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São Paulo, sexta-feira, 28 de fevereiro de 2003

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ARTIGO

Prevenir urgentemente

MARIA JOSÉ O'NEILL
ESPECIAL PARA A FOLHA

Dentro de um contexto de tantas crises é pouco provável que muitos de nós tenhamos tempo e atenção para alguns temas que, embora sejam bastante sérios, ocultam-se por sua sutileza. E, em meio a estes problemas, certamente encontra-se a questão da segurança e saúde no trabalho -que, mesmo sendo de suma importância e diga respeito à dignidade humana, acaba parecendo supérflua. Em meio à crise que atravessamos, a possibilidade de trabalhar passa a ser não um direito, mas uma conquista.
Ora, se não conseguimos, dentro deste quadro, sensibilizar as autoridades e a sociedade para o gritante descaso com que são tratados os casos típicos das doenças e acidentes do trabalho, dificuldade maior ainda temos de fazer chegar até a opinião pública as questões relacionadas às LER - lesões por esforços repetitivos. No entanto -se mantida esta posição quanto ao assunto- corremos o risco de, em curto espaço de tempo, estar diante de uma verdadeira legião de pessoas -quando não incapacitadas para o trabalho- portadoras de restrições bastante sérias. Há necessidade urgente de se colocar luz sobre este assunto.
Esta realidade não é nova. Já por volta de 1700 o médico italiano Bernardino Ramazine citava casos de doenças que ocorriam com os escribas e tinham como causas principais o sedentarismo, a pressão para não manchar os livros e os movimentos repetitivos.
Mais de 300 anos após estas constatações, vivemos num mundo onde a natureza de muitas atividades oferece as mesmas condições -com o agravante de atingir diversas categorias profissionais.
Embora o assunto não seja ainda tema de muitos debates, e não tenha chegado ainda ao conhecimento da sociedade, as LER já são -segundo o próprio INSS- a segunda causa de afastamento do trabalho no Brasil.
Na cidade de São Paulo, segundo pesquisa do Datafolha, cerca de 310 mil trabalhadores têm diagnóstico firmado por médicos, ou seja, 6% da população trabalhadora. Como referência vale mencionar que, em 1998, nos EUA foram registrados 650 mil novos casos de LER, que foram responsáveis por 2/3 das ausências no trabalho e tiveram custo estimado entre US$ 15 bilhões e US$ 20 bilhões, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde).
Entendemos que, neste momento, há tanto esforço para fazer frente às questões denominadas básicas, que possam devolver ao povo brasileiro um pouco de sua dignidade. No entanto, não há como deixar de lado situações como a questão de saúde e segurança no trabalho, visto que, em muitos casos, as consequências são irreversíveis.
Faz-se necessário, urgentemente, que a sociedade seja chamada à consciência quanto à prevenção das LER, através de campanhas governamentais e de ações a partir das próprias empresas.
Que o dia 28 de fevereiro -Dia Internacional e Municipal de Prevenção às LER, projeto de lei do vereador Eliseu Gabriel (PDT)- sirva como um marco para que possamos continuar trabalhando o Brasil do presente sem esquecer que o futuro chega logo.


Maria José Pereira da Silva O'Neill, 46, jornalista, autora de "LER/Dort - O Desafio de Vencer" (Editora Madras), presidente do Instituto Nacional de Prevenção às LER/Dort, e-mail mjoneill@uol.com.br


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