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entrevista
"Pessoas também querem participar de punição a réus"
ALEXANDRE NOBESCHI
DA REDAÇÃO
Os rojões e os gritos de
"Nardoni na prisão" em
frente ao Fórum de Santana, na madrugada de ontem, quando saiu a condenação do casal, revelam
um comportamento típico
de torcida, avalia a pesquisadora Lúcia Santaella.
Ela coordenou um projeto conjunto entre Brasil
e Alemanha sobre a palavra e a imagem das mídias
e é autora de "Matrizes da
Linguagem e do Pensamento", ganhador do prêmio Jabuti.
Segundo ela, a comoção
do caso, que envolve a
morte de uma criança, inflamou ainda mais a população. "Todo mundo, inclusive a mídia, toma partido da vítima. Então as
pessoas correm até lá [fórum] para participar da
punição." Leia abaixo trechos da entrevista com ela.
FOLHA - Como se explica esse
clima de final de Copa do Mundo com o resultado do júri?
LÚCIA SANTAELLA - A cultura
brasileira é movida pela
emoção, ainda mais em
um caso como este. Outra
coisa que comove, e nada
comove mais que isso, é o
fato de a vítima ter sido
uma criança.
FOLHA - Mas o que leva as
pessoas a irem até lá festejar?
SANTAELLA - As pessoas
acreditam que, estando ali,
elas farão parte da punição. O que aconteceu lá é
um fenômeno de massa. E,
quando a massa se junta,
ela é incontrolável. A pessoa age como se estivesse
em uma torcida.
FOLHA - Qual a influência da
mídia nesse ponto?
SANTAELLA - As mídias estão tão onipresentes que a
pessoa só sente que existe
se apareceu nelas. E a história sempre foi inflada,
desde o crime. Era esperada essa repercussão.
FOLHA - A exposição na mídia
pode favorecer o advogado e o
promotor?
SANTAELLA - Os dois ganharam muita publicidade. O
advogado, embora não tenha ganhado o caso, fica
mais conhecido. O promotor sai como o justiceiro.
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