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GRAFITE TOMA DE ASSALTO A PAISAGEM DE SP, GANHA STATUS DE ARTE E SEDUZ JOVENS
Belezura subversiva
FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL
No caos visual de São Paulo, que
nenhuma operação Belezura
(projeto da prefeitura para limpar
muros e fachadas da cidade) parece dar conta, há um colorido anônimo, cheio de formas, que se revela entre a pichação extrema e a
multiplicação da publicidade.
Vandalismo para uns, arte urbana para outros, o grafite toma
de assalto a paisagem, subverte
tanto o cinza de São Paulo quanto
as letras ilegíveis espalhadas pelos
pichadores e incrementa o delírio
de imagens da cidade.
Em São Paulo, ele está por toda
parte, já seduziu muito jovem de
classe média a andar com sprays
na mochila e vem despontando
mundo afora como um dos melhores e mais criativos que há.
Alguns artistas são ufanistas e
avaliam os grafiteiros brasileiros
como os melhores do mundo.
Mais comedidos, dois especialistas ouvidos pela Folha concordam que os traços e as cores encontrados aqui sejam realmente
de vanguarda e afirmam que São
Paulo está entre os três principais
centros de produção de grafite do
mundo (leia texto nesta página).
Surpresa
O dono de uma banca de revistas na praça João Mendes, no centro da cidade, expressa bem o fator surpresa típico da prática do
grafite, nem sempre bem-vinda:
"Saí num domingo de manhã e
tudo estava normal. Quando voltei para a banca, à tarde, ela estava
toda grafitada com uma cabeça
gigante", conta ele, que não quis
revelar o nome, mas que assumiu:
"Gostei". Mas nem todo mundo
compartilha dessa opinião. "Acho
isso uma sujeirada", disse uma senhora que passava pelo local.
O desenho despertou inveja nos
donos das quatro outras bancas
da praça. "Achei genial. Queria
ver a minha assim também. Parece que a banca virou outra coisa,
um objeto de arte, algo assim", diz
Miguel Bizzerio, 53, dono de uma
das bancas vizinhas.
Os pivôs da ciumeira são Os Gêmeos, 30, dupla de grafiteiros das
mais conhecidas no Brasil e no exterior. Os irmãos chegam a passar
seis meses por ano fora do Brasil,
já expuseram em Nova York, São
Francisco, Paris, Lisboa, Sidney e
Berlim e já realizaram, a convite
do Comitê Olímpico Internacional, cinco grafites em diferentes
cidades da Grécia para as Olimpíadas de 2004 -sendo que um
deles tem 25 metros de altura.
"Somos mais valorizados no
Brasil pelo povão e, fora daqui,
pelo meio artístico", conta um deles. Para eles, grafite não é vandalismo. "A quantidade de grafite
que há na cidade só mostra o tipo
de cuidado e de controle que se
tem por aqui. É um retrato do que
é o nosso governo. Tudo está fora
de controle e a cidade está aí para
todo mundo usar", dizem eles,
que, quando estão em São Paulo,
saem uma vez por semana para
pintar e usam, a cada vez, 3,5 litros
de látex e dez latas de spray.
Difusão
De tão popular entre jovens, o
grafite é alvo de políticas de ONGs
e da Prefeitura de São Paulo. "O
grafite reproduz o problema de
linguagem que o jovem tem com
a sociedade. É ousado por parte
do governo reconhecer como arte
algo que foi tão perseguido pela
polícia. Já fizemos até cursos para
a Guarda Municipal explicando
as diferenças entre pichação e grafite", conta Alexandre Youssef, da
Coordenadoria da Juventude.
Para o grafiteiro Marllus, 23,
ainda assim, há muito preconceito em torno do grafite. "Se digo
para alguém que sou grafiteiro, a
pessoa já me olha estranho, não
tem jeito. Mas o grafite já está até
na publicidade", revela.
Antenada com o gosto jovem, o
canto da sereia da publicidade
chegou aos ouvidos dos grafiteiros e há estética de grafite em
campanhas da Nike, da Puma, do
Bank Boston, da Skol e da Ellus.
Há seis meses, os adeptos da
prática também ganharam uma
loja especializada na rua 24 de
Maio, no centro da cidade. "O forte da loja é a venda de sprays, mas
também vendo revistas, bicos de
spray e camisetas. Há um mercado", diz Ise, 25, dono da Grapixo.
A vertente mais radical dessa difusão são os tatuadores grafiteiros, que transportaram para o
corpo aquilo que já faziam nas fachadas da cidade. Chivitz, 27, é
um deles e afirma que há cada vez
mais pessoas interessadas em ter
traços de grafite na pele.
Mais comum no exterior, fazer
grafites em vagões de trem e do
metrô não é tão raro por aqui. Só
que é algo que ninguém vê.
Segundo a assessoria do Metrô
de São Paulo, pelo menos uma vez
a cada seis meses um vagão é pintado. Ele então é imediatamente
recolhido e só volta a circular
quando está limpo.
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