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Escolas infantis funcionam sem autorização
Prefeitura de SP não sabe estimar número de estabelecimentos sem registro; só neste ano, 74 pedidos foram negados
Segundo a Secretaria Municipal da Educação, a cidade inteira tem 1.609 escolas infantis privadas autorizadas a funcionar
EVANDRO SPINELLI
RICARDO SANGIOVANNI
DA REPORTAGEM LOCAL
Parquinho com areia antialérgica, laguinho artificial para
pescaria, três refeições diárias e
até aulas de alemão e inglês a
partir dos três meses de idade.
Tudo isso em período integral,
por uma mensalidade de R$
783,50, em excelente localização na Vila Leopoldina (zona
oeste de São Paulo). A típica
"escolinha perfeita" tem só um
defeito: não possui autorização
da prefeitura para funcionar.
A escola visitada pela Folha
na semana passada é apenas
um exemplo da falta de controle do poder público municipal
sobre locais que oferecem berçário, creche e pré-escola. Somada à falta de fiscalização, a
burocracia para obter a autorização de funcionamento da
prefeitura empurra uma incontável quantidade de escolinhas para a ilegalidade.
Segundo a Secretaria Municipal da Educação, a cidade tem
1.609 escolas infantis privadas
(creches e pré-escolas) autorizadas a funcionar. Mas não
existe uma estimativa de quantas são clandestinas.
Entre as autorizadas estão as
300 que têm convênio com a
prefeitura e atendem a cerca de
36 mil crianças de zero a seis
anos. As demais recebem juntas cerca de 100 mil crianças.
"A escola pode ser boa, adequada, mas sem autorização o
pai vai ter confiança de deixar
seu filho ali?", indaga Regina
Célia Silvestre, do Departamento Pedagógico do Sieeesp
(Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado de SP).
"O poder público não é responsável por essa escola. E se acontece alguma coisa lá dentro?"
Após a autorização, as vistorias técnicas passam a ser rotineiras -pelo menos uma vez
por ano, pelos 338 supervisores
de ensino. A autorização também é concedida ou negada por
esses mesmos funcionários.
Somente neste ano foram indeferidos 74 pedidos de funcionamento de escolas infantis
particulares por motivos que
vão da falta de alvará do prédio
(25 casos) a questões trabalhistas com os funcionários (três).
Mesmo com os pedidos indeferidos, as escolas podem continuar funcionando até que o
processo administrativo seja
concluído. O primeiro indeferimento é da DRE (Diretoria Regional de Educação). Depois,
cabe recurso à própria DRE e,
se o indeferimento for mantido, ao CME (Conselho Municipal de Educação).
Segundo a secretaria, não há
nenhum caso de escola com
problema estrutural que coloque em risco os alunos, embora
38 desses indeferimentos tenham sido causados por problemas nas instalações. "Se
uma escola oferecer qualquer
risco para a criança ela é fechada imediatamente, não sendo
necessário o cumprimento dos
trâmites e prazos", informou a
pasta, em nota.
O risco à criança, no entanto,
só é possível constatar se for
feita uma vistoria. Isso pode levar até cinco anos após a escola
protocolar o pedido de autorização. No caso da escola clandestina, que sequer pediu autorização, nem isso.
A maior reclamação das escolas é em relação à burocracia
para obter a autorização. O
Sieeesp tem um departamento
que dá orientações sobre como
obter a autorização. Mas no caso dos prédios sem alvará
-problema que atinge cerca de
200 mil dos 318 mil imóveis comerciais na cidade- , não há o
que fazer: se tudo correr bem, a
prefeitura leva até cinco anos
para conceder a licença.
A lei dá à prefeitura 90 dias
para responder a um pedido de
autorização. Mas não é isso o
que acontece. A escola Bibi-lú,
no Tucuruvi (zona norte) -indeferida pelo CME neste ano-,
por exemplo, esperou quatro
anos pela primeira vistoria.
"Só falta a gente entregar o
nosso DNA para eles", disse
Sandra Dorea dos Santos, diretora da escola. Ela tem até
quarta-feira para fechar as portas. "De toda a documentação,
só falta o protocolo da licença
de funcionamento."
A prefeitura informa que há
prazos para o cumprimento de
todas as regras. E que vale o
bom senso no caso das escolas
de qualidade. "Em alguns casos, são concedidos prazos
mais flexíveis, especialmente
quando se trata de adequação
documental, já que nem sempre o dono é responsável direto
por atrasos burocráticos", diz a
nota da secretaria.
Visitas
Passando-se por um pai interessado em matricular uma
criança de um ano e meio, reportagem visitou aleatoriamente três escolinhas em diferentes bairros da região oeste.
Aparentemente, não tinham
qualquer problema detectável.
As crianças brincavam e pareciam bem cuidadas.
Questionadas, as responsáveis pelas três escolinhas garantiram possuir toda a documentação necessária para funcionar. Apenas uma, porém,
mostrou cópia da documentação apresentada à prefeitura -
mesmo assim, sem a assinatura
da direção regional de ensino.
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