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Sobram vagas de residência de cirurgia cardiovascular
Das 321 vagas oferecidas em 2008 no país, apenas 53 foram preenchidas, segundo dados apurados pela associação da área
Baixos salários e formação longa são algumas das hipóteses para a queda do interesse dos estudantes pela especialização na área
MÁRCIO PINHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Tradicionalmente considerada especialidade nobre e responsável por salvar muitas vidas, a cirurgia cardiovascular já
não é a menina dos olhos dos
estudantes de medicina. Dados
nacionais de 2008 mostram
que, das 321 vagas de residência
na especialidade oferecidas pelo governo no país, apenas 53
estavam preenchidas.
O levantamento feito pela
Associação Brasileira dos Residentes de Cirurgia Cardiovascular mostra que a procura não
atinge seu total nem sequer em
importantes centros hospitalares. No Hospital das Clínicas da
USP de Ribeirão Preto havia
apenas um residente para 12
vagas oferecidas.
Responsável por cirurgias,
colocação de marcapasso e outros exames, o cirurgião cardiovascular perde espaço hoje para especialidades mais "atrativas" como dermatologia, em
que há 32 candidatos por vaga
de residência.
"A baixa procura está relacionada a uma formação longa e
deficiente, contribuindo também para este problema um
mercado de trabalho repleto de
oportunidades ruins", diz Anderson Dietrich, presidente da
Associação dos Residentes em
Cirurgia Cardiovascular.
Entre essas "oportunidades
ruins" estão os baixos salários.
Um cirurgião cardiovascular
pode começar ganhando até R$
2.500, segundo Gilberto Barbosa, presidente da SBCCV (Sociedade Brasileira de Cirurgia
Cardiovascular).
Ele afirma que a queda da
procura pela profissão é um fenômeno mundial, ligado em
parte à diminuição das operações. "As cirurgias de coronária, por exemplo, diminuíram
70% em razão dos avanços que
possibilitaram dilatar as coronárias e colocar stents [espécie
de tubo inserido na artéria para
impedir o seu entupimento]."
A baixa remuneração acontece também em razão de as operações requererem a presença
de equipes grandes.
Há ainda a formação longa:
são seis anos de residência, sendo dois em cirurgia geral e quatro em cirurgia cardiovascular.
Muitos acabam escolhendo
carreiras em que possam começar a receber antes.
Outros acabam optando pela
obtenção de título da SBCCV, o
que pode ocorrer após quatro
anos de treinamento e o cumprimento de uma série de requisitos, como número mínimo
de cirurgias realizadas.
A sociedade estima que 20%
a mais de cirurgiões se formam
hoje por essa via em detrimento da residência.
Falta
A preocupação que surge
com os dados da associação é a
possível falta de cirurgião cardiovascular no país. Para Gilberto Barbosa, o certo é incentivar a escolha pela especialidade, principalmente das estudantes de medicina, que costumam não escolhê-la. "Em 15
anos haverá falta de cirurgião
cardiovascular, já que vivemos
em um país com uma população cada vez mais idosa."
Já Anderson Dietrich diz que
as vagas ociosas oferecidas pelo
MEC hoje poderiam ser redirecionadas, pois incentivar mais
profissionais na área seria criar
uma reserva de mercado, contribuindo ainda mais para os
baixos salários da carreira.
Segundo o diretor de Hospitais Universitários e Residências em Saúde da SESu (Secretaria de Educação Superior), do
MEC, José Rubens Rebelatto,
"estão em estudo na secretaria,
em conjunto com a Comissão
Nacional de Residência Médica, algumas ações para a reformulação das residências médicas com o objetivo de garantir
um melhor aproveitamento
dos recursos e a otimização da
ocupação das bolsas".
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