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Sem nenhum sistema de cotas, elas representam hoje pelo menos 10% dos ritmistas das escolas paulistanas
Mulheres dão charme e disciplina à bateria
MARIANA VIVEIROS
PALOMA COTES
DA REPORTAGEM LOCAL
Quem vê Wanise Kely Lagatta,
17, tocando tamborim na Unidos
do Peruche não consegue acreditar que, há três anos, ela nunca havia manejado um instrumento e,
de cima dos seus saltos altos, desfilava como passista da escola.
"No começo, as pessoas perguntavam por quê. Eu dizia a verdade: que tinha enjoado e queria
tentar uma coisa diferente." A
"coisa diferente" apareceu num
ensaio, quando um amigo da bateria a convidou para tocar. Menos de um ano e algumas aulas
depois, Kely estreava, no Carnaval de 2001, como ritmista. Agora,
não pensa em fazer outra coisa.
"Antes eu desfilava só por curtição; agora é mais emocionante
porque tenho também uma grande responsabilidade. No próximo
ano, quero sair tocando surdo. Se
eles podem, por que nós não?"
Elas não só podem como estão,
aos poucos, invadindo o último
reduto tradicionalmente masculino do samba. Foram chegando,
há cerca de três anos, com um
misto de curiosidade, timidez e
medo de serem peixes fora d'água. Sem nenhum sistema de cotas, são hoje pelo menos 10% dos
ritmistas das escolas paulistanas
do Grupo Especial.
A Águia de Ouro, quarta agremiação a desfilar no primeiro dia
do Carnaval, foi a primeira a
montar, em caráter permanente,
uma bateria feminina. As 88 integrantes do grupo tocam de tudo:
agogô, tamborim, caixa, surdo. E
já estão "desbancando" os homens -no bom sentido.
Nesta época do ano, enquanto a
bateria masculina faz uma apresentação por semana fora da agremiação, elas fazem quatro. E são
elogiadas pelo mestre de bateria,
Juca, pela disciplina e seriedade
com que encaram o "trabalho".
"Se eu precisar delas aqui às 8h,
depois de um dia de desfile, com
certeza elas virão. Elas são, hoje, a
coqueluche da escola", derrete-se
o professor.
Charme extra
Em nenhum caso a decisão de
trocar as elaboradas (e, às vezes,
diminutas) fantasias e plataformas pelo uniforme de ritmista
significou abrir mão da beleza
nem do "jeitinho" feminino. Pelo
contrário. Além de trazer um
charme extra para o "coração"
das escolas, as mulheres, com
uma postura disciplinada e séria,
estão alterando o perfil da bateria.
"Os tempos mudaram. A bateria ficou mais leve, não é mais lugar de malandro", diz Hélio de
Oliveira, diretor-geral da Unidos
do Peruche, segunda a desfilar
amanhã à noite. A presença feminina não só amenizou o "clima de
borracharia", mas também ajudou o grupo a se organizar. "Elas
sempre entram na hora certa."
Foi assim que a escola começou
com duas meninas no chocalho
em 2000 e passou a ter 27 neste
ano (13% de toda a bateria).
Luciana Lima, 26, foi uma das
primeiras a se aventurar como ritmista na Peruche e diz não ter palavras para descrever a emoção de
carregar o ritmo da escola. O namorado não reclama de ela estar
rodeada de homens. "O clima é de
muito cavalheirismo", afirma.
"Elas são muito respeitadas pelos meninos. Existe um clima de
"essas são as nossas meninas". E,
realmente, elas são muito especiais", afirma mestre Juca, que vai
"exportar" a idéia para o Carnaval
carioca. "A Beija-Flor vai, a partir
do que desenvolvemos aqui, criar
uma bateria feminina também."
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