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São Paulo, sexta-feira, 28 de março de 2003

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SEGURANÇA

Após deixar SP, em um monomotor, traficante teve de passar por Brasília; em Alagoas, permanecerá 40 dias

Governo transfere Beira-Mar para Maceió

Sérgio Lima/Folha Imagem
Em Brasília, Fernandinho Beira-Mar (centro) é levado por agentes da PF para o embarque para Maceió


FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MACEIÓ
CRISTIANO MACHADO
FREE-LANCE PARA A AGÊNCIA FOLHA, EM PRESIDENTE PRUDENTE

Numa operação da Polícia Federal que durou cerca de 11 horas e envolveu helicópteros e um avião monomotor, o traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, 35, foi transferido ontem do presídio de segurança máxima de Presidente Bernardes (SP) para a carceragem da Superintendência da PF em Maceió (AL). Beira-Mar deixou o interior paulista às 8h e pousou em Alagoas por volta das 17h45.
O traficante carioca, um dos líderes da facção criminosa CV (Comando Vermelho), permaneceu 29 dias em uma cela isolada do CRP (Centro de Readaptação Penitenciária) de Presidente Bernardes. O prazo estipulado pelo governo de São Paulo para a sua permanência venceria hoje.
Ao explicar a opção por Maceió, o ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça) disse que a Superintendência da Polícia Federal de Alagoas é a mais bem equipada depois da regional de São Paulo.
O advogado de Beira-Mar, Lydio da Hora, disse que a transferência do cliente "foi arbitrária".
O traficante chegou a São Paulo depois de um acordo firmado entre o ministro da Justiça e os governadores Geraldo Alckmin (SP) e Rosinha Matheus (RJ).
Beira-Mar deve permanecer em Alagoas por pelo menos 40 dias, até que as obras na penitenciária de Teresina (PI) sejam concluídas. O presídio será o primeiro do país a ser federalizado.
O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva tratou das negociações da transferência com o governador de Alagoas, Ronaldo Lessa (PSB). Houve duas conversas por telefone. Ontem à tarde, Lula telefonou mais uma vez para Lessa para agradecer-lhe.
À noite, Lula criticou, em Campo Grande (MS), os governadores que relutam para não receber Beira-Mar em seus Estados. "No Brasil, temos um problema cultural. Todo mundo quer ver pontos de ônibus nas ruas, mas ninguém quer ter um ponto de ônibus na frente de casa. Todo mundo quer que os bandidos sejam presos, mas ninguém quer receber um", disse, na abertura de uma feira agropecuária no Estado.
Entre os presentes estava o governador de Mato Grosso do Sul, José Orcílio Miranda dos Santos, o Zeca do PT, que anteontem, em Brasília, pediu a Lula que o traficante não fosse para o seu Estado.

Prioridade
Lessa afirmou que, por ter aceito Beira-Mar, Alagoas terá "prioridade" no programa de segurança pública da União. "Mas ninguém recebe isso [Beira-Mar" como um presente. Sem dúvida é um peso e um problema."
Thomas Bastos agradeceu a cooperação de Lessa e disse que o povo de Alagoas pode ficar tranquilo. "Alagoas foi uma das opções que nós tivemos, e pretendemos colaborar com o governador, manifestando nossa gratidão."
O traficante desembarcou em Maceió sob fortes protestos dos alagoanos. As rádios locais abriram sua programação para expor o temor da população e os senadores do Estado -Heloísa Helena (PT), Renan Calheiros (PMDB) e Teotônio Vilela (PSDB)- criticaram a medida.
No aeroporto, cerca de 200 pessoas se aglomeraram para ver a chegada do traficante -que teve a cobertura de soldados da Aeronáutica, policiais militares e federais. Ele foi levado à superintendência em um helicóptero da PF.
Beira-Mar ficará preso na nova sede da PF, inaugurada há dois anos. A PF alagoana conta com um efetivo de 120 homens, mas receberá outros 60 a partir de hoje. O reforço permanecerá até que o traficante deixe o Estado.
Em Presidente Bernardes, a operação coordenada pelo Comando de Operações Táticas da PF, com 22 homens, teve início por volta das 7h. Às 7h35, Beira-Mar entrou algemado em um helicóptero da PF e foi levado ao aeroporto de Presidente Prudente (a 20 km do local). Deixou a cidade às 8h, em um avião monomotor Cessna Caravan da PF.
Por volta das 11h20, o monomotor aterrissou em Brasília (DF), onde ficou 40 minutos para reabastecer. Nesse intervalo, algemado, Beira-Mar ficou em uma sala. O Cessna Caravan deixou o Distrito Federal às 12h, pousando em Maceió cerca de seis horas depois.
O advogado de Beira-Mar disse que a transferência feriu a Lei de Execução Penal porque foi feita sem a autorização de um juiz de execuções penais.

Colaboraram GILVAN FERREIRA, free-lance para a Agência Folha, em Maceió, Agência Folha, em Campo Grande, e sucursais do Rio e de Brasília


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