no
trabalho, visto que, em muitos casos, as consequências são irreversíveis.
Faz-se necessário, urgentemente, que a sociedade seja chamada à
consciência quanto à prevenção
das LER, através de campanhas
governamentais e de ações a partir das próprias empresas.
Que o dia 28 de fevereiro -Dia
Internacional e Municipal de Prevenção às LER, projeto de lei do
vereador Eliseu Gabriel (PDT)-
sirva como um marco para que
possamos continuar trabalhando
o Brasil do presente sem esquecer
que o futuro chega logo.
Maria José Pereira da Silva O'Neill, 46,
jornalista, autora de "LER/Dort - O Desafio de Vencer" (Editora Madras),
presidente do Instituto Nacional de
Prevenção às LER/Dort, e-mail
mjoneill@uol.com.br
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