São Paulo, domingo, 28 de agosto de 2005

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"Ninguém está isento de ser fotografado"

DA REDAÇÃO

Além da ameaça à já tão frágil privacidade, os celulares com câmera estão estabelecendo novos padrões de comportamento e, até, uma nova relação da sociedade com a imagem.
Os registros são mais espontâneos -o acúmulo de fotos parece infinito. Álbuns e porta-retratos estão sendo substituídos por fotologs.
"Hoje, tirar fotografia é banal. É um tique, uma mania. A produção da imagem vai ficando cada vez mais acessível", afirma o professor de semiótica da PUC Arlindo Machado. Segundo ele, o celular com câmera e as próprias câmeras digitais são apenas mais uma etapa de um longo processo de "dessacralização da imagem".
"A tendência é que nada fique isento de ser fotografado, é como se o mundo estivesse exposto", diz Machado. "Você sabe que não está sozinho em lugar nenhum."
Ele diz que nossa cultura está saindo da era da escrita. "Hoje, tudo é imagem, ninguém mais carrega papel e caneta." Ou seja, a foto registra momentos, mas também idéias e informações.
Os alunos do curso de design multimídia, no Senac, são prova disso. Na classe, anotações foram abolidas. Eles fotografam a lousa e depois repassam a imagem para os colegas via e-mail.
O destino das fotos digitais também mudou. Poucos imprimem o material. Depois de serem enviadas por e-mail, ilustram sites de relacionamento ou fotologs.
Para Yvette Piha Lehman, professora de psicologia social da USP, o celular com câmera pode ser encarado como um novo brinquedo, "que pode ser lúdico".
Lehman compara, por exemplo, o significado dos álbuns com os fotologs. "Antes, a foto sustentava uma história. Hoje, é apenas uma documentação visual desconexa." Ou seja, se antes as fotos mostravam uma trajetória e apresentavam uma pessoa, agora são como pequenos flashes do cotidiano.
"Essas fotos são pouco vistas, não têm mais a função de guardar a memória. São efêmeras, armazenadas e esquecidas", concorda a antropóloga Rita Oliveira.


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