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BALANÇO DO SÉCULO
Comprimido desbancou computador e avião na eleição norte-americana das criações indispensáveis
Aspirina é eleita a 4ª melhor invenção
da Reportagem Local
Uma pesquisa realizada pela revista "Newsweek" há cinco anos
pedia aos norte-americanos que
enumerassem, entre as invenções
dos últimos cem anos, aquelas que
consideravam indispensáveis às
suas vidas. As mais votadas foram,
nesta ordem, a televisão, o telefone, o automóvel e a Aspirina.
Nas vésperas de completar os
seus cem anos -o que acontece no
próximo sábado, 6 de março-
não é difícil de entender a inclusão
da Aspirina nesta lista no lugar de
outras tantas invenções como o
computador, o avião ou até a pílula
anticoncepcional, por exemplo.
Há um século, quando o químico
Félix Hoffman conseguiu sintetizar pela primeira vez, de forma pura e estável, o ácido acetilsalicílico
-que dois anos depois viraria a
Aspirina- para tentar acalmar as
dores do pai, vítima de reumatismo, a dor e a febre eram consideradas os grandes males do mundo.
O ópio era o único analgésico conhecido e os pesquisadores procuravam desesperadamente um remédio que pudesse se tornar barato e popular para diminuir a dor.
Hoje, com o título de "medicamento mais vendido do mundo",
devidamente registrado no "Guinness Book", o livro dos recordes, a
Aspirina tem um consumo anual
de 12 bilhões de comprimidos e
concorre com outras 150 marcas
de analgésicos diferentes.
Quantidade, porém, ainda não é
o seu maior triunfo. Sua primeira
utilização foi para combater as dores do reumatismo, mas, assim que
lançada, a pílula já foi anunciada
como o melhor remédio contra
dores, gripes, resfriados e febres.
Com o tempo, novas "utilidades"
foram descobertas. A Aspirina atenuava as dores das mulheres no
período menstrual, atuava contra
a ressaca, a dor de dente e de ouvido, enxaquecas, nevralgias etc.
Ela foi um dos mais importantes
remédios para aqueles que passaram pela "gripe espanhola", que
devastou a Europa no início do século. Foi à Lua em 1969 e recebeu
homenagens de diversos intelectuais do século, como o filósofo espanhol José Ortega y Gasset, que
chamou o século 20 de "era da Aspirina" e a definiu como "um dos
maiores triunfos da humanidade",
ou o escritor brasileiro João Cabral
de Melo Neto, que chegou a fazer
um poema sobre o comprimido.
Mas, agora, ao entrar em seu segundo século de história, a imagem da Aspirina deve mudar, segundo Milton Lapchik, o infectologista e clínico geral da Bayer, fabricante do medicamento.
Seu primeiro século foi marcado
pelo combate a dor -embora apenas temporário, já que a medicina
ainda não descobriu nada que elimine a enxaqueca, por exemplo.
Mas seu segundo século deverá ser
marcado pelo caráter preventivo.
Sua eficácia na prevenção a infartos, reincidências de infartos e derrames em homens já foi comprovada em diversas pesquisas e até
reconhecida pelo FDA, o órgão do
governo norte-americano que regulariza os medicamentos.
Agora, 12 mil pesquisadores da
Bayer na Europa estão desenvolvendo novos estudos para descobrir novas utilidades. De acordo
com Lapchik, já vem sendo também comprovada sua eficácia na
prevenção ao câncer de cólon de
útero e de próstata.
A Sociedade Americana do Câncer já informou que é 50% menor o
risco de morrer de câncer de cólon
para quem toma Aspirina 16 vezes
ao mês ou mais (não há contra-indicações para o adulto que toma
até seis comprimidos por dia).
"E as últimas pesquisas se referem à herpes zoster, que provoca
uma dor intensa e lesões parecidas
com bolhas na pele. Para combatê-la, está sendo estudado o uso tópico da Aspirina, em um preparado
com outras substâncias em forma
de creme", diz Lapchik.
(ALESSANDRA BLANCO)
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