São Paulo, terça-feira, 28 de maio de 2002

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Mortalidade sobe em região dos "sem-renda"

DA REPORTAGEM LOCAL

Temendo ter o nono filho a caminho do hospital, Marta Conceição de Oliveira, 28, teve o bebê em casa, na favela do Anhanguera, extremo norte de São Paulo.
"O Bruno [oitavo filho, com um ano] ia nascer no hospital. Quando "deu a dor", um vizinho me levou para o hospital sem cobrar nada. Só que, como o bebê nasceu no meio do caminho, tive de pagar R$ 60 para lavar os bancos do carro dele."
Pouco antes de o nono filho nascer, Marta e o marido, que é pedreiro, fizeram dívidas para comprar o barraco e, por isso, acabaram ficando sem dinheiro. Os vizinhos doam comida. "Quando você não tem nadinha de dinheiro, é melhor não sair de casa", diz ela.
Dois dos quatro filhos em idade escolar não estão estudando, porque, de acordo com Marta, a família não tem dinheiro para custear o transporte escolar.

Menor renda
Anhanguera, onde vivem Marta e o marido, é o distrito onde a mortalidade infantil mais aumentou entre 2000 e 2001. De acordo com o Censo 2000, o local tem uma das menores rendas familiares da cidade e uma das maiores taxas de analfabetismo.
A relação entre baixa renda e altas taxas de mortalidade é direta. A zona sul, que apresenta as maiores taxas de mortalidade, foi a região em que a renda menos cresceu na cidade, entre 1991 e 2000.
Em seis dos dez distritos onde a mortalidade infantil atinge as taxas mais altas da cidade, a renda média do chefe da família é inferior a R$ 1.480, que é a média dos chefes de família na cidade, segundo o Censo 2000.
A desigualdade atinge o ápice em Marsilac -o distrito campeão de mortalidade infantil na cidade. Lá, quem sustenta a família ganha, em média, R$ 444 mensais. Ou seja: 30% do que ganham, em média, os chefes de família das outras regiões.

Projetos integrados
Nas quatro regiões mais populosas atendidas pela Pastoral da Criança na cidade, a mortalidade também aumentou entre 2000 e 2001. Ela trabalha apenas com famílias que vivem nos chamados bolsões de miséria: favelas e cortiços.
A coordenadora nacional da Pastoral da Criança, Zilda Arns, afirma que, nas favelas das grandes cidades, é preciso oferecer projetos integrados de combate à pobreza, que incluam ações de educação, saúde e geração de renda.
Os projetos sociais da prefeitura estão implantados nos distritos mais pobres, atendendo 95.362 famílias. (GA)


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