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Menino sai do Rio para fazer exame em São Paulo
DA REPORTAGEM LOCAL
Igor Daniel nasceu em Belém
(PA) com uma "válvula mitral entupida". Um ano depois foi operado no Instituto do Coração, o
Incor, de São Paulo. Para o tratamento, a família se mudou para
Resende (RJ), onde tem parentes.
Hoje com três anos e meio, Igor
viaja todo mês para fazer exames
de sangue no Incor. "O carro da
prefeitura vem três vezes por semana trazer doentes para São
Paulo", diz a mãe, Antonia Alves.
"Eu podia fazer os exames em Resende, mas lá demora muito."
O Incor é referência em cardiologia e o Hospital das Clínicas, ao
qual pertence, é um dos centros
de ensino, pesquisa e tratamento
mais importantes do país. Por
conta da alta especialização, mas
também pela falta de regionalização e de priorização do SUS, o HC
recebe gente de todo o país. Muitos poderiam ser atendidos nos
hospitais de suas cidades ou postos de saúde de seus bairros.
O motorista de ambulância José
Carlos Barbosa, 49, faz o transporte de doentes de Franco da Rocha, na Grande São Paulo, para
hospitais da capital. "Vinte anos
atrás, fazia viagens todo dia. Agora é uma ou outra", diz.
A redução nas viagens é sinal de
que a descentralização necessária
no SUS já vem acontecendo.
Por ser funcionário do Estado,
Barbosa e a família têm direito ao
Hospital do Servidor Público Estadual. "É como se tivesse um plano de saúde, pois lá quase não tem
demora", afirma.
O sonho e a decepção com o
plano de saúde aparecem revelados na pesquisa. Cerca de 18%
abandonaram o plano por conta
do preço ou porque perderam o
emprego. Em torno de 76% dos
que têm planos declaram-se satisfeitos. O principal motivo é a "rapidez" no acesso. Já os insatisfeitos se queixam de que o plano
"não dá cobertura total".
Significa que a principal diferença entre os planos e o SUS não
estaria na qualidade dos serviços,
mas na demora no atendimento.
Isabel Vieira Cordeiro, 52, é um
exemplo. Há oito anos ela tem " ficha" no HC e, desde então, vem
fazendo ali todas as consultas e
exames. Nunca entrou no Hospital Geral de Itapecerica da Serra,
na Grande São Paulo, onde mora.
"O serviço aqui é muito bom,
quem consegue entrar está bem
assistido, não quer mais sair", diz
Isabel Cordeiro, que também tem
o marido sendo tratado ali. No
entanto, se pudesse pagar, ela diz
que teria um plano de saúde.
"Mas não queria outro hospital,
não, queria mesmo o HC, mas
sem ter que ficar esperando vaga
nas filas."
(AB)
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