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Na festa da Gaviões,
o verde fica de fora
ARMANDO ANTENORE
DA REPORTAGEM LOCAL
Escola de samba que se preze
deve sempre enaltecer as belezas
naturais do país, certo? O céu cor
de anil, as águas cristalinas, as verdes matas. Na Gaviões da Fiel, porém, a exaltação frequentemente
esbarra em um probleminha: o
verde, lá, é proibido.
A agremiação paulistana, campeã de 2002, carrega o nome (e o
espírito) da principal torcida do
Corinthians. Como o verde simboliza o arquiinimigo Palmeiras,
os carnavalescos que se virem.
Cabe-lhes conceber os desfiles
sem recorrer à cor. Não são permitidos nem mesmo efeitos de luzes que resultem em algo vagamente esverdeado.
"Pode qualquer coisa aqui
-rosa, amarelo, roxo. Menos
aquele tonzinho...", explica Delmo de Moraes, 36, diretor de barracão e coordenador de alegoria.
Amanhã, às 3h40, a escola leva
para o sambódromo o enredo "As
Cinco Deusas Encantadas na Corte do Rei Gavião". Sob tal mote,
pretende homenagear todas as regiões brasileiras.
Primeiro senão: o Centro-Oeste.
Impossível retratá-lo sem mencionar o Pantanal -só que o Pantanal tem verde à beça. "A saída?
Esquecer a flora e priorizar a fauna", ensina Moraes. No Pantanal
da Gaviões, portanto, irão faltar
árvores, arbustos e afins. Em contrapartida, haverá um punhado
de cavalos, onças e jacarés. Papagaios, nem pensar.
Outro dilema: a Amazônia, ícone da região Norte. Novamente,
optou-se por "esquecer a flora". E
tome boi-bumbá.
Para representar a maior floresta do planeta, a escola decidiu fazer alusão à tradicional ópera popular que se realiza anualmente
em Parintins (AM).
No espetáculo, o boi Garantido
enfrenta o Caprichoso. "Ficamos,
desse modo, em terreno seguro",
diz Moraes. Seguríssimo, uma vez
que a cor do Caprichoso é o azul e
a do Garantido, o vermelho.
Trabalhando em São Paulo desde 1997, o carioca Moraes formou-se profissionalmente no
Carnaval do Rio. Quando chegou
à Gaviões, não sabia da implicância com o verde. "Quis utilizá-lo e
logo choveram protestos. Julguei
por bem não insistir." Se dependesse dele, a proibição cairia já,
apenas para mostrar "que o Palmeiras não é o dono da cor".
Em 2000, o diretor de barracão
amargou percalço parecido com o
de agora. Precisava reproduzir o
Jardim Botânico sobre um carro
da escola. Na ausência de solução
melhor, resolveu estilizar. "Foi
um tal de inventar folhagem cinza, negra, laranja, branca..."
Colaborou FABIO MURAKAWA, do "Agora"
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