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SAÚDE NA UTI
Comunidade de Acari marcou para quarta o ato na unidade Ronaldo Gazolla, que custou R$ 77 mi, mas está fechada
Moradores "abraçarão" hospital vazio no Rio
FABIANE LEITE
DA SUCURSAL DO RIO
Em meio ao "tiroteio" político
entre o governo Luiz Inácio Lula
da Silva (PT) e a administração
Cesar Maia (PFL) sobre a crise da
saúde do Rio de Janeiro, uma das
comunidades mais miseráveis da
cidade marcou um "abraço" para
a próxima quarta-feira.
"Boeing", "shopping da saúde",
"novo Souza Aguiar" (em referência a um dos maiores hospitais
da cidade), assim é chamado o
hospital municipal Ronaldo Gazolla, de 378 leitos e R$ 77 milhões, maior investimento da gestão Maia em obras e serviços de
saúde desde 2000, mas que está fechado por causa do vazio de equipamentos e médicos.
A unidade será enlaçada pelos
moradores de Acari, zona norte
do Rio, que, após dez anos de reivindicações, e diante do impasse
entre os dois governos, vêem cada
vez mais longe a possibilidade de
a unidade abrir as portas.
O Ministério da Saúde, que financia as internações, diz não ver
necessidade de mais leitos na cidade, e sim de postos de saúde. A
relação hoje de leitos do SUS por
habitante -sem contar os pagos
pelo setor privado- é 2,8, índice
acima do recomendado em estudo sobre o assunto da pasta (2,7),
que determina que devem ser
consideradas também vagas financiadas pela iniciativa privada.
A prefeitura aponta "vazio sanitário" na região, principalmente
em cidades da Baixada Fluminense, onde diz haver déficit de 8.000
leitos. Mas construiu a unidade
sem ter dinheiro para seu custeio,
segundo fiscalização do Conselho
Municipal da Saúde, órgão independente vinculado à secretaria.
Decreto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou há
duas semanas que a prefeitura
deixe de gerir R$ 780 milhões em
verbas federais da saúde pública,
além de intervenção federal em
seis hospitais municipais que, na
avaliação do ministério, foram
sucateados pela gestão de Cesar
Maia (reeleito no 1º turno e pré-candidato à Presidência em 2006).
Desde então, as relações entre os
governos se acirraram -e pioraram ainda mais o debate sobre o
hospital gigante da zona norte.
"Como é que se constrói em
uma cidade com a maior oferta de
leitos SUS por habitante?", diz o
secretário de Atenção à Saúde do
ministério, Jorge Solla. "Não há
nada igual há 50 anos no serviço
público brasileiro", responde Ronaldo Cezar Coelho, secretário da
Saúde do Rio, sobre a obra.
Os investimentos em obras da
gestão Maia não param em Acari.
Desde 2000, ele aplicou R$ 31 milhões em ampliação de serviços,
construção de duas maternidades
e uma casa de parto. A maioria
das unidades não está pronta.
Maia não cumpriu promessa de
campanha de entregar o hospital
em Acari até o fim de 2004. Coelho diz que todos os atrasos de
obras devem-se ao déficit de R$
200 milhões no repasse da União.
Sobre as críticas à obra, o secretário afirma que "isso é uma estupidez". Ele sugere a criação de
"um fundo metropolitano" para
financiar a unidade, uma vez que
outras cidades a utilizarão.
Segundo o diretor do Conselho
Municipal de Saúde, Adelson Alípio, o órgão não aprovou a obra
há dois anos por faltar condição
operacional. Segundo ele, há estimativa de que serão necessários
3.200 servidores para ativar a unidade. A região é dominada pelo
tráfico de drogas e ele vê dificuldades para obter profissionais.
Com quase 50 anos de militância na comunidade da região, Marilza Terezinha Nogueira Fialho,
66, diz que nunca viu a saúde "tão
deficitária". A casa dela virou um
posto de "pedidos de ajuda" enquanto perdura o "vazio sanitário". Na sexta, ela atendeu a uma
mulher que precisava de tratamento de câncer e, com a ajuda de
conhecidos, conseguiu exames.
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