São Paulo, terça-feira, 28 de março de 2006

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PERNAMBUCO

Polícia Civil, responsável pelo instituto, está em greve; local pode conservar 33 cadáveres, mas estava com 65

Estado intervém, e PM libera corpos no IML

MARCO BAHE
COLABORAÇÃO PARA A AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

JOSÉ EDUARDO RONDON
DA AGÊNCIA FOLHA

A sede do IML (Instituto de Medicina Legal) de Pernambuco, em Recife, foi ocupada por 50 homens da Companhia Independente de Operações Especiais da Polícia Militar do Estado, na madrugada de ontem.
Encapuzados, os PMs chegaram em veículos blindados para cumprir uma ordem do governador Jarbas Vasconcelos (PMDB) de liberar os corpos retidos por legistas do instituto.
Sessenta e cinco corpos de vítimas de homicídios e acidentes estavam acumulados no IML, que tem capacidade para manter conservados apenas 33.
Os policiais civis, responsáveis pelo IML, estão em greve desde a semana passada. Apenas 14 corpos de vítimas de morte violenta estavam sendo liberados por dia; a média é de 20.
Parentes das vítimas faziam vigília na porta do IML à espera dos corpos. "Meu sobrinho morreu atropelado há quatro dias. Queremos enterrar o menino e não conseguimos", declarou Francisco Graciliano Gomes, 54.
Após determinar a ocupação do IML, o governador deu uma declaração a uma rádio local chamando os grevistas de terroristas.
"É uma coisa inadmissível, negociar com corpos, com cadáveres. Eles [os grevistas] são piores que terroristas, pois esses, quando matam, ainda devolvem os corpos", disse Vasconcelos, que requereu legistas da PM e do Exército para liberar os corpos.
De acordo com o presidente da Associação Pernambucana de Medicina e Odontologia Legal, Cleidenaldo Santos, o governador violentou o estado de direito ao determinar a intervenção. "Tanto bandido solto por aí, eles [policiais militares] deveriam estar prendendo bandido", afirmou.
No final da tarde, grevistas e governo entraram em acordo. A PM desocupou as dependências do IML sob o compromisso de que fossem liberados 20 corpos por dia, mesmo durante a paralisação.

Delegados
Delegados de Pernambuco aderiram à greve da Polícia Civil, iniciada na terça-feira da semana passada. Segundo o Sinpol (Sindicato dos Policiais Civis) do Estado, apenas quatro plantões estão funcionando em Recife para o registro de flagrantes.
A adesão dos delegados ocorreu na sexta-feira, após uma assembléia da categoria. Na manhã de ontem, os grevistas realizaram uma passeata pelas ruas de Recife até o Palácio do Governo.
O vice-presidente do Sinpol, Nilson Alves, estimou em cerca de 2.000 os manifestantes presentes no ato, entre agentes, peritos, delegados e escrivães.
A classe reivindica alterações no projeto de PCCV (Plano de Cargos, Carreiras e Vencimentos) que tramitava na Assembléia Legislativa do Estado.
Conforme uma estimativa do Sindiserpe (Sindicato dos Servidores Públicos de Pernambuco), 25 mil trabalhadores ligados ao sindicato permanecem em greve desde a quinta-feira.
A Secretaria da Administração, por meio de sua assessoria de imprensa, declarou não haver um número oficial de servidores em greve e disse que os grevistas atuam em funções administrativas do governo do Estado.


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