São Paulo, terça-feira, 28 de maio de 2002

Texto Anterior | Índice

Moradores deixam morro durante a noite com medo de novos tiroteios

SABRINA PETRY
DA SUCURSAL DO RIO

A insegurança e o medo de novos confrontos nas favelas de Vila Isabel e Engenho Novo (zona norte do Rio) fizeram com que centenas de moradores do morro dos Macacos deixassem suas casas no fim de semana e provocaram o fechamento de cinco escolas.
Desde sexta, traficantes da facção criminosa CV (Comando Vermelho) tentam invadir a favela, onde os pontos de venda de drogas são comandados pelo rival TC (Terceiro Comando). Já morreram oito pessoas nos conflitos.
Em visita ao morro ontem, o comandante da Polícia Militar, coronel Francisco Braz, disse que o medo dos moradores é infundado. "Não é a primeira vez que há tiroteio em morro. Essas ações dos moradores são resultados de um medo difuso, provocado por boatos de crimes que estariam sendo cometidos o tempo todo", disse Braz, após participar de operações nos morros dos Macacos, Pau da Bandeira e São João, de onde seriam os invasores.
A associação de moradores do morro dos Macacos disse que cerca de 2.000 pessoas deixaram suas casas nas últimas duas noites. Para a PM, foram 300 moradores.
Cerca de 500 pessoas passaram a noite de anteontem e a madrugada de ontem na quadra da escola de samba Unidos da Tijuca, próxima à favela. Outras preferiram a frente da 20ª Delegacia de Polícia, um posto de gasolina, uma praça e um centro espírita.
Moradores disseram que, enquanto não houver luz no morro (na sexta, traficantes atiraram contra transformadores) e a polícia não ficar no local 24 horas, continuarão deixando a favela à noite. "Desci com minha filha de quatro anos e dormimos numa praça. Estava frio, mas, com a pressa, só tive tempo de levar um lençol. Mas foi melhor que arriscar a vida ficando lá em cima", disse a dona-de-casa Daniele, 21, que não quis informar seu nome completo por temer represálias.
A balconista Aline, 18, decidiu sair da favela com o filho de três anos, a avó de 68 anos e dois sobrinhos, de dois e oito anos, após saber que a PM não ficaria no morro à noite. Hoje de manhã, ela não teve coragem de trabalhar nem de levar o filho e os sobrinhos à escola. "Posso perder o emprego, mas não a vida."
O medo também fez com que cinco escolas próximas não funcionassem. Segundo funcionários, que falavam com jornalistas através de grades, muitos professores e alunos temeram sair de casa ou se mudaram temporariamente para a casa de parentes.
Braz determinou que as favelas Matriz, Quieto e Sampaio, que teriam ajudado na tentativa de invasão, recebam reforço policial por tempo indeterminado. Elas estão ocupadas desde sexta.
Nos morros dos Macacos e Pau da Bandeira, a ocupação foi decretada ontem. "Estamos muito bem posicionados, mas vamos incrementar ainda mais o policiamento naquela região. Nossa atuação tem sido intensa e, se houver novo tiroteio hoje [ontem], a PM estará presente."



Texto Anterior: Violência: Para polícia, PCC controla uma favela no Rio
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.