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MARIA INÊS DOLCI
Usineiros 10 X 0 Governo
Em tempos de Copa do Mundo de Futebol, vamos entrar
no clima: a equipe dos usineiros
está dando "um banho de bola"
no governo federal e nos consumidores. É um jogo em que o adversário mais fraco -o consumidor- tem sido humilhado, levando olé nas negociações para
segurar os preços desse combustível.
Que é fundamental não somente para os proprietários de carros
a álcool mas para os donos de veículos movidos a gasolina. Pois a
gasolina tem um percentual de
álcool anidro, a fim de reduzir a
poluição ambiental provocada
pela gasolina.
Pode ser que, hoje, enquanto
você lê este artigo, tenham surtido
algum efeito as ameaças do governo federal para forçar os usineiros a segurar os preços do álcool. Os danos, contudo, já ocorreram -em janeiro, por exemplo, o álcool subiu 9,87%, e foi a
principal fonte de pressão no Índice de Preços ao Consumidor
Amplo (IPCA).
Além disso, depois do vexame
que foi o abandono dos proprietários dos carros a álcool nos anos
80, novamente esses consumidores pagam caro por acreditar em
um combustível alternativo.
Na verdade, essa história tem
muito mais "pernas-de-pau" do
que craques. Em primeiro lugar, o
governo assistiu, sem qualquer
iniciativa, ao espantoso sucesso
dos carros com motores flex (ou
seja, flexíveis, por alternar gasolina e álcool). Além disso, regozijou-se com os elogios dos principais jornais dos Estados Unidos
ao sucesso do uso do álcool como
combustível automotivo.
É óbvio que os motores flex são
um grande avanço tecnológico e
que beneficiam o consumidor. É
natural que o sucesso mundial do
álcool projete bons negócios para
o Brasil e melhore a auto-estima
dos governantes.
O que chama a atenção é que se
percebeu o aumento da demanda
interna e do interesse dos mercados externos, sem qualquer política pública relevante para evitar o
desabastecimento. Esqueceram-se, também, que o álcool combustível é extraído da cana-de-açúcar, um produto agrícola. Ou seja,
que tem safra e entressafra, além
de estar sujeito a quebras, provocadas, por exemplo, pelo regime
irregular de chuvas que assombra
a agricultura brasileira nos últimos anos.
A cana-de-açúcar, além do álcool, produz, originalmente, açúcar, consumido em ampla escala.
E que, ao sabor do mercado, às
vezes conta com preços internacionais e nacionais por extensão,
muito mais atraentes do que os
do álcool.
É por isso que não se pode tratar
de um combustível em ascensão,
com a mesma presteza com que se
cuidou das estradas brasileiras.
Não há tapa-buracos possível em
um caso desses.
Se não havia a garantia de fornecimento de álcool combustível
ou da manutenção dos seus preços, o governo poderia, por exemplo, ter negociado um ritmo menos acelerado de oferta de carros
flex. Reduzido o percentual de
adição de álcool à gasolina, antes
do estouro dos preços do álcool.
Avaliado a possibilidade de importação ou da imposição de sobretaxas à exportação de álcool e
de açúcar, quando o outro time
ainda não estava vencendo o jogo
com tamanha facilidade.
O mais triste é que o governo
nessa história representa o consumidor, que perdeu junto, enquanto os usineiros levavam a taça para casa.
E-mail - midolci@yahoo.com.br
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