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São Paulo, segunda-feira, 28 de abril de 2003

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SAÚDE

Pesquisa nacional revela, no entanto, que, após receber atendimento, maioria se diz satisfeita

Para 42%, sigla SUS não é confiável

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Cerca de 42% das pessoas que utilizam os serviços da rede pública de saúde consideram que o SUS é um sistema no qual não se pode confiar. Uma vez atendidas, no entanto, a maioria se diz satisfeita com os serviços. Entre aquelas que foram internadas ou tiveram familiar internado, por exemplo, o índice de satisfação "alta" e "muito alta" chega a 72%.
A principal queixa, no entanto, é a fila de espera. Para 63,2% dos que precisaram de consultas, exames ou internações nos últimos dois anos, a demora é o principal problema da rede pública.
Esses são alguns dos dados da mais recente pesquisa nacional sobre o SUS, o Sistema Único de Saúde que integra as redes municipais, estaduais e da União, além das instituições conveniadas. O levantamento ouviu 3.200 pessoas em todo o país com idade mínima de 16 anos e que responderam a 243 perguntas. A margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais.
"A Saúde na Opinião dos Brasileiros", como foi batizado o levantamento, é uma parceria entre o Ministério da Saúde e o Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde) realizada ainda no ano passado. Oficialmente, os resultados serão anunciados nesta semana pelo ministro Humberto Costa e o atual presidente do Conass, Gilson Cantarino.
A pesquisa mostra que apenas 35% dos entrevistados sabiam o que significava a sigla SUS, embora a porcentagem subisse para 88,5% quando o usuário era informado de que se trata do serviço público de saúde. Essa desinformação seria a responsável pelo descrédito da sigla, apesar da aprovação aos serviços prestados.
Por conta do desgaste do serviço público, "o SUS é sempre relacionado ao que não funciona". "Quando o atendimento é bom, ele tem "pai'; foi o posto da prefeitura, o hospital do Estado. Quando é ruim, é o SUS", afirma Fernando Cupertino, secretário da Saúde de Goiás e presidente do Conass na gestão passada, quando a pesquisa foi encomendada.
Apesar de não relacionar a sigla aos atendimentos, a grande maioria dos entrevistados (90,1%) informou ter utilizado ou ter algum familiar que utilizou o SUS nos últimos dois anos. Entre esses, 28,6% se valeram exclusivamente dos serviços públicos e 61,5% recorreram ao público e ao privado. Apenas 8,7% só usam serviços privados. Pela pesquisa, 25% dos brasileiros têm planos de saúde.

Avaliação e perfil
Quando se fala dos serviços gerais do SUS, 47,7% disseram estar "satisfeitos" ou "muito insatisfeitos", enquanto, na outra ponta, 19,5% estavam "muito insatisfeitos" e "insatisfeitos".
Como a proposta do Conass era abastecer de informações os gestores de saúde, os resultados divulgados destacam o grau de satisfação pelo tipo de serviço, por região e pelo perfil do usuário, explica Délcio Fonseca Sobrinho, especialista em demografia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais e autor da síntese da pesquisa.
A melhor nota dada ao SUS (se funciona bem e muito bem) vem dos grupos de menor escolaridade, com 50,3% entre os analfabetos. Entre aqueles com curso superior, o índice cai para 30,7%.
Curiosamente, quando são separados os grupos que só usam o SUS daqueles que só utilizam o sistema privado, a pior avaliação vem dos últimos. Apenas 30,3% deles disseram que o SUS "funciona bem ou muito bem", enquanto o índice sobe para 45,2% entre os que só utilizam o sistema público.
O índice de insatisfação é maior nas regiões Norte e Nordeste. E, quando se compara a qualidade dos serviços, os de maior complexidade são mais bem avaliados, chegando a 80% entre os que passaram ou tiveram familiares que passaram por cirurgias.


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