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ANÁLISE
Restrição incentiva transporte individual
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
A restrição aos ônibus fretados vai na contramão do que
prega a maioria dos especialistas -por desestimular uma forma de transporte coletivo e, na
prática, criar incentivos ao
transporte individual, mais
prejudicial à sociedade.
Em qualquer lugar do mundo, a dificuldade é convencer as
pessoas a deixar seus carros na
garagem para usar ônibus,
trens e até metrô. Aqui, ao restringir de forma severa os fretados, o prefeito Gilberto Kassab
(DEM) passa mensagem inversa, principalmente quando usa
como justificativa a melhoria
da fluidez do trânsito.
A leitura inevitável para a população é: ficará mais difícil ir
de ônibus fretado, mas haverá
menos trânsito para quem optar pelo automóvel (embora isso seja uma meia verdade, porque deve aumentar a quantidade de veículos no médio prazo,
eliminando os eventuais ganhos da redução de fretados).
O problema é agravado pela
crise por que passam as alternativas de transporte público
oferecidas a esses usuários.
A taxa de reprovação aos ônibus paulistanos foi a mais alta
da década em 2008 -somente
40% estão satisfeitos. A prefeitura freou gastos em pistas exclusivas para os coletivos. O
metrô bate recordes de superlotação e chega a ter até nove
pessoas por metro quadrado.
Os fretados se tornaram nos
últimos anos um tipo de carona
organizada para pessoas das
classes média e baixa que descobriram um transporte coletivo mais barato do que andar de
carro e não tão desconfortável
como os ônibus convencionais.
A expansão se deu até de forma desordenada: cada um fazendo seu trajeto, muitos de
maneira clandestina, parando
em qualquer lugar da rua para
embarque e desembarque e,
por isso, prejudicando a fluidez
dos carros e dos demais ônibus.
É por isso que, dizem os técnicos, é necessário haver exigências (como limitação dos
pontos de parada e autorização
oficial das rotas) para os fretados e combater as irregularidades. Mas sem inviabilizá-los.
A iniciativa de Kassab conseguiu desagradar tanto técnicos
do município como integrantes
da cúpula do transporte do governo José Serra (PSDB).
Do jeito que está, quem está
comemorando são algumas
empresas de ônibus urbanos,
tradicionais aliadas do prefeito.
As viações sempre combateram aquilo que chamam de
concorrência desleal dos ônibus fretados e sempre criticaram esse transporte por atrapalhar a velocidade das linhas
convencionais -problema que,
de acordo com especialistas,
poderia ser resolvido não só
com uma melhor organização
dos fretados, mas com medidas
como a construção de novos
corredores de ônibus e o combate à utilização dessas pistas
exclusivas pelos carros.
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