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Moradores deixam morro durante a noite com medo de novos tiroteios
SABRINA PETRY
DA SUCURSAL DO RIO
A insegurança e o medo de novos confrontos nas favelas de Vila
Isabel e Engenho Novo (zona norte do Rio) fizeram com que centenas de moradores do morro dos Macacos deixassem suas casas no
fim de semana e provocaram o fechamento de cinco escolas.
Desde sexta, traficantes da facção criminosa CV (Comando
Vermelho) tentam invadir a favela, onde os pontos de venda de
drogas são comandados pelo rival
TC (Terceiro Comando). Já morreram oito pessoas nos conflitos.
Em visita ao morro ontem, o comandante da Polícia Militar, coronel Francisco Braz, disse que o
medo dos moradores é infundado. "Não é a primeira vez que há
tiroteio em morro. Essas ações
dos moradores são resultados de
um medo difuso, provocado por
boatos de crimes que estariam
sendo cometidos o tempo todo",
disse Braz, após participar de operações nos morros dos Macacos,
Pau da Bandeira e São João, de
onde seriam os invasores.
A associação de moradores do
morro dos Macacos disse que cerca de 2.000 pessoas deixaram suas
casas nas últimas duas noites. Para a PM, foram 300 moradores.
Cerca de 500 pessoas passaram
a noite de anteontem e a madrugada de ontem na quadra da escola de samba Unidos da Tijuca,
próxima à favela. Outras preferiram a frente da 20ª Delegacia de
Polícia, um posto de gasolina,
uma praça e um centro espírita.
Moradores disseram que, enquanto não houver luz no morro
(na sexta, traficantes atiraram
contra transformadores) e a polícia não ficar no local 24 horas,
continuarão deixando a favela à
noite. "Desci com minha filha de
quatro anos e dormimos numa
praça. Estava frio, mas, com a
pressa, só tive tempo de levar um
lençol. Mas foi melhor que arriscar a vida ficando lá em cima",
disse a dona-de-casa Daniele, 21,
que não quis informar seu nome
completo por temer represálias.
A balconista Aline, 18, decidiu
sair da favela com o filho de três
anos, a avó de 68 anos e dois sobrinhos, de dois e oito anos, após
saber que a PM não ficaria no
morro à noite. Hoje de manhã, ela
não teve coragem de trabalhar
nem de levar o filho e os sobrinhos à escola. "Posso perder o
emprego, mas não a vida."
O medo também fez com que
cinco escolas próximas não funcionassem. Segundo funcionários, que falavam com jornalistas
através de grades, muitos professores e alunos temeram sair de casa ou se mudaram temporariamente para a casa de parentes.
Braz determinou que as favelas
Matriz, Quieto e Sampaio, que teriam ajudado na tentativa de invasão, recebam reforço policial
por tempo indeterminado. Elas
estão ocupadas desde sexta.
Nos morros dos Macacos e Pau
da Bandeira, a ocupação foi decretada ontem. "Estamos muito
bem posicionados, mas vamos incrementar ainda mais o policiamento naquela região. Nossa atuação tem sido intensa e, se houver novo tiroteio hoje [ontem], a PM estará presente."
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