São Paulo, Domingo, 28 de Fevereiro de 1999
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SAÚDE
Árvores mortas represaram água em riachos no tempo da seca
Área incendiada em Roraima tem o dobro de casos de malária


LUÍS INDRIUNAS
da Agência Folha, em Belém

Mucajaí, um dos municípios mais atingido pelo incêndio em Roraima no ano passado, passa agora por outro problema. Nos dois primeiros meses deste ano, o número de casos de malária chega a mais que o dobro dos registrados no primeiro trimestre de 1998.
Entre janeiro e março do ano passado, Mucajaí registrou 600 pessoas com malária. Este ano foram diagnosticados 1.232 infectados. No Estado, os números chegam a 3.200 casos nos dois primeiros meses do ano, contra 2.300 casos nos três primeiros meses de 98 -um aumento de cerca de 40%.
Uma das causas do crescimento seria consequência do incêndio que destruiu cerca de 13 mil km2 de floresta primária no ano passado, segundo levantamento do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia).
O gerente-técnico de malária da FNS (Fundação Nacional de Saúde) em Roraima, James Rodrigues de Souza, disse que o incêndio provocou a derrubada de várias árvores cujos troncos acabaram no leito dos igarapés (pequenos rios).
"Com as chuvas, as árvores mortas represaram as águas, formando criadouros de mosquitos transmissores."
As pessoas mais atingidas são colonos, assentados e sem-terra que vivem no município em áreas recentemente devastadas. Além do assentamento do Apiaú, área castigada pelo incêndio, 4.000 famílias formaram vilas na região.
Esses índices preocupam os órgãos de saúde de Roraima, já que o Estado vinha desde 1995 diminuindo a incidência de malária. Naquele ano, foram cerca de 40 mil casos; no ano seguinte, 35 mil; em 1997, 30 mil, e em 98, 21 mil.
O coordenador estadual da FNS, Hiran Gonçalves, no entanto, acredita que o índice pode ainda abaixar. "Nós aumentamos o número de laboratórios e, em Mucajaí, colocamos mais 40 pessoas para trabalhar." Gonçalves lembrou ainda que foram feitos convênios com os 15 municípios do Estado para agilizar o atendimento.
Outra área que preocupa a FNS é a reserva ianomâmi. Enquanto pessoas de assentamentos e invasões representam cerca de 35% dos casos de malária, os índios ianomâmi representam cerca de 40% dos infectados. "Eles acabam sendo infectados por causa das suas viagens pela reserva no Brasil e na Venezuela", disse Gonçalves. As chuvas têm sido constantes no Estado este ano, ao contrário de 98.
Segundo o pesquisador do Inpa, Reinaldo Imbrózio Barbosa, entre setembro de 97 e março de 98, praticamente não houve chuva.
Este ano, chove pelo menos uma vez por semana. Assim, o risco de incêndio é menor.


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