São Paulo, terça-feira, 28 de julho de 2009

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Medida não é boa a longo prazo, diz professor

Para engenheiro e docente da Escola Politécnica, restrição aos ônibus fretados vai resultar em aumento da lentidão na cidade

"Se você imaginar que quem usa fretados vai usar automóveis, essas medidas tendem a piorar o trânsito", diz Cláudio Barbieri da Cunha

DA REPORTAGEM LOCAL

A restrição aos fretados deve melhorar o trânsito a curto prazo e piorá-lo a longo prazo, já que a fluidez incentivará mais pessoas a usarem o carro. Na opinião do professor de engenharia de transportes da Escola Politécnica da USP, Cláudio Barbieri da Cunha, essa é uma das consequências da medida, que também terá reflexos na atual relação da capital com outros municípios. (MARIANA BARROS)

 

FOLHA - Como avaliar a restrição?
CLÁUDIO BARBIERI DA CUNHA -
É nítido para quem trafega nos principais corredores -Faria Lima, Berrini e Paulista- que os fretados atrapalham o fluxo de carros e os ônibus municipais. É um sistema que tem virtudes, porque é coletivo. Mas, se você imaginar que quem usa fretados vai usar automóveis, essas medidas tendem a piorar o trânsito [a longo prazo].

FOLHA - Impedir os fretados é a melhor forma de melhorar o trânsito na capital?
CUNHA -
Toda a infraestrutura de transporte corre atrás do prejuízo. Tentar alagar avenidas onde o trânsito já está crítico, por exemplo. Mas aí criam-se condições para aquela região se desenvolver. Tenho certeza de que a pista nova da Imigrantes fez com que mais gente fosse morar em Santos. As obras da marginal Tietê vão melhorar o trânsito e fazer com que as pessoas pensem que compensa morar no interior, por exemplo. E com isso você cria mais transporte. Impedir fretados, nesse sentido, é uma quebra de paradigma.

FOLHA - Com medidas como a restrição, é possível que as pessoas que moram nas cidades vizinhas se sintam menos dispostas a trabalhar na capital?
CUNHA -
São Paulo continua sendo um grande atrativo de mão de obra, o que do ponto de vista de transporte é difícil. Com o tempo [e a dificuldade de se chegar à capital], as pessoas de outros municípios vão querer trabalhar perto de onde moram. Mas não estou entrando no mérito social, se existe emprego nas outras cidades.

FOLHA - Isso não pode trazer prejuízos econômicos para São Paulo?
CUNHA -
Empresas, podem preferir outros locais para se instalarem. Mas será que São Paulo ainda precisa atrair empresas a qualquer preço, lidar com problemas de transporte cada vez mais complexos? Atrair menos é gastar menos com infraestrutrura. É preciso ver se o adicional de arrecadação compensa o de custo que essas pessoas vão trazer.


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