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São Paulo, sexta-feira, 28 de fevereiro de 2003

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Na festa da Gaviões, o verde fica de fora

ARMANDO ANTENORE
DA REPORTAGEM LOCAL

Escola de samba que se preze deve sempre enaltecer as belezas naturais do país, certo? O céu cor de anil, as águas cristalinas, as verdes matas. Na Gaviões da Fiel, porém, a exaltação frequentemente esbarra em um probleminha: o verde, lá, é proibido.
A agremiação paulistana, campeã de 2002, carrega o nome (e o espírito) da principal torcida do Corinthians. Como o verde simboliza o arquiinimigo Palmeiras, os carnavalescos que se virem. Cabe-lhes conceber os desfiles sem recorrer à cor. Não são permitidos nem mesmo efeitos de luzes que resultem em algo vagamente esverdeado.
"Pode qualquer coisa aqui -rosa, amarelo, roxo. Menos aquele tonzinho...", explica Delmo de Moraes, 36, diretor de barracão e coordenador de alegoria.
Amanhã, às 3h40, a escola leva para o sambódromo o enredo "As Cinco Deusas Encantadas na Corte do Rei Gavião". Sob tal mote, pretende homenagear todas as regiões brasileiras.
Primeiro senão: o Centro-Oeste. Impossível retratá-lo sem mencionar o Pantanal -só que o Pantanal tem verde à beça. "A saída? Esquecer a flora e priorizar a fauna", ensina Moraes. No Pantanal da Gaviões, portanto, irão faltar árvores, arbustos e afins. Em contrapartida, haverá um punhado de cavalos, onças e jacarés. Papagaios, nem pensar.
Outro dilema: a Amazônia, ícone da região Norte. Novamente, optou-se por "esquecer a flora". E tome boi-bumbá.
Para representar a maior floresta do planeta, a escola decidiu fazer alusão à tradicional ópera popular que se realiza anualmente em Parintins (AM).
No espetáculo, o boi Garantido enfrenta o Caprichoso. "Ficamos, desse modo, em terreno seguro", diz Moraes. Seguríssimo, uma vez que a cor do Caprichoso é o azul e a do Garantido, o vermelho.
Trabalhando em São Paulo desde 1997, o carioca Moraes formou-se profissionalmente no Carnaval do Rio. Quando chegou à Gaviões, não sabia da implicância com o verde. "Quis utilizá-lo e logo choveram protestos. Julguei por bem não insistir." Se dependesse dele, a proibição cairia já, apenas para mostrar "que o Palmeiras não é o dono da cor".
Em 2000, o diretor de barracão amargou percalço parecido com o de agora. Precisava reproduzir o Jardim Botânico sobre um carro da escola. Na ausência de solução melhor, resolveu estilizar. "Foi um tal de inventar folhagem cinza, negra, laranja, branca..."


Colaborou FABIO MURAKAWA, do "Agora"


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