São Paulo, terça-feira, 28 de julho de 2009

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ANÁLISE

Restrição incentiva transporte individual

ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

A restrição aos ônibus fretados vai na contramão do que prega a maioria dos especialistas -por desestimular uma forma de transporte coletivo e, na prática, criar incentivos ao transporte individual, mais prejudicial à sociedade.
Em qualquer lugar do mundo, a dificuldade é convencer as pessoas a deixar seus carros na garagem para usar ônibus, trens e até metrô. Aqui, ao restringir de forma severa os fretados, o prefeito Gilberto Kassab (DEM) passa mensagem inversa, principalmente quando usa como justificativa a melhoria da fluidez do trânsito.
A leitura inevitável para a população é: ficará mais difícil ir de ônibus fretado, mas haverá menos trânsito para quem optar pelo automóvel (embora isso seja uma meia verdade, porque deve aumentar a quantidade de veículos no médio prazo, eliminando os eventuais ganhos da redução de fretados).
O problema é agravado pela crise por que passam as alternativas de transporte público oferecidas a esses usuários.
A taxa de reprovação aos ônibus paulistanos foi a mais alta da década em 2008 -somente 40% estão satisfeitos. A prefeitura freou gastos em pistas exclusivas para os coletivos. O metrô bate recordes de superlotação e chega a ter até nove pessoas por metro quadrado.
Os fretados se tornaram nos últimos anos um tipo de carona organizada para pessoas das classes média e baixa que descobriram um transporte coletivo mais barato do que andar de carro e não tão desconfortável como os ônibus convencionais.
A expansão se deu até de forma desordenada: cada um fazendo seu trajeto, muitos de maneira clandestina, parando em qualquer lugar da rua para embarque e desembarque e, por isso, prejudicando a fluidez dos carros e dos demais ônibus.
É por isso que, dizem os técnicos, é necessário haver exigências (como limitação dos pontos de parada e autorização oficial das rotas) para os fretados e combater as irregularidades. Mas sem inviabilizá-los.
A iniciativa de Kassab conseguiu desagradar tanto técnicos do município como integrantes da cúpula do transporte do governo José Serra (PSDB).
Do jeito que está, quem está comemorando são algumas empresas de ônibus urbanos, tradicionais aliadas do prefeito.
As viações sempre combateram aquilo que chamam de concorrência desleal dos ônibus fretados e sempre criticaram esse transporte por atrapalhar a velocidade das linhas convencionais -problema que, de acordo com especialistas, poderia ser resolvido não só com uma melhor organização dos fretados, mas com medidas como a construção de novos corredores de ônibus e o combate à utilização dessas pistas exclusivas pelos carros.


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