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Camelô do Rio vende até máquina soviética
Na capital nacional dos ambulantes, é possível comprar no mesmo local um medidor de pressão e uma raquete que mata mosquito a choque
Segundo dados oficiais, são 19 mil camelôs, que vêm perdendo pontos estratégicos na cidade devido ao Choque de Ordem da prefeitura
AUDREY FURLANETO
DA SUCURSAL DO RIO
Um disco do Ataulfo Alves
(R$ 15), um porta-retrato com
foto de Reynaldo Gianecchini e
Marília Gabriela (R$ 10), uma
escova de cabelo (R$ 3), uma
bola de futebol (R$ 20), um medidor de pressão (R$ 40) e uma
máquina fotográfica "made in
URSS" (R$ 45).
Estão assim dispostos os produtos de um camelô carioca na
Glória, na zona sul do Rio. Ao
lado dele, outra barraca vende
um brinco de pérola (apenas
um, não o par), uma caixinha de
música, um pires (sem xícara) e
fotos dos anos 50, 60 e 70 (retiradas de álbuns de pessoas comuns, a R$ 1 cada uma).
O camelô estilo mercado de
pulgas, frequente no bairro, está fora do número oficial da
prefeitura, que dá ao Rio o posto de capital nacional dos ambulantes: são 19 mil camelôs cariocas -e 2.424 em São Paulo
ou 15 mil em Salvador, segundo
as respectivas prefeituras.
O sindicato do "segmento"
em São Paulo, no entanto, estica o número oficial: estima que
a cidade tenha 80 mil camelôs.
No Rio, a presidente do Sindicato do Comércio Ambulante,
Elvira da Conceição, diz que
"por cima" são 100 mil, "incluindo vendedores de areia: os
que trabalham com canga etc."
"Você não vê, de fato, tantos
camelôs na avenida Paulista
quanto vê na avenida Rio Branco [no centro do Rio]," avalia
Fernando de Holanda Barbosa
Filho, professor de economia e
pesquisador da Fundação Getulio Vargas no Rio. "Mas, se
você for a São Paulo ou ao Rio e
estiver chovendo, vai ter gente
vendendo guarda-chuva, por
exemplo", completa.
Além dos guarda-chuvas, não
faltam em ambas as capitais os
eletrônicos do momento (como
a raquete de matar mosquitos a
choque) que, no Rio, dividem
espaço com quinquilharias antigas e "miudezas em geral".
"Aê, é o brinquedo do momento!", anuncia o ambulante
Carlos Miranda, 42, diante de
uma bacia cheia d'água onde
"nadam" bichinhos de plástico,
no meio do Saara, camelódromo na região central do Rio (a
rua 25 de Março carioca).
Fora do camelódromo, o ambulante carioca perdeu parte da
ginga: o Choque de Ordem da
prefeitura impediu a presença
em pontos estratégicos, como a
av. Nossa Sra. de Copacabana,
uma das maiores do bairro.
Agora, eles são obrigados a
fugir para as ruas transversais
-mas deixam na esquina da
avenida principal seus "publicitários". "Vai bolsa? Vai bolsa? É
só entrar aqui!", diz um homem, apontando para a barraca do camelô na rua lateral.
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