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São Paulo, segunda-feira, 28 de abril de 2003

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Menino sai do Rio para fazer exame em São Paulo

DA REPORTAGEM LOCAL

Igor Daniel nasceu em Belém (PA) com uma "válvula mitral entupida". Um ano depois foi operado no Instituto do Coração, o Incor, de São Paulo. Para o tratamento, a família se mudou para Resende (RJ), onde tem parentes.
Hoje com três anos e meio, Igor viaja todo mês para fazer exames de sangue no Incor. "O carro da prefeitura vem três vezes por semana trazer doentes para São Paulo", diz a mãe, Antonia Alves. "Eu podia fazer os exames em Resende, mas lá demora muito."
O Incor é referência em cardiologia e o Hospital das Clínicas, ao qual pertence, é um dos centros de ensino, pesquisa e tratamento mais importantes do país. Por conta da alta especialização, mas também pela falta de regionalização e de priorização do SUS, o HC recebe gente de todo o país. Muitos poderiam ser atendidos nos hospitais de suas cidades ou postos de saúde de seus bairros.
O motorista de ambulância José Carlos Barbosa, 49, faz o transporte de doentes de Franco da Rocha, na Grande São Paulo, para hospitais da capital. "Vinte anos atrás, fazia viagens todo dia. Agora é uma ou outra", diz.
A redução nas viagens é sinal de que a descentralização necessária no SUS já vem acontecendo.
Por ser funcionário do Estado, Barbosa e a família têm direito ao Hospital do Servidor Público Estadual. "É como se tivesse um plano de saúde, pois lá quase não tem demora", afirma.
O sonho e a decepção com o plano de saúde aparecem revelados na pesquisa. Cerca de 18% abandonaram o plano por conta do preço ou porque perderam o emprego. Em torno de 76% dos que têm planos declaram-se satisfeitos. O principal motivo é a "rapidez" no acesso. Já os insatisfeitos se queixam de que o plano "não dá cobertura total".
Significa que a principal diferença entre os planos e o SUS não estaria na qualidade dos serviços, mas na demora no atendimento. Isabel Vieira Cordeiro, 52, é um exemplo. Há oito anos ela tem " ficha" no HC e, desde então, vem fazendo ali todas as consultas e exames. Nunca entrou no Hospital Geral de Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo, onde mora.
"O serviço aqui é muito bom, quem consegue entrar está bem assistido, não quer mais sair", diz Isabel Cordeiro, que também tem o marido sendo tratado ali. No entanto, se pudesse pagar, ela diz que teria um plano de saúde. "Mas não queria outro hospital, não, queria mesmo o HC, mas sem ter que ficar esperando vaga nas filas." (AB)


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