São Paulo, domingo, 28 de março de 2010

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ANÁLISE

Na cobertura, até Xuxa falou sobre Isabella

NELSON DE SÁ
COLUNISTA DA FOLHA

A televisão deu a largada uma semana antes, dias 15 e 16, com longas entrevistas do promotor e do advogado de defesa ao telejornal local da Globo, adiantando as "estratégias".
Na segunda-feira, 22, sete helicópteros de cobertura seguiram o casal, da prisão ao fórum, abrindo o espetáculo.
Mas a histeria só foi se espalhar a partir de terça, segundo dia do julgamento, quando os telejornais nacionais destacaram que uma delegada afirmou ter "100% de certeza da culpa" e o advogado "tentou desqualificar as provas técnicas".
Foi o dia em que o promotor exibiu uma maquete e "fotos da menina" e que o advogado "isolou a mãe da menina", argumentando que o "casal é vítima", na escalada das manchetes de televisão.
Foi quando se estabeleceu "o duelo", o conflito de mocinho e bandido entre promotor e advogado, no roteiro da cobertura.
Na audiência seguinte, ao chegar ao fórum, o advogado foi agredido. Mais um dia e um pastor e um jovem que defendiam o casal também foram agredidos pelas pessoas levadas à porta do fórum.
Na cobertura sem fim, o programa "TV Fama", da Rede TV, ouviu Xuxa citar "a Isabella" como argumento na campanha "não bata, eduque".
Chegou a noite de sexta-feira para sábado e, na espera ansiosa da sentença por rádios, canais de notícias e as próprias redes, a falta do que apresentar levou jornalista a entrevistar jornalista, com a aposta de condenação iminente do casal.
Até que entrou afinal o plantão do "Jornal da Globo", com a extensa e anticlimática leitura da sentença pelo juiz, aliás citando a "mídia farta" que acompanhou o julgamento, o "número tamanho de profissionais de imprensa que para cá acorreram".
Por outras emissoras, assistiu-se então à inusitada queima de fogos de artifício, em festa popular pela condenação mostrada num telão instalado diante do fórum.
Embalada pelo "Tema da Vitória", que a Globo encomendou ao Roupa Nova quase três décadas atrás, para as transmissões de Fórmula 1, a multidão cercou e chutou o carro que levou o casal de volta à cadeia, seguido por motos com câmeras. Eram crianças e adolescentes, na maioria.


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