São Paulo, sábado, 28 de maio de 2011

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ANÁLISE

Informações divulgadas trazem certezas e suscitam mais dúvidas sobre acidente

IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os dados preliminares sobre a tragédia do voo Air France 447, que caiu no oceano Atlântico em 2009, trazem algumas certezas e ainda mais dúvidas.
A primeira certeza é de natureza humana: as pessoas dentro do avião provavelmente estavam conscientes até a aeronave se chocar contra a água.
Os três minutos e 22 segundos da queda não foram acompanhados por despressurização e, aparentemente, o avião caiu de forma relativamente nivelada.
Isso tem impacto não só de narrativa, mas pode gerar também agravantes legais na hora de debater indenização (sobre o sofrimento dos passageiros).
A segunda certeza é, na verdade, uma confirmação que leva a outras perguntas, todas de ordem técnica.
Pelos dados franceses, o avião subiu de forma brusca após o piloto automático ter se desligado devido às leituras incorretas de velocidade nos painéis gêmeos do avião.
Assim, está resolvido o "como" o avião caiu: análogo a uma pedra, devido à perda de velocidade que acompanhou a "empinada" rumo ao teto de 38 mil pés.
A essa altura, o ar rarefeito dá poucas chances ao avião que margeia a velocidade do som. Muito rápido, entra em regime supersônico e pode ter a estrutura comprometida. Muito devagar, como foi o caso, ele despenca.
Mas a questão é por que os pilotos não conseguiram colocar o avião no prumo. A resposta óbvia aponta para a falta de indicadores de velocidade, uma vez que não houve falha aparente nas turbinas.
Um jato comercial não é um carro, o piloto não tem referencial externo a 12 km de altitude numa noite de tempestade -ou seja, depende do "velocímetro".
Haverá a especulação sobre a reação da tripulação, que só teve a orientação do comandante mais experiente depois que o caos estava instalado. É o caminho fácil, culpar pilotos, ajuda pouco neste momento.
A ausência do comandante em si não é um problema. O treinamento que todos receberam para esse tipo de situação, contudo, deve ser analisado.

SUSTENTAÇÃO
Outra dúvida importante diz respeito ao sistema "fly-by-wire", que equipa os Airbus, à exceção das gerações antigas, o Boeing-777 e os futuros modelos da empresa americana.
Ele garante que o avião se sustente no ar mesmo que o piloto cometa erros. Mas, quando há problemas, ele se degrada para níveis inferiores de controle.
No caso do voo AF447, ele estava em "lei alternada", ou seja, num estágio em que o piloto automático está desligado e é possível fazer quase todas as manobras -mas que em tese impede a queda por "stall", a perda de sustentação.
Fica a interrogação: houve um problema com a leitura das velocidades da aeronave, mas o quão relevante ele foi para confundir ao extremo os computadores criados justamente para evitar esse tipo de acidente?


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