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CARNAVAL 2006
Vila Isabel vive noite de Beija-Flor no sambódromo
DA ENVIADA ESPECIAL AO RIO
DA SUCURSAL DO RIO
A Beija-Flor foi a Beija-Flor de
sempre -a que venceu nos últimos três anos. E a Unidos de Vila
Isabel, contrariando sua história
de simplicidade, foi Beija-Flor por
um dia: luxo, grandiosidade e eficiência, graças ao patrocínio da
petrolífera venezuelana PDVSA.
As duas escolas se destacaram no
domingo, na primeira das duas
noites de desfile do Grupo Especial do Rio de Janeiro.
Até o horário foi o mesmo do
ano passado. A Beija-Flor entrou
já de manhã no sambódromo ainda cheio para fazer uma apresentação que lembrou a do tricampeonato: alegorias enormes, muitas e nem sempre harmoniosas
cores, 56 alas -as escolas costumam ter pouco mais de 30- e a
natureza como inspiração.
O enredo deste ano, sobre a
água, conciliou a grandiloqüência
da qual gosta a Beija-Flor com a
conveniência: o patrocínio foi da
cidade mineira de Poços de Caldas, famosa por suas águas. Até
um carro tratando a cidade como
a nova Atlântida teve.
Também teve, mais uma vez, a
perfeição técnica. Ou melhor, a
quase-perfeição: os fogos do início produziram muita fumaça,
nenhuma beleza e tosse no público. A prometida "explosão" da
bateria não provocou impacto.
Ainda assim, a Beija-Flor, que
foi vice em três anos seguidos (99
a 2001) para a impecável Imperatriz Leopoldinense, agora é praticamente imbatível quando o assunto é agradar aos jurados com
sua eficiência. É, logo, forte candidata ao tetra.
A Vila, campeã apenas em 88
com um desfile antiluxo ("Kizomba, a festa da raça"), entrou
na avenida sem seu símbolo
maior, Martinho da Vila -que
brigou com a diretoria por ter sido preterido na escolha do samba-enredo-, e com uma riqueza
que nunca teve. O que poderia ter
sido um desastre, dada a falta de
costume da escola com alegorias
gigantes, resultou em um desfile
preciso e que ainda conseguiu
empolgar parte do público
-houve gritos de "é campeã". "O
Martinho teve uma postura de estrela. Uma pessoa que diz ser da
escola não faria uma coisa dessas", criticou o carnavalesco Alexandre Louzada.
A Imperatriz repetiu sua fórmula de luxo mais organização mas
também sua frieza e ainda apressou o passo no final para cumprir
o tempo. Mais uma vez, um dos
destaques foi a comissão de frente, coreografada por Fábio Mello,
que representou a corte francesa
com 12 cavaleiros sobre triciclos
estilizados em forma de cavalos.
A Grande Rio não conseguiu
evitar o estouro de um minuto,
que lhe custará dois décimos, e,
no fim do desfile, o clima era de
pessimismo. Apesar da imponência de seus carros e suas fantasias
-em que se abusou da palha-, a
escola fez uma apresentação morna. O maior destaque foi a atriz
Susana Vieira, que, embora tenha
escondido o corpo usando uma
segunda pele, foi ovacionada.
O primeiro dia de desfiles no
sambódromo começou com um
Salgueiro morno, uma Rocinha
que abusou da má sorte e da incompetência e uma Imperatriz
que apostou na mesmice sem erros, feita para o júri.
Os problemas do desfile da Rocinha -atrasos e carros quebrados- se estenderam até a Caprichosos de Pilares. Por causa dos
dois carros da Rocinha que quebraram na dispersão, a Caprichosos quase não consegue retirar os
seus da avenida e fechou o desfile
em 79 minutos -o tempo máximo é 80 minutos. O presidente da
escola, Paulo de Almeida, reclamou: "Tive que atravessar carros
para não passar do tempo. A Liesa
[Liga das Escolas de Samba] deveria ter atrasado o desfile para não
comprometer nenhuma escola.
Fiz um grande investimento neste
Carnaval e quase tive prejuízo".
O presidente da escola classificou como "um chocolate" o desfile que fez. "Sábado estaremos de
volta [em referência ao desfile das
campeãs]", disse confiante. A escola, que teve como patrocinadora uma fábrica de bombons, não
teve problemas na avenida. A Caprichosos conta a história de índios canibais que habitaram o Espírito Santo. Trinta e seis índios
tupiniquins de Aracruz (ES) participaram do desfile. Doze estavam à frente da rainha da bateria.
Aliás, a rainha mais aplaudida do
sambódromo no primeiro dia.
Mel Brito, mulher do presidente
da escola, estreou neste ano no lugar de Luma de Oliveira.
"A comunidade me escolheu,
tenho certeza que não vou deixar
a desejar", disse ela, antes de pisar
na passarela. E não deixou. Maradona estava no camarote de uma
cervejaria e aplaudiu a moça com
seu tradicional entusiasmo. Mel
desfilou de fio dental e muita purpurina no corpo. "Ele é um bom
atleta e conhecedor de mulher bonita", disse Paulo Almeida, mostrando não ter ciúmes.
"Ela é uma escultura de Deus e
tem samba no pé. Foi a comunidade que exigiu que fosse ela, eu
não tive escolha. Estava faltando
uma mulher com samba no pé à
frente da bateria", disse, com uma
leve alfinetada em Luma que, segundo ele, "não fez falta nenhuma".
(AMARÍLIS LAGE, LUIZ FERNANDO VIANNA, MARIO HUGO MONKEN, PEDRO SOARES, SERGIO COSTA, SERGIO RANGEL e TALITA FIGUEIREDO)
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