São Paulo, domingo, 28 de junho de 2009

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Favelas recebem encomenda sob escolta

Empresas de vigilância armada são contratadas para acompanhar entregas em áreas consideradas de alto risco de roubo

Roubos de carga na capital, que englobam as entregas para o consumidor final, aumentaram 22% em três anos, segundo companhias

LUIS KAWAGUTI
DA REPORTAGEM LOCAL

O mecânico Flávio Ribeiro, 37, recebe em sua casa em Perus (zona norte de São Paulo) uma estante para computador. O produto vem no caminhão de um magazine e está escoltado por dois homens armados.
"Eu mobiliei a casa inteira desse jeito. Sofá, TV de tela plana, móveis, todos eles vieram com escolta. Onde eu moro tem áreas perigosas e, se não tiver seguranças, assaltam o caminhão", disse ele.
Os vigilantes armados são o recurso usado por empresas como Casas Bahia, Pão de Açúcar, Correios (Sedex), transportadoras e lojas de vendas pela internet, entre outras, para a segurança preventiva, apesar do efetivo de 88 mil homens da Polícia Militar no Estado.
Os casos de roubos de carga ocorridos na capital -que englobam as entregas para o consumidor final- aumentaram 22% em três anos, segundo o Setcesp (Sindicato das Empresas de Transporte de Carga de São Paulo e Região).
Foram 3.924 casos ocorridos em 2008 contra 3.217 em 2006, segundo levantamento do Setcesp com dados da Secretaria de Segurança Pública. No primeiro trimestre deste ano, foram 1.095 casos na capital. Eles representam 60% dos roubos de carga no Estado. A maior parte, 318, foi na zona leste.
O horário entre 6h e meio-dia é o preferido dos ladrões, pois os caminhões de entrega ainda estão cheios de mercadorias, segundo Paulo Roberto de Souza, assessor de segurança do Setcesp. No primeiro trimestre do ano, 45% dos roubos de carga foram nesse horário.
"Já fui roubado seis vezes. A última foi há 15 dias: renderam a gente às 8h30 e mandaram o motorista seguir um bandido numa moto até uma chácara no Grajaú. Descarregamos lá. Passamos na frente da PM tentando pedir ajuda, mas eles não perceberam", disse um funcionário da Casas Bahia que pediu para não ser identificado.
A maior parte dos ataques acontece quando os caminhões param nas casas dos consumidores para fazer as entregas, segundo Autair Iuga, presidente da Comissão de Escolta Armada do Sesvesp -sindicato de empresas de segurança de São Paulo- e diretor da empresa Macor Security.
Geralmente, os funcionários são deixados presos no baú do caminhão, em área deserta.
Segundo Iuga, o principal alvo dos ladrões são os caminhões que levam televisores e produtos eletroeletrônicos, que têm maior valor de revenda e são de fácil comercialização.
Segundo dados do Setcesp, o prejuízo total das empresas de transporte de carga em São Paulo entre 2006 e 2008 foi de R$ 638 milhões. Só as cargas exclusivamente de eletroeletrônicos representaram 18% desse valor. As cargas variadas (caminhões de magazines, por exemplo) somaram 13%.
De acordo com a Polícia Federal, São Paulo tem hoje 52 empresas autorizadas para oferecer escolta. Quase a metade delas (24), estão na capital.

Áreas de risco
A definição de áreas de risco é feita com base no histórico de crimes sofridos pelas transportadoras, de relatórios de empresas avaliadoras de risco e do Setcesp, e pela experiência de cada empresa.
"São áreas onde é mais difícil chegar o braço armado do Estado. Mas, quando há uma saturação [de policiamento] em determinada área, os marginais migram para outras", afirmou.
Porém, roubos acontecem mesmo na presença da escolta. "Eu recebo produtos de beleza para revender a cada 15 dias. Uma vez, a van da transportadora foi assaltada com escolta e tudo na minha rua", disse uma revendedora de produtos de beleza Natura de São Miguel Paulista (zona leste de SP).
Segundo Souza, assessor de segurança do Setcesp, o combate aos receptadores de cargas roubadas é a melhor forma de reduzir esse tipo de crime. "A polícia está agindo, mas ainda tem muita coisa a ser feita".


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