São Paulo, segunda-feira, 28 de maio de 2001

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VIOLÊNCIA

Decreto do governador Siqueira Campos transferiu o controle operacional da PM, em greve há 8 dias, para os militares

Exército vai ao Tocantins para conter greve

Antonio Gonçalves/"Jornal do Tocantins"
Policiais militares na guarita do 1º Batalhão da Polícia Militar de Tocantins; há 4.000 PMs paralisados, segundo líderes do movimento


FREE-LANCE PARA A AGÊNCIA FOLHA,

EM PALMAS (TO)

O governo federal enviou ontem tropas do Exército ao Tocantins - atendendo a solicitação do governador Siqueira Campos (PFL)- em uma tentativa de colocar fim à paralisação da Polícia Militar que atinge todo o Estado e já dura oito dias. Mais de 500 soldados desembarcaram à tarde em Palmas, a capital, onde está a maior parte dos grevistas.
Decreto do governador transferiu o controle operacional da PM para o Exército, "emergencial e temporariamente para garantir os poderes constitucionais, a lei e a ordem no Estado".
O primeiro grupo, liderado por pára-quedistas do Rio de Janeiro, chegou às 15h30. Uma das primeiras medidas do Exército foi ocupar o aeroporto de Palmas, que fica a 200 metros do 1º BPM (Batalhão da Polícia Militar), onde cerca de 800 PMs estão aquartelados com mulheres e crianças.
O 1º BPM é o principal foco de resistência dos policiais. Ontem à noite, a água e a luz do batalhão teriam sido cortadas.
A chegada do Exército não intimidou os grevistas. A ordem é resistir até que o governo abra um canal de diálogo. Em todo o Estado, cerca de 4.000 policiais estão em greve, o total da categoria, segundo os líderes.
Eles reivindicam 47% de reajuste salarial, pagamento de insalubridade por risco no trabalho e retorno às origens dos policiais transferidos para outras praças que, segundo eles, foram remanejados por pertencerem às associações classistas.
O comando de paralisação está apostando que a exposição do governo na mídia nacional vai levar à negociação. "Vamos resistir até o diálogo acontecer", disse Lúcia Machado Mendes, presidente da Associação dos Cônjuges e Pais dos Praças, Polícia e Bombeiros Militares do Tocantins.
Até as 19h, Campos esteve reunido com os generais Rubem Peixoto Alexandre, comandante da 3ª Brigada de Infantaria Motorizada de Goiânia, e Renato Joaquim Ferrarezi, comandante da 11ª Região Militar (DF), para montar a estratégia de desocupação de 11 BPMs no Estado. A Agência Folha apurou que os generais mapearam a cidade e as entradas dos batalhões.
Armados e protegidos com coletes à prova de balas, a postura dos manifestantes é de enfrentamento, embora, até o início da noite, o comando do Exército não tenha dado demonstração de que vai partir para o confronto.
Ontem, alguns policiais de outros municípios se juntaram ao grupo aquartelado em Palmas.
Após cercar o aeroporto, parte dos soldados foi para o Palácio Araguaia, sede do governo.
No sábado, partidos de oposição veicularam nota na televisão pedindo a abertura de diálogo com os PMs como medida para colocar fim à greve.
O governador Siqueira Campos também havia dito que só aceitaria negociar se os policiais encerrassem o movimento.
O aquartelamento é maior em Palmas, mas a greve atinge todo o Estado. Também há manifestações nos batalhões de Gurupi e Araguaína, os dois maiores municípios de Tocantins após a capital.
A Justiça expediu, anteontem, mandado de prisão contra 13 policiais, inclusive para o líder da greve, sargento Expedito Aragão, mas, segundo os grevistas, a ordem ainda não havia chegado.
Até agora, os policiais não cumpriram a decisão da juíza Adelina Gurak, determinando o retorno ao trabalho, nem a ordem do comando-geral, que deu até as 18h de sexta para que eles se apresentassem aos seus comandados.
O governo usou como justificativa para o pedido de ajuda ao Exército o temor de que uma onda de violência atingisse o Estado.
O comandante-geral da PM, coronel Constantino Magno, disse na quinta que o índice de violência não aumentou nesse período.

Colaborou KÁTIA BRASIL, da Agência Folha, em Manaus


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