São Paulo, sexta-feira, 28 de maio de 2004

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SAÚDE

Até agora, quatro morreram; sintomas são de gripe ou virose e há falência pulmonar; há corrida aos prontos-socorros

Doença misteriosa mata mais um no DF

LUIS RENATO STRAUSS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Secretaria de Saúde do Distrito Federal anunciou ontem a quarta morte devido a uma doença ainda não identificada. A divulgação da doença tem levado "inúmeras pessoas" aos prontos-socorros da região, segundo o governo. As pessoas têm procurado os agentes de saúde mesmo sem nenhum sintoma.
Das quatro pessoas que morreram desde o último sábado, três delas vieram da cidade-satélite de São Sebastião e uma de Paranoá. Tinham entre 16 e 24 anos.
"A quantidade de pessoas que foram para o pronto-socorro, de domingo para cá, é imensa. Desses pacientes, 15 foram colocados em observação. Desse grupo, um morreu, e três ainda estão em observação. Dois estão bem, e um está precisando de cuidado mais intenso [ontem estava na UTI]", afirmou o secretário de Saúde do DF, Arnaldo Bernardino.
Em todos os casos que deram em morte, os sintomas iniciais foram o de uma virose ou gripe forte: dor de cabeça, febre, dores no corpo, vômito, diarréia e dificuldade respiratória. O quadro evoluiu para uma falência pulmonar.
A Folha entrevistou uma funcionária da Unidade de Saúde Mista de São Sebastião. Ela, que pediu para não ser identificada, afirmou que as pessoas da cidade, em pânico, têm procurado o posto de saúde. No entanto, a maioria dos casos não passa de sintomas simples. A Secretaria de Saúde está centralizando as informações e não permite que outros órgãos distritais falem sobre o caso.
"Temos que acalmar essa população", afirmou Bernardino. Para isso, segundo ele, a secretaria já enviou para São Sebastião duas ambulâncias, 17 equipes médicas com 75 profissionais de saúde, que estão de plantão nas escolas. Triplicou o número de agentes de saúde na região. Eram 30 pessoas, e foram encaminhadas mais 60.
Os agentes de saúde têm coletado informações sobre os hábitos dos mortos e colhido amostras de água, mosquitos e ratos, que vão para a análise.
São Sebastião possui cerca de 70 mil habitantes. A região urbana se mistura com a rural, o que amplia o leque de doenças possíveis. Além disso, 10% da população toma água de cisternas e de poços.
A orientação é que as pessoas usem água tratada, fervam por 10 minutos ou utilizem duas gotas de água sanitária para cada litro de água (deve-se esperar por meia hora). Também informa que as pessoas devem evitar o contato com pó ou barro.
A última morte foi de um rapaz de 24 anos, cujo nome foi mantido em sigilo. Ele já tinha a doença havia quatro dias antes da internação. Anteontem, às 17h, ele procurou o Hospital de Base, em Brasília. Foi levado em estado grave para a UTI. Às 2h, morreu.
"Paciente grave é um paciente com febre alta, com dor no corpo intensa, com diarréia, com dificuldade de respirar. Um paciente que está roxo. É um paciente que precisa ser atendido na hora e entubado", disse Bernardino.
A necropsia detectou que, em todos os casos, houve derrame pleural (hemorragia na membrana que envolve os pulmões) e edema pulmonar (acúmulo anormal de líquido nos pulmões).
Segundo Bernardino, quatro doenças estão no foco das apurações. Não quis informar, no entanto, quais seriam. Na segunda, afirmou que poderia ser leptospirose ou hantavirose -o que condiz com as recomendações, já que a leptospirose pode se disseminar pela urina de ratos na água, e hantavirose pode se espalhar pelo pó.


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