São Paulo, domingo, 28 de março de 2010

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entrevista

"Pessoas também querem participar de punição a réus"

ALEXANDRE NOBESCHI
DA REDAÇÃO

Os rojões e os gritos de "Nardoni na prisão" em frente ao Fórum de Santana, na madrugada de ontem, quando saiu a condenação do casal, revelam um comportamento típico de torcida, avalia a pesquisadora Lúcia Santaella.
Ela coordenou um projeto conjunto entre Brasil e Alemanha sobre a palavra e a imagem das mídias e é autora de "Matrizes da Linguagem e do Pensamento", ganhador do prêmio Jabuti.
Segundo ela, a comoção do caso, que envolve a morte de uma criança, inflamou ainda mais a população. "Todo mundo, inclusive a mídia, toma partido da vítima. Então as pessoas correm até lá [fórum] para participar da punição." Leia abaixo trechos da entrevista com ela.

 

FOLHA - Como se explica esse clima de final de Copa do Mundo com o resultado do júri?
LÚCIA SANTAELLA -
A cultura brasileira é movida pela emoção, ainda mais em um caso como este. Outra coisa que comove, e nada comove mais que isso, é o fato de a vítima ter sido uma criança.

FOLHA - Mas o que leva as pessoas a irem até lá festejar?
SANTAELLA -
As pessoas acreditam que, estando ali, elas farão parte da punição. O que aconteceu lá é um fenômeno de massa. E, quando a massa se junta, ela é incontrolável. A pessoa age como se estivesse em uma torcida.

FOLHA - Qual a influência da mídia nesse ponto?
SANTAELLA -
As mídias estão tão onipresentes que a pessoa só sente que existe se apareceu nelas. E a história sempre foi inflada, desde o crime. Era esperada essa repercussão.

FOLHA - A exposição na mídia pode favorecer o advogado e o promotor?
SANTAELLA -
Os dois ganharam muita publicidade. O advogado, embora não tenha ganhado o caso, fica mais conhecido. O promotor sai como o justiceiro.


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