São Paulo, domingo, 28 de março de 2004

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EDUCAÇÃO

Sem tempo para acompanhar e orientar os filhos nos trabalhos escolares, pais delegam a função a profissionais

"Pai terceirizado" ajuda criança a estudar

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

A terceirização de serviços, que invadiu o mundo dos negócios e ganhou força na década de 90 no Brasil, começa a crescer no campo familiar. Escolas de ensino fundamental vêm percebendo que, com menos tempo (ou paciência) para dar atenção aos filhos na hora de acompanhar a vida escolar, pais têm delegado algumas funções a profissionais.
Os diretores do colégio particular Miraflores, em Niterói (cidade na região metropolitana do Rio), contam que se surpreenderam quando, no fim do ano passado, uma secretária se apresentou como assessora dos pais em uma reunião realizada na escola para tratar de problemas de aprendizado de uma criança.
Caso parecido aconteceu na escola Lourenço Castanho, no bairro da Vila Nova Conceição (zona sul de São Paulo), na quinta-feira passada. Uma das diretoras da escola, Jeannette de Vivo, afirma que uma babá compareceu a uma reunião marcada com os pais de um aluno com o objetivo de explicar como a escola estava alfabetizando as crianças.
Ela conta que, em vez de condenar os pais, preferiu incluir a babá no grupo, pois a escola já percebera que, por falta de tempo da família, era ela quem mais ajudava a criança com os deveres de casa.

Empresa
A demanda por esse tipo de profissional fez até com que a ex-gerente de marketing Cláudia Parnes abrisse no Rio uma empresa de profissionais que se propõem a fazer a função de mãe. As "mães de plantão", como ela batizou o serviço, vão à casa do aluno para ajudá-lo a fazer os deveres e a organizar sua vida escolar.
Em São Paulo, a professora Úrsula Brech, que há 15 anos orienta estudantes com dificuldade de aprendizado, diz que, ultimamente, tem recebido pedidos de pais e mães para atender também crianças cujos pais não têm tempo para acompanhá-las.
Parnes, mãe de quatro filhos, iniciou em 2002 o serviço de "mães de plantão". No início, ela era a única. Hoje, já são oito.
"Como mãe, sempre senti falta de alguém que me ajudasse com os deveres escolares de meus filhos. Chegava em casa cansada e, na hora que eles queriam me contar alguma coisa legal, tinha que brigar com eles", disse.
Ela explica que a função de uma "mãe de plantão" é mais ampla do que a de um professor particular. "A idéia é acompanhá-lo no local onde estuda para vermos se está adequado, se o horário é o melhor e se ele não está sobrecarregado com outras atividades. Além de ajudar com os deveres, checamos a agenda do aluno para ver as datas das provas e ajudá-lo a se programar para estudar. Também conversamos com os pais e sugerimos mudanças", afirmou.


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