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PMs do Rio fraudam curso para ganhar R$ 400 de bolsa
Policial paga primeira parcela da bolsa para colega fazer o curso à distância no seu lugar; justificativa é falta de tempo
Fraude acontece em bolsa dada pelo Pronasci, programa federal que tem como meta estimular o profissional de segurança a se aperfeiçoar
RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO
Policiais militares do Rio
descobriram uma maneira de
receber os R$ 400 mensais da
Bolsa Formação do Pronasci
(programa de segurança do governo federal) sem precisar fazer os cursos de qualificação
exigidos para obter o benefício.
Como são aulas à distância, feitas pelo computador, policiais
pagam a colegas para fazer o
curso obrigatório em seu lugar.
A inscrição no programa é
feita por meio de um cadastro
na página do Ministério da Justiça. Na fraude, o policial repassa a senha ao colega -que efetivamente faz o curso- e passa a
receber R$ 4.800 anuais. No
Rio, o salário base de um soldado PM é de R$ 909,49. A gratificação do Pronasci corresponde,
portanto, a 44% do total recebido pelo policial no ano (sem
contar o 13º salário).
Em troca, o aluno de fato fica
com o primeiro dos 12 meses de
pagamento recebidos pelo policial que falta às aulas. Por vezes,
as 60 horas-aula saem até por
menos, R$ 100 ou R$ 200, dependendo da amizade.
Com isso, um mesmo policial
militar pode fazer as aulas para
vários colegas e complementar
a sua renda.
Ao menos três policiais militares do Rio relataram ter feito
a prática irregular à Folha. De
acordo com os PMs ouvidos, a
prática é disseminada na corporação. Eles justificaram a
burla com naturalidade, citando a falta de tempo para ficar
diante do computador para fazer o curso.
O Pronasci é um programa
do Ministério da Justiça com o
objetivo de estimular o profissional de segurança a se aperfeiçoar. Os gastos previstos para o projeto em 2009 são de
R$ 750 milhões. Com o curso, o
agente se torna um especialista
na área em que foi treinado.
Os três requisitos para o profissional participar da Bolsa
Formação são receber salário
bruto abaixo de R$ 1.700; "não
ter cometido nem ter sido condenado pela prática de infração
administrativa grave ou não
possuir condenação penal nos
últimos cinco anos"; "realizar
cursos de formação e educação
continuada habilitados pelo
Ministério da Justiça".
Segundo dados do Ministério
da Justiça, o Estado do Rio tem
22.834 agentes vinculados ao
programa, 21% do total de 109
mil participantes no país. Também por causa dos baixos salários, é um dos Estados com o
maior número de beneficiários
do projeto no país.
Com o certificado, eles ficam
teoricamente habilitados a empreender atividades como
identificação veicular, policiamento comunitário, mediação
de conflitos, atuação policial
frente aos grupos vulneráveis e
segurança pública sem homofobia, por exemplo.
No site do Ministério da Justiça, um item explica que "as
informações do cadastramento
são de exclusiva responsabilidade do profissional e a veracidade das informações são imprescindíveis para o recebimento do benefício".
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