São Paulo, domingo, 28 de março de 2004

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Contratação de profissionais para substituir pais em algumas funções na formação dos filhos deve respeitar limites

Educadores alertam para risco de exageros

Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem
Thiago estuda com a "mãe de plantão' Conceição Barbosa Lima enquanto a mãe, Cinthya Graber, resolve problemas pelo telefone


DA SUCURSAL DO RIO

Se, de um lado, pais elogiam o serviço de profissionais contratados para substitui-los em algumas tarefas, de outro especialistas alertam para o risco de exageros.
A produtora cultural Cinthya Graber contratou uma professora indicada pelo colégio de seu filho para ajudá-lo nos deveres escolares diariamente.
"Tenho amigos que chegam em casa às 22h e ainda têm que sentar para fazer o dever de casa com os filhos. Isso às vezes dá até briga. Acho que o dever tem que ser orientado por pessoas qualificadas para ajudar, e não por pais que não têm tempo. Prefiro melhorar a qualidade do tempo em que fico com meus filhos e não fazer dever em casa", disse Graber.
O empresário Alberto Guth chegou a uma "mãe de plantão" por meio de um cartão feito por Cláudia Parnes, que hoje trabalha com mais oito profissionais nesse serviço. Ele diz que seu filho ficou mais organizado depois das aulas.
"Depois que me divorciei, fiquei com menos tempo para acompanhar a rotina escolar dos meus filhos, algo que sempre gostei de fazer. Só me preocupo em não transformar essa ajuda numa muleta. Por isso, já combinei que as aulas vão diminuir gradativamente", afirmou.

Limites
Para diretores de escolas e especialistas na área de educação ouvidos pela Folha, a escolha de profissionais para desempenhar funções antes atribuídas aos pais não é, necessariamente, condenável, desde que a opção seja analisada caso a caso e que sejam respeitados alguns limites.
Joelcio Ribeiro, coordenador-pedagógico do colégio Miraflores, em Niterói (região metropolitana do Rio), diz que os pais não podem delegar tudo à escola em que o filho estuda ou a outras pessoas incumbidas da tarefa.
Ele afirma que a contratação de profissionais para ajudar a organizar a vida escolar do estudante pode ser eficiente em alguns casos, desde que os pais não deixem de demonstrar interesse na questão: "Não vai adiantar contratar professor particular se a família não se interessar em saber como o filho está na escola ou o que ele está achando das aulas".

Insegurança
Apesar de concordar que, em alguns casos, a terceirização de serviços pode ajudar, Ribeiro afirma que, muitas vezes, os pais contratam um profissional apenas por insegurança.
"Já vi vários pais que queriam contratar um professor particular quando, na verdade, o problema do filho era apenas de organização", disse Ribeiro
Jeanette De Vivo, da Escola Lourenço Castanho, em Vila Nova Conceição (zona sul de São Paulo), concorda que há limites para a terceirização, mas prefere não condenar indistintamente os pais de alunos.
"É muito fácil atirar pedra nos pais, mas a gente sabe que a maioria quer o melhor para o filho. Quando a família não tem tempo para dar a atenção que deseja à criança, às vezes é melhor deixar uma outra pessoa fazer alguns trabalhos, desde que esse profissional tenha qualificação para isso", disse De Vivo.
Para Silvia Amaral, psicopedagoga do Centro de Aprendizagem e Desenvolvimento, em São Paulo, os pais não devem se sentir culpados ao delegar algumas funções para outras pessoas.
"Exercer o papel de pai e mãe está sendo cada vez mais difícil, com a necessidade de trabalhar num cenário de dificuldade econômica. O que não pode é os pais abrirem mão completamente do seu papel. Se não podem ficar o tempo inteiro com o filho, é preciso que pelo menos dediquem algumas horas por semana", disse.


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