São Paulo, terça-feira, 28 de maio de 2002

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INFÂNCIA

Toxoplasmose foi diagnosticada no pré-natal, mas paciente demorou para saber do resultado; bebê morreu após 21 dias

Grávida espera cinco meses por exame

DA REPORTAGEM LOCAL

Elisângela Esteves Cabral da Silva, 25, esperou cinco meses pelos exames de pré-natal, feitos no posto de saúde do Anhanguera, distrito no extremo norte de São Paulo. Quando finalmente chegaram, soube que tinha toxoplasmose, doença que, se detectada no início, tem chance de cura.
Como já estava no sétimo mês de gravidez quando recebeu os exames, o médico a encaminhou para o Hospital das Clínicas, onde foi submetida a cesariana.
Em 15 de abril, 21 dias depois, o bebê, Maria Rita, morreu e entrou nas estatísticas de mortalidade infantil do Anhanguera, distrito que entre 2000 e 2001 registrou maior aumento de morte de bebês durante o primeiro ano de vida.
Maria Clara Lang, coordenadora da Pastoral da Criança na região, diz que um dos maiores problemas do posto é a falta de ginecologistas. Uma das ações preventivas contra a mortalidade infantil é justamente os exames de pré-natal, que devem ser feitos mensalmente por esse profissional.
O mais complicado, afirma Maria Clara, é que a população do bairro aumenta, mas os serviços públicos não acompanham a demanda. A população de Anhanguera cresceu 13% ao ano, entre 1991 e 2000.
Elisângela, que é monitora do programa de alfabetização da prefeitura, reclama do tratamento recebido: "As enfermeiras tratam as pacientes com descaso".
Os exames com o resultado da toxoplasmose chegaram em 31 de janeiro, mas ela só os recebeu na consulta do dia 18 de março. Os funcionários do posto informaram que ela faltou à consulta prevista para fevereiro. Ninguém telefonou para ela.
O infectologista Marcos Boulos, do Hospital das Clínicas, explica que não é possível estabelecer relação direta entre o atraso e a morte do bebê. Mas as chances de cura são maiores quando o tratamento começa cedo.
De acordo com o resultado dos exames de Elisângela, diz Boulos, não é possível saber quando ela contraiu a doença. É possível que ela tenha passado toda a gravidez com o protozoário no organismo.
"Eu tinha o direito de lutar pela vida da minha filha", diz Elisângela. Ela ainda lembra que uma colega de trabalho também teve toxoplasmose na gravidez. Mas ela soube em tempo hábil, foi medicada e teve o bebê sem problemas.
Paulo Capucci, titular da Coas (Coordenadoria das Ações de Saúde da Prefeitura de São Paulo), considerou "injustificável" o atraso de cinco meses no recebimento dos exames de Elisângela.
No entanto ele afirma que a morte de Maria Rita foi uma "fatalidade", e não consequência da falta de informação sobre a doença detectada nos exames.
(GABRIELA ATHIAS)


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