Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Medida não é boa a longo prazo, diz professor
Para engenheiro e docente da Escola Politécnica, restrição aos ônibus fretados vai resultar em aumento da lentidão na cidade
"Se você imaginar que
quem usa fretados vai usar automóveis, essas medidas tendem a piorar o trânsito", diz Cláudio Barbieri da Cunha
DA REPORTAGEM LOCAL
A restrição aos fretados deve
melhorar o trânsito a curto prazo e piorá-lo a longo prazo, já
que a fluidez incentivará mais
pessoas a usarem o carro.
Na opinião do professor de
engenharia de transportes da
Escola Politécnica da USP,
Cláudio Barbieri da Cunha, essa é uma das consequências da
medida, que também terá reflexos na atual relação da capital
com outros municípios.
(MARIANA BARROS)
FOLHA - Como avaliar a restrição?
CLÁUDIO BARBIERI DA CUNHA - É nítido para quem trafega nos
principais corredores -Faria
Lima, Berrini e Paulista- que
os fretados atrapalham o fluxo
de carros e os ônibus municipais. É um sistema que tem virtudes, porque é coletivo. Mas,
se você imaginar que quem usa
fretados vai usar automóveis,
essas medidas tendem a piorar
o trânsito [a longo prazo].
FOLHA - Impedir os fretados é a
melhor forma de melhorar o trânsito na capital?
CUNHA - Toda a infraestrutura
de transporte corre atrás do
prejuízo. Tentar alagar avenidas onde o trânsito já está crítico, por exemplo. Mas aí criam-se condições para aquela região
se desenvolver. Tenho certeza
de que a pista nova da Imigrantes fez com que mais gente fosse morar em Santos.
As obras da marginal Tietê
vão melhorar o trânsito e fazer
com que as pessoas pensem
que compensa morar no interior, por exemplo. E com isso
você cria mais transporte. Impedir fretados, nesse sentido, é
uma quebra de paradigma.
FOLHA - Com medidas como a
restrição, é possível que as pessoas
que moram nas cidades vizinhas se
sintam menos dispostas a trabalhar
na capital?
CUNHA - São Paulo continua
sendo um grande atrativo de
mão de obra, o que do ponto de
vista de transporte é difícil.
Com o tempo [e a dificuldade
de se chegar à capital], as pessoas de outros municípios vão
querer trabalhar perto de onde
moram. Mas não estou entrando no mérito social, se existe
emprego nas outras cidades.
FOLHA - Isso não pode trazer prejuízos econômicos para São Paulo?
CUNHA - Empresas, podem
preferir outros locais para se
instalarem. Mas será que São
Paulo ainda precisa atrair empresas a qualquer preço, lidar
com problemas de transporte
cada vez mais complexos?
Atrair menos é gastar menos
com infraestrutrura. É preciso
ver se o adicional de arrecadação compensa o de custo que
essas pessoas vão trazer.
Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Análise: Restrição incentiva transporte individual Índice
|