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Encenação da queda leva até policial às lágrimas
Simulação foi acompanhada por 150 jornalistas e técnicos, além de 60 agentes da polícia
Boneca com peruca morena, peso e altura semelhantes aos da garota morta foi jogada do mesmo quarto de onde Isabella Nardoni caiu
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
Foi só os pezinhos da boneca
representando a menina Isabella Nardoni aparecerem na janela do apartamento 62 do Edifício London e calaram-se os
cerca de 150 jornalistas, técnicos e cinegrafistas que acompanhavam ontem desde as primeiras horas da manhã a simulação do crime. Mesma atitude
tiveram moradores do prédio
defronte, que acompanhavam a
encenação, e agentes -cerca de
60 do Grupo de Operações Especiais da Polícia Civil.
Com uma camiseta azul (cor
que Isabella Nardoni usava no
momento em que foi jogada da
janela), peruca morena, peso e
altura semelhantes aos da garota morta, a boneca foi introduzida por um rasgo feito momentos antes em uma tela de
proteção colocada no mesmo
quarto de onde a menina caiu.
O simulacro ficou pendurado
pelos pulsos do lado de fora da
janela do quarto e, depois, foi
solto -como teria acontecido
com a própria Isabella, segundo a versão policial. Toda a cena
durou dois minutos contados a
partir das 13h05.
Não houve queda nem choque com o solo porque a polícia
técnica amarrara o corpo à janela do apartamento. Em vez
de cair, a boneca ficou suspensa
no ar. Foi recolhida para ser, de
novo, jogada. Replay da cena.
Metralhadoras
Uma mulher de cabelos aloirados, moradora no edifício
Versailles, que fica bem na
frente do London, chorou. Um
policial do GOE que não se
identificou também emocionou-se. Disse, com os olhos
cheios de lágrimas, ter temido
pela vida de seu filho, mesma
idade de Isabella (a menina
completaria seis anos no dia 18
de abril).
Os jornalistas agora falavam
em volume baixo e assim permaneceram durante todo o restante da encenação, que durou
um total de sete horas. Até então, o assunto eram os policiais
do GOE, que ostentavam armamento de guerra -carabinas,
pistolas e submetralhadoras
calibre .40, de uso restrito das
forças policiais, além de escopeta calibre 12 e facões.
A alegação era de que o arsenal serviria para garantir a segurança do evento. Mas, com os
curiosos mantidos afastados a
120 metros da cena do crime
por cordões de isolamento e
por soldados comuns da PM, os
agentes do GOE só tiveram
mesmo que lidar com jornalistas e moradores, além de prestadores de serviço dos prédios
em volta do London.
Os curiosos ontem não superaram a marca dos 50. A maioria manteve-se em silêncio e
pertencia a um auto-proclamado Apostolado Exército de Santo Expedito, que distribuía
bandeirinhas a quem passava
pelo local.
Rappel
Havia policiais do GOE nas
coberturas dos prédios, observando os jornalistas com binóculos. Às 10h30, um grupo de
quatro entrou no London com
cordas de rappel e luvas pretas
(a cor do uniforme do grupo especial). O assessor de imprensa
explicou: os agentes poderiam
ser requisitados para descer pelas cordas até a altura do sexto
andar, onde fica o apartamento
dos Nardoni. Missão: fazer fotos do local visto de um ponto
de vista fora do edifício.
A ordem da polícia era para
só entrar no quarteirão do London quem fosse morador do lugar, prestador de serviços ou
funcionário de condomínio,
além de jornalistas.
Mauro Sergio Amaral, 36,
solteiro, açougueiro desempregado, morador na zona leste da
cidade, não se enquadrava em
nenhum dos perfis permitidos.
Mas entrou.
Anteontem, ele confeccionou em um cibercafé uma credencial com os dizeres: "Imprensa. Programa Intolerância
Zero. Mauro Roberto". Passou.
Ele desfilava pelo cercado da
imprensa com um radinho de
pilha portátil, que carregava como se fosse um gravador. E explicava: "Mauro Roberto é o
nome artístico, sacou?"
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