São Paulo, Domingo, 28 de Fevereiro de 1999
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BALANÇO DO SÉCULO
Comprimido desbancou computador e avião na eleição norte-americana das criações indispensáveis
Aspirina é eleita a 4ª melhor invenção

da Reportagem Local

Uma pesquisa realizada pela revista "Newsweek" há cinco anos pedia aos norte-americanos que enumerassem, entre as invenções dos últimos cem anos, aquelas que consideravam indispensáveis às suas vidas. As mais votadas foram, nesta ordem, a televisão, o telefone, o automóvel e a Aspirina.
Nas vésperas de completar os seus cem anos -o que acontece no próximo sábado, 6 de março- não é difícil de entender a inclusão da Aspirina nesta lista no lugar de outras tantas invenções como o computador, o avião ou até a pílula anticoncepcional, por exemplo.
Há um século, quando o químico Félix Hoffman conseguiu sintetizar pela primeira vez, de forma pura e estável, o ácido acetilsalicílico -que dois anos depois viraria a Aspirina- para tentar acalmar as dores do pai, vítima de reumatismo, a dor e a febre eram consideradas os grandes males do mundo.
O ópio era o único analgésico conhecido e os pesquisadores procuravam desesperadamente um remédio que pudesse se tornar barato e popular para diminuir a dor.
Hoje, com o título de "medicamento mais vendido do mundo", devidamente registrado no "Guinness Book", o livro dos recordes, a Aspirina tem um consumo anual de 12 bilhões de comprimidos e concorre com outras 150 marcas de analgésicos diferentes.
Quantidade, porém, ainda não é o seu maior triunfo. Sua primeira utilização foi para combater as dores do reumatismo, mas, assim que lançada, a pílula já foi anunciada como o melhor remédio contra dores, gripes, resfriados e febres.
Com o tempo, novas "utilidades" foram descobertas. A Aspirina atenuava as dores das mulheres no período menstrual, atuava contra a ressaca, a dor de dente e de ouvido, enxaquecas, nevralgias etc.
Ela foi um dos mais importantes remédios para aqueles que passaram pela "gripe espanhola", que devastou a Europa no início do século. Foi à Lua em 1969 e recebeu homenagens de diversos intelectuais do século, como o filósofo espanhol José Ortega y Gasset, que chamou o século 20 de "era da Aspirina" e a definiu como "um dos maiores triunfos da humanidade", ou o escritor brasileiro João Cabral de Melo Neto, que chegou a fazer um poema sobre o comprimido.
Mas, agora, ao entrar em seu segundo século de história, a imagem da Aspirina deve mudar, segundo Milton Lapchik, o infectologista e clínico geral da Bayer, fabricante do medicamento.
Seu primeiro século foi marcado pelo combate a dor -embora apenas temporário, já que a medicina ainda não descobriu nada que elimine a enxaqueca, por exemplo. Mas seu segundo século deverá ser marcado pelo caráter preventivo.
Sua eficácia na prevenção a infartos, reincidências de infartos e derrames em homens já foi comprovada em diversas pesquisas e até reconhecida pelo FDA, o órgão do governo norte-americano que regulariza os medicamentos.
Agora, 12 mil pesquisadores da Bayer na Europa estão desenvolvendo novos estudos para descobrir novas utilidades. De acordo com Lapchik, já vem sendo também comprovada sua eficácia na prevenção ao câncer de cólon de útero e de próstata.
A Sociedade Americana do Câncer já informou que é 50% menor o risco de morrer de câncer de cólon para quem toma Aspirina 16 vezes ao mês ou mais (não há contra-indicações para o adulto que toma até seis comprimidos por dia).
"E as últimas pesquisas se referem à herpes zoster, que provoca uma dor intensa e lesões parecidas com bolhas na pele. Para combatê-la, está sendo estudado o uso tópico da Aspirina, em um preparado com outras substâncias em forma de creme", diz Lapchik.
(ALESSANDRA BLANCO)


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