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MASSACRE NA BAIXADA
Familiares pediram ainda a Severino Cavalcanti plebiscito para probição de venda de armas de fogo
Parentes de vítimas pedem federalização da investigação
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA SUCURSAL DO RIO
Uma comissão de parentes de
vítimas da chacina em que 29 pessoas foram mortas na Baixada
Fluminense, no dia 31 de março,
pediu ontem ao presidente da Câmara dos Deputados, Severino
Cavalcanti (PP-PE), e ao procurador-geral da República, Claudio
Fonteles, apoio para a federalização do crime.
Na reunião com Severino, que
tinha parentes na chacina ocorrida em 1993 em Vigário Geral (RJ),
foi pedido ao presidente da Câmara a votação do projeto que
que institui um plebiscito para
proibir a venda de armas de fogo.
Severino se disse simpático às
duas propostas, mas, quanto ao
plebiscito, afirmou que só poderá
colocar o projeto em votação
quando a pauta da Câmara for liberada das medidas provisórias
que trancam atualmente as demais deliberações. Ele não se
comprometeu com prazos.
Fonteles se comprometeu a examinar o pedido de federalização
do crime, mas afirmou que precisará de provas de omissão da polícia e da Justiça do Rio de Janeiro
em outros casos de chacinas envolvendo policiais. Os deputados
Raul Jungmann (PPS-PE) e Chico
Alencar (PT-RJ) disseram que
irão preparar a documentação.
"Se houver a federalização, [os
policiais militares] vão pensar
duas vezes antes de atirar. Vão
pensar: "É, eles estão pegando pesado'", disse Carlos Eduardo Silva, que perdeu um primo e um irmão na chacina.
Fonteles também ouviu o relato
de Rosilene Vasconcelos. Ela disse
que o irmão, morto no massacre,
pretendia se tornar policial militar e que iria se casar em dezembro. "Essas pessoas podem tirar a
vida de outras?"
A emenda constitucional da reforma do Judiciário, de dezembro
de 2004, previu a federalização de
crimes que impliquem graves violações dos direitos humanos, nos
casos em que a omissão da polícia
ou da Justiça estadual ficar comprovada.
Somente Fonteles pode pedir ao
STJ (Superior Tribunal de Justiça)
a federalização. Ele fez esse pedido no caso do assassinato da irmã
Dorothy Stang, no Pará. Ainda
não houve decisão do STJ.
Rio
A Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio anunciou
ontem que prorrogará por mais
30 dias as investigações sobre a
chacina de 29 pessoas na Baixada
Fluminense. Informou ainda que
pedirá hoje à Justiça a prorrogação, por 30 dias, da prisão temporária dos 11 policiais militares presos acusados de participação nomassacre.
Segundo o secretário de Segurança, Marcelo Itagiba, as medidas foram tomadas porque a polícia ainda precisa obter mais provas técnicas para conseguir incriminar os suspeitos.
Passados 27 dias da matança, a
polícia só conseguiu provas técnicas contra um suspeito: o soldado
Carlos Jorge de Carvalho. Em um
Gol prata emprestado ao policial e
usado no dia do crime, foram recolhidas amostras de sangue de
duas vítimas da chacina.
No carro, foram encontradas
cápsulas iguais às achadas em
dois locais da matança. Contra os
outros dez PMs, só há provas testemunhais até agora.
Sobre a motivação da chacina,
Itagiba disse que a polícia ainda
trabalha com a hipótese de ter sido uma retaliação dos PMs à linha-dura implantada por comandantes de batalhões da Baixada.
O procurador-geral de Justiça,
Marfan Vieira, disse que o Ministério Público pediu novas diligências à Polícia Civil para reunir o
maior número de provas técnicas
possíveis contra os policiais.
"Queremos evitar o que aconteceu no caso de Vigário Geral [em
1993, quando 21 pessoas foram
mortas por policiais], quando a
denúncia foi açodada e apenas
seis dos 50 suspeitos foram condenados", declarou.
Vieira disse que o inquérito da
Polícia Federal sobre a chacina
não apresentou provas suficientes
para o oferecimento da denúncia
e que as informações foram anexadas ao relatório da Polícia Civil.
Entre as provas técnicas que faltam à polícia está a do confronto
entre as balas encontradas nos
corpos das vítimas e as armas
apreendidas dos suspeitos e nos
seus respectivos batalhões.
Já foram feitas mais de 700 análises pelo ICCE (Instituto de Criminalista Carlos Éboli) e nenhuma deu positiva. Os assassinos
usaram revólver calibre 38 e pistolas 380 e .40.
Falta também concluir a perícia
em cinco carros -dois Vectra e
outros três Gol, apreendidos com
os suspeitos. Os policiais tentam
descobrir se há vestígios de sangue ou impressões digitais nos
carros.
O procurador afirmou que repudia a tentativa de federalizar as
investigações. De acordo com ele,
a federalização não será necessária porque as investigações da Polícia Civil do Rio estão transcorrendo normalmente.
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