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Favelas recebem encomenda sob escolta
Empresas de vigilância armada são contratadas para acompanhar entregas em áreas consideradas de alto risco de roubo
Roubos de carga na capital, que englobam as entregas para o consumidor final, aumentaram 22% em três anos, segundo companhias
LUIS KAWAGUTI
DA REPORTAGEM LOCAL
O mecânico Flávio Ribeiro,
37, recebe em sua casa em Perus (zona norte de São Paulo)
uma estante para computador.
O produto vem no caminhão de
um magazine e está escoltado
por dois homens armados.
"Eu mobiliei a casa inteira
desse jeito. Sofá, TV de tela plana, móveis, todos eles vieram
com escolta. Onde eu moro tem
áreas perigosas e, se não tiver
seguranças, assaltam o caminhão", disse ele.
Os vigilantes armados são o
recurso usado por empresas
como Casas Bahia, Pão de Açúcar, Correios (Sedex), transportadoras e lojas de vendas
pela internet, entre outras, para a segurança preventiva, apesar do efetivo de 88 mil homens
da Polícia Militar no Estado.
Os casos de roubos de carga
ocorridos na capital -que englobam as entregas para o consumidor final- aumentaram
22% em três anos, segundo o
Setcesp (Sindicato das Empresas de Transporte de Carga de
São Paulo e Região).
Foram 3.924 casos ocorridos
em 2008 contra 3.217 em 2006,
segundo levantamento do Setcesp com dados da Secretaria
de Segurança Pública. No primeiro trimestre deste ano, foram 1.095 casos na capital. Eles
representam 60% dos roubos
de carga no Estado. A maior
parte, 318, foi na zona leste.
O horário entre 6h e meio-dia é o preferido dos ladrões,
pois os caminhões de entrega
ainda estão cheios de mercadorias, segundo Paulo Roberto de
Souza, assessor de segurança
do Setcesp. No primeiro trimestre do ano, 45% dos roubos
de carga foram nesse horário.
"Já fui roubado seis vezes. A
última foi há 15 dias: renderam
a gente às 8h30 e mandaram o
motorista seguir um bandido
numa moto até uma chácara no
Grajaú. Descarregamos lá. Passamos na frente da PM tentando pedir ajuda, mas eles não
perceberam", disse um funcionário da Casas Bahia que pediu
para não ser identificado.
A maior parte dos ataques
acontece quando os caminhões
param nas casas dos consumidores para fazer as entregas, segundo Autair Iuga, presidente
da Comissão de Escolta Armada do Sesvesp -sindicato de
empresas de segurança de São
Paulo- e diretor da empresa
Macor Security.
Geralmente, os funcionários
são deixados presos no baú do
caminhão, em área deserta.
Segundo Iuga, o principal alvo dos ladrões são os caminhões que levam televisores e
produtos eletroeletrônicos,
que têm maior valor de revenda
e são de fácil comercialização.
Segundo dados do Setcesp, o
prejuízo total das empresas de
transporte de carga em São
Paulo entre 2006 e 2008 foi de
R$ 638 milhões. Só as cargas
exclusivamente de eletroeletrônicos representaram 18%
desse valor. As cargas variadas
(caminhões de magazines, por
exemplo) somaram 13%.
De acordo com a Polícia Federal, São Paulo tem hoje 52
empresas autorizadas para oferecer escolta. Quase a metade
delas (24), estão na capital.
Áreas de risco
A definição de áreas de risco
é feita com base no histórico de
crimes sofridos pelas transportadoras, de relatórios de empresas avaliadoras de risco e do
Setcesp, e pela experiência de
cada empresa.
"São áreas onde é mais difícil
chegar o braço armado do Estado. Mas, quando há uma saturação [de policiamento] em determinada área, os marginais
migram para outras", afirmou.
Porém, roubos acontecem
mesmo na presença da escolta.
"Eu recebo produtos de beleza
para revender a cada 15 dias.
Uma vez, a van da transportadora foi assaltada com escolta e
tudo na minha rua", disse uma
revendedora de produtos de
beleza Natura de São Miguel
Paulista (zona leste de SP).
Segundo Souza, assessor de
segurança do Setcesp, o combate aos receptadores de cargas
roubadas é a melhor forma de
reduzir esse tipo de crime. "A
polícia está agindo, mas ainda
tem muita coisa a ser feita".
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