São Paulo, terça-feira, 28 de fevereiro de 2006

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CARNAVAL 2006

Vila Isabel vive noite de Beija-Flor no sambódromo

DA ENVIADA ESPECIAL AO RIO
DA SUCURSAL DO RIO

A Beija-Flor foi a Beija-Flor de sempre -a que venceu nos últimos três anos. E a Unidos de Vila Isabel, contrariando sua história de simplicidade, foi Beija-Flor por um dia: luxo, grandiosidade e eficiência, graças ao patrocínio da petrolífera venezuelana PDVSA. As duas escolas se destacaram no domingo, na primeira das duas noites de desfile do Grupo Especial do Rio de Janeiro.
Até o horário foi o mesmo do ano passado. A Beija-Flor entrou já de manhã no sambódromo ainda cheio para fazer uma apresentação que lembrou a do tricampeonato: alegorias enormes, muitas e nem sempre harmoniosas cores, 56 alas -as escolas costumam ter pouco mais de 30- e a natureza como inspiração.
O enredo deste ano, sobre a água, conciliou a grandiloqüência da qual gosta a Beija-Flor com a conveniência: o patrocínio foi da cidade mineira de Poços de Caldas, famosa por suas águas. Até um carro tratando a cidade como a nova Atlântida teve.
Também teve, mais uma vez, a perfeição técnica. Ou melhor, a quase-perfeição: os fogos do início produziram muita fumaça, nenhuma beleza e tosse no público. A prometida "explosão" da bateria não provocou impacto.
Ainda assim, a Beija-Flor, que foi vice em três anos seguidos (99 a 2001) para a impecável Imperatriz Leopoldinense, agora é praticamente imbatível quando o assunto é agradar aos jurados com sua eficiência. É, logo, forte candidata ao tetra.
A Vila, campeã apenas em 88 com um desfile antiluxo ("Kizomba, a festa da raça"), entrou na avenida sem seu símbolo maior, Martinho da Vila -que brigou com a diretoria por ter sido preterido na escolha do samba-enredo-, e com uma riqueza que nunca teve. O que poderia ter sido um desastre, dada a falta de costume da escola com alegorias gigantes, resultou em um desfile preciso e que ainda conseguiu empolgar parte do público -houve gritos de "é campeã". "O Martinho teve uma postura de estrela. Uma pessoa que diz ser da escola não faria uma coisa dessas", criticou o carnavalesco Alexandre Louzada.
A Imperatriz repetiu sua fórmula de luxo mais organização mas também sua frieza e ainda apressou o passo no final para cumprir o tempo. Mais uma vez, um dos destaques foi a comissão de frente, coreografada por Fábio Mello, que representou a corte francesa com 12 cavaleiros sobre triciclos estilizados em forma de cavalos.
A Grande Rio não conseguiu evitar o estouro de um minuto, que lhe custará dois décimos, e, no fim do desfile, o clima era de pessimismo. Apesar da imponência de seus carros e suas fantasias -em que se abusou da palha-, a escola fez uma apresentação morna. O maior destaque foi a atriz Susana Vieira, que, embora tenha escondido o corpo usando uma segunda pele, foi ovacionada.
O primeiro dia de desfiles no sambódromo começou com um Salgueiro morno, uma Rocinha que abusou da má sorte e da incompetência e uma Imperatriz que apostou na mesmice sem erros, feita para o júri.
Os problemas do desfile da Rocinha -atrasos e carros quebrados- se estenderam até a Caprichosos de Pilares. Por causa dos dois carros da Rocinha que quebraram na dispersão, a Caprichosos quase não consegue retirar os seus da avenida e fechou o desfile em 79 minutos -o tempo máximo é 80 minutos. O presidente da escola, Paulo de Almeida, reclamou: "Tive que atravessar carros para não passar do tempo. A Liesa [Liga das Escolas de Samba] deveria ter atrasado o desfile para não comprometer nenhuma escola. Fiz um grande investimento neste Carnaval e quase tive prejuízo".
O presidente da escola classificou como "um chocolate" o desfile que fez. "Sábado estaremos de volta [em referência ao desfile das campeãs]", disse confiante. A escola, que teve como patrocinadora uma fábrica de bombons, não teve problemas na avenida. A Caprichosos conta a história de índios canibais que habitaram o Espírito Santo. Trinta e seis índios tupiniquins de Aracruz (ES) participaram do desfile. Doze estavam à frente da rainha da bateria. Aliás, a rainha mais aplaudida do sambódromo no primeiro dia. Mel Brito, mulher do presidente da escola, estreou neste ano no lugar de Luma de Oliveira.
"A comunidade me escolheu, tenho certeza que não vou deixar a desejar", disse ela, antes de pisar na passarela. E não deixou. Maradona estava no camarote de uma cervejaria e aplaudiu a moça com seu tradicional entusiasmo. Mel desfilou de fio dental e muita purpurina no corpo. "Ele é um bom atleta e conhecedor de mulher bonita", disse Paulo Almeida, mostrando não ter ciúmes.
"Ela é uma escultura de Deus e tem samba no pé. Foi a comunidade que exigiu que fosse ela, eu não tive escolha. Estava faltando uma mulher com samba no pé à frente da bateria", disse, com uma leve alfinetada em Luma que, segundo ele, "não fez falta nenhuma". (AMARÍLIS LAGE, LUIZ FERNANDO VIANNA, MARIO HUGO MONKEN, PEDRO SOARES, SERGIO COSTA, SERGIO RANGEL e TALITA FIGUEIREDO)

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