São Paulo, quarta-feira, 28 de março de 2001

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URBANIDADE

Ronda aérea contra o crime

GILBERTO DIMENSTEIN
DO CONSELHO EDITORIAL

Antigamente, nos bairros residenciais da cidade de São Paulo, os vigias andavam a pé, munidos só de um apito; a maioria deles nem sequer carregava um revólver. Depois, armados, passaram a circular em carros com sistemas de comunicação conectados aos sensores das casas.
Num sinal de derrota da segurança pública, as empresas de vigilância sofisticaram ainda mais seus serviços e já oferecem rondas aéreas -até mesmo para residências particulares.
"É um mercado em expansão", aposta Jefferson Simões, presidente da Federação Nacional das Empresas de Segurança Privada.
A ronda de helicópteros começou a ser contratada quase exclusivamente por bancos, vítimas da ação de quadrilhas organizadas. A vantagem do sistema é que, uma vez acionado, permite localizar rapidamente a rota de fuga dos assaltantes e avisar a polícia. É quase impossível escapar do campo de visão do helicóptero.
Entusiasmados com o serviço, 600 empresários e altos executivos já decidiram proteger suas casas com a ronda aérea, dispostos a pagar R$ 130 mensais e mais R$ 700 para a instalação de um alarme desse tipo.
A pessoa que deseja mais segurança tem à disposição, além da ofensiva por ar, a investida terrestre: enviam-se, ao mesmo tempo, o helicóptero e as viaturas.
O próximo passo das empresas de ronda aérea -por enquanto, só três em São Paulo- é ampliar o mercado e atrair a classe média. A julgar pelo trauma do paulistano, a meta não é despropositada e corre o risco de gerar uma espécie de rodízio aéreo: em determinados horários, as rotas de helicópteros já estão congestionadas.
Impensável até há pouco tempo serem vendidos a profissionais liberais automóveis blindados, então de uso exclusivo do presidente da República e de uns poucos governadores. Tais veículos tornaram-se objeto de desejo de grandes empresários e, depois, de executivos, chegando à classe média.
Já são tantos os carros blindados que surge um mercado de usados: a blindagem vai perdendo valor à medida que os delinquentes adquirem armas mais modernas. O acesso, mesmo aos blindados velhos, está distante da maioria dos brasileiros: um carro nacional, de 1993, vai custar, pelo menos, R$ 35 mil.
No ar, helicópteros; em terra, blindados. A cidade mais parece um campo de batalha.

E-mail: gdimen@uol.com.br


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