São Paulo, domingo, 28 de março de 2010

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Camelô do Rio vende até máquina soviética

Na capital nacional dos ambulantes, é possível comprar no mesmo local um medidor de pressão e uma raquete que mata mosquito a choque

Segundo dados oficiais, são 19 mil camelôs, que vêm perdendo pontos estratégicos na cidade devido ao Choque de Ordem da prefeitura

AUDREY FURLANETO
DA SUCURSAL DO RIO

Um disco do Ataulfo Alves (R$ 15), um porta-retrato com foto de Reynaldo Gianecchini e Marília Gabriela (R$ 10), uma escova de cabelo (R$ 3), uma bola de futebol (R$ 20), um medidor de pressão (R$ 40) e uma máquina fotográfica "made in URSS" (R$ 45).
Estão assim dispostos os produtos de um camelô carioca na Glória, na zona sul do Rio. Ao lado dele, outra barraca vende um brinco de pérola (apenas um, não o par), uma caixinha de música, um pires (sem xícara) e fotos dos anos 50, 60 e 70 (retiradas de álbuns de pessoas comuns, a R$ 1 cada uma).
O camelô estilo mercado de pulgas, frequente no bairro, está fora do número oficial da prefeitura, que dá ao Rio o posto de capital nacional dos ambulantes: são 19 mil camelôs cariocas -e 2.424 em São Paulo ou 15 mil em Salvador, segundo as respectivas prefeituras.
O sindicato do "segmento" em São Paulo, no entanto, estica o número oficial: estima que a cidade tenha 80 mil camelôs. No Rio, a presidente do Sindicato do Comércio Ambulante, Elvira da Conceição, diz que "por cima" são 100 mil, "incluindo vendedores de areia: os que trabalham com canga etc."
"Você não vê, de fato, tantos camelôs na avenida Paulista quanto vê na avenida Rio Branco [no centro do Rio]," avalia Fernando de Holanda Barbosa Filho, professor de economia e pesquisador da Fundação Getulio Vargas no Rio. "Mas, se você for a São Paulo ou ao Rio e estiver chovendo, vai ter gente vendendo guarda-chuva, por exemplo", completa.
Além dos guarda-chuvas, não faltam em ambas as capitais os eletrônicos do momento (como a raquete de matar mosquitos a choque) que, no Rio, dividem espaço com quinquilharias antigas e "miudezas em geral".
"Aê, é o brinquedo do momento!", anuncia o ambulante Carlos Miranda, 42, diante de uma bacia cheia d'água onde "nadam" bichinhos de plástico, no meio do Saara, camelódromo na região central do Rio (a rua 25 de Março carioca).
Fora do camelódromo, o ambulante carioca perdeu parte da ginga: o Choque de Ordem da prefeitura impediu a presença em pontos estratégicos, como a av. Nossa Sra. de Copacabana, uma das maiores do bairro.
Agora, eles são obrigados a fugir para as ruas transversais -mas deixam na esquina da avenida principal seus "publicitários". "Vai bolsa? Vai bolsa? É só entrar aqui!", diz um homem, apontando para a barraca do camelô na rua lateral.


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