São Paulo, domingo, 28 de março de 2004

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SAÚDE

Mal de ovários policísticos, que tem origem endócrina e causa desconhecida, afeta 15% das mulheres em idade fértil

Síndrome leva a diabetes e hipertensão

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Atrasos menstruais, acne, obesidade, pêlos anormais no corpo (hirsutismo) e infertilidade. Esses podem ser alguns dos sinais de um distúrbio que afeta ao menos 15% das mulheres em idade reprodutiva, a SOP (síndrome dos ovários policísticos).
A causa do problema, de origem endócrina, ainda não está clara. Uma das hipóteses é que seja um defeito na ação da insulina, hormônio liberado pelo pâncreas. Produzida em doses maiores do que a habitual, ela se concentra em níveis elevados no sangue (hiperinsulinemia). Se não controlado, o problema leva à diabetes, ao aumento do colesterol e à hipertensão arterial. Também está relacionado ao câncer de endométrio.
Por isso, dizem os médicos, o tratamento da SOP deve começar na adolescência, dois anos após a primeira menstruação (menarca). Até esse período, a irregularidade menstrual ainda é normal.
Segundo o ginecologista Eduardo Motta, professor-adjunto da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), de 50% a 70% das mulheres com SOP têm hiperinsulinemia. Dessas, 30% terão diabetes no futuro e 10%, hipertensão arterial ou outras cardiopatias.
O tratamento vai depender dos sintomas apresentados pela mulher, mas, em geral, são usados anticoncepcionais (quando a gravidez não é desejada), drogas que diminuem os níveis de insulina e os antiandrogênicos. O controle da obesidade é fundamental.
Indicado pela Febrasgo (Federação Brasileira das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia) e pela AMB (Associação Médica Brasileira), o tratamento da SOP não é consenso entre os médicos.
O caso da estudante de psicologia Juliana Torres, 22, é exemplar. A menarca ocorreu aos 11 anos e desde então ela sempre teve irregularidade menstrual. Entre os 14 e os 15 anos, chegou a engordar 30 quilos. Também tinha pêlos no rosto e queda de cabelo.
Mesmo com todos os sintomas da SOP, ela passou por quatro ginecologistas e um endocrinologista e nenhum deles soube fazer um diagnóstico correto. "Diziam que a menstruação um dia iria se normalizar e que eu deveria fechar a boca para emagrecer."
Aos 17 anos, porém, quando estava prestes a fazer uma cirurgia para retirar um cisto de 8 cm no ovário, uma ginecologista descobriu que a SOP estava associada à hiperinsulinemia.
Para o presidente da Febrasgo, Edmundo Baracat, todos os ginecologistas devem seguir o que a federação e a AMB preconizam. "Não é por falta de informação. As diretrizes estão no site da federação e devem ser seguidas."
Mesmo sendo a SOP a maior causa de falta de ovulação -responde por 80% dos casos-, o diagnóstico é feito através da exclusão de outros fatores que também causam irregularidade menstrual, como a hiperprolactinemia e os distúrbios da tireóide, afirma a médica Cláudia Gazzo, do Hospital do Servidor Estadual.
A presença de cistos no ovário não é importante para o diagnóstico porque 25% das mulheres com esse achado não têm os sintomas da SOP e nem todas as mulheres com hiperandrogenismo têm cistos nos ovários.


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