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Passageiro pode não ter percebido queda
Segundo especialistas, ocupantes do avião da Air France possivelmente não sabiam da iminência do choque no mar
Por vários fatores, passageiros podem ter tido a sensação de que Airbus estava subindo, quando na verdade caía
ANDRÉ MONTEIRO
EVANDRO SPINELLI
RICARDO GALLO
DE SÃO PAULO
Os 216 passageiros do Airbus A330 da Air France não
sabiam que a aeronave estava prestes a cair no Atlântico
naquela noite de 31 de maio,
disse acreditar Jean-Paul
Troadec, diretor do BEA, o órgão francês responsável pela
apuração do acidente.
Durante a queda, é provável que os passageiros tenham sofrido um fenômeno
chamado de "desorientação
espacial". Quando isso ocorre, a pessoa não sabe para
qual direção está indo.
Além de Troadec, a Folha
conversou com pilotos, um
especialista em medicina aeroespacial e um engenheiro
que atua com certificação de
aeronaves; exceção ao diretor do BEA, todos aceitaram
conversar sob anonimato.
Eis os indícios:
1) o avião passava por uma
área de turbulência, balançando, à noite, com o céu escuro e, possivelmente, com a
maioria das janelas fechadas; em um cenário assim,
sem referências, é bastante
comum o sentido de equilíbrio do corpo ser afetado.
2) a queda da aeronave no
mar se deu com o nariz apontado para cima. A sensação
para alguns, até o momento
do impacto, era a de que o
avião subia, e não caía.
Diferentemente dos passageiros, os pilotos têm, em situações normais, como saber
a sua inclinação em relação
ao horizonte graças a um dispositivo instalado na cabine,
o "horizonte artificial".
Não se sabe se o equipamento funcionava ou não;
mesmo que estivessem em
operação, dizem especialistas, as panes causadas com o
congelamento das sondas pitot podem ter prejudicado a
avaliação da tripulação,
preocupada em descobrir rapidamente o que causava a
instabilidade na aeronave.
Há outro fator a corroborar
a hipótese de desorientação:
as fraturas nos corpos das vítimas examinados pelo IML
de Recife sinalizam que eles
não estavam com a cabeça
entre os joelhos, em posição
de emergência, na hora do
impacto com a água.
No acidente com Boeing
da Gol, que em 2006 se chocou contra um Legacy que vinha em sentido contrário, a
situação foi diferente.
As 154 vítimas morreram
ao se chocar contra o solo, segundo os laudos do IML de
Brasília, mas há indícios de
que os passageiros tenham
perdido a consciência antes
do impacto no chão.
Colaborou ANA CAROLINA DANI, de Paris
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