São Paulo, terça-feira, 28 de maio de 2002

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VIOLÊNCIA

Facção paulista teria assumido o tráfico na região do Barbante (zona oeste) com autorização do Comando Vermelho

Para polícia, PCC controla uma favela no Rio

DA SUCURSAL DO RIO

DA REPORTAGEM LOCAL

A facção criminosa paulista PCC (Primeiro Comando da Capital) assumiu o controle do tráfico na favela do Barbante, em Campo Grande (zona oeste do Rio), de acordo com a Drae (Divisão de Repressão a Armas e Explosivos) da Polícia Civil.
A conclusão dos policiais é mais uma evidência de que criminosos paulistas estão atuando no Rio. Na semana passada, uma quadrilha de São Paulo sequestrou a atriz Vanessa Bueno, 23, a Lili do programa "A Turma do Didi", da Rede Globo, e um casal.
"Criminosos paulistas já conquistaram esse espaço. Estamos investigando quem seria o líder deles na região", disse o diretor da Drae, delegado Cláudio Vieira.
A presença de criminosos paulistas na região foi confirmada por dois traficantes presos pela Drae na semana passada no conjunto habitacional Vilar Carioca, vizinho à favela do Barbante, antes dominada pela facção criminosa CV (Comando Vermelho).
Segundo Vieira, um dos presos disse que, além de negociar armas e drogas com traficantes cariocas, os paulistas estão sendo "abrigados" em favelas controladas pelo CV, de quem recebem autorização para atuar no Rio não só no tráfico, mas também em sequestros e em assaltos a banco.
A aliança entre o PCC e o CV fez com que a Polícia Civil do Rio iniciasse um intercâmbio de informações com a de São Paulo.
Representantes das corporações estiveram reunidos na semana passada, quando a polícia do Rio tomou conhecimento da existência de uma fita -gravada pela polícia paulista- em que o preso Reginaldo de Almeida, o Neguinho, do PCC, negociava com traficantes do CV o envio de fuzis para o Rio em troca de cocaína.
A polícia e o Ministério Público de São Paulo estão preparando um dossiê sobre ações do PCC fora de São Paulo, a partir das 460 horas de grampo telefônico que orientaram a ofensiva da semana passada contra a facção.
Segundo o promotor Márcio Sérgio Christino, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), as ligações interceptadas mostraram conversas entre presos de São Paulo com outros detentos em Mato Grosso, Bahia, Rio de Janeiro e Paraná. Em uma ligação, um detento da Bahia mandou assassinar, por telefone, um inimigo em uma delegacia de São Paulo.
"É como se funcionários de diferentes setores de uma empresa conversassem por telefone, mas sobre drogas e armas", disse o promotor, que desde a última quinta-feira está ouvindo, com a polícia, as principais lideranças do PCC e "aliados" deles.
Mônica Fiori Hernandes, um dos três advogados indiciados por formação de quadrilha por suposto envolvimento com ações do PCC em São Paulo, foi liberada ontem. Ela e os advogados Anselmo Neves Maia e Leyla Alambert foram presos na quinta-feira. Os três negam envolvimento.
"Mônica teve participação menos importante nas ações", afirmou Christino. A polícia gravou um telefonema entre Mônica e Sergio Luis Fidélis, membro do terceiro escalão do PCC, no qual ela que teria passado informações para o facção criminosa.
"Eu apenas cumpri o exercício da minha profissão", disse Mônica na noite de ontem, depois de ter sido liberada. A polícia, no entanto, deve pedir a prisão preventiva de Maia -suspeito de tentativa de homicídio- e de Leyla, indiciada por sequestro.
Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, apontado pela polícia como principal líder do PCC, até agora não foi indiciado pelas acusações de formação de quadrilha e pelos atentados contra prédios públicos em São Paulo. A Folha apurou que não há provas contra ele nem registro nas conversas interceptadas pela polícia.
Em depoimento na última sexta-feira, Marcola negou participação no PCC. Os outros líderes ouvidos pela polícia não citaram o nome dele nos interrogatórios. (MARIO HUGO MONKEN, ALESSANDRO SILVA E GILMAR PENTEADO)

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