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"Ninguém está
isento de ser
fotografado"
DA REDAÇÃO
Além da ameaça à já tão
frágil privacidade, os celulares com câmera estão estabelecendo novos padrões de
comportamento e, até, uma
nova relação da sociedade
com a imagem.
Os registros são mais espontâneos -o acúmulo de
fotos parece infinito. Álbuns
e porta-retratos estão sendo
substituídos por fotologs.
"Hoje, tirar fotografia é banal. É um tique, uma mania.
A produção da imagem vai
ficando cada vez mais acessível", afirma o professor de
semiótica da PUC Arlindo
Machado. Segundo ele, o celular com câmera e as próprias câmeras digitais são
apenas mais uma etapa de
um longo processo de "dessacralização da imagem".
"A tendência é que nada fique isento de ser fotografado, é como se o mundo estivesse exposto", diz Machado. "Você sabe que não está
sozinho em lugar nenhum."
Ele diz que nossa cultura
está saindo da era da escrita.
"Hoje, tudo é imagem, ninguém mais carrega papel e
caneta." Ou seja, a foto registra momentos, mas também
idéias e informações.
Os alunos do curso de design multimídia, no Senac,
são prova disso. Na classe,
anotações foram abolidas.
Eles fotografam a lousa e depois repassam a imagem para os colegas via e-mail.
O destino das fotos digitais
também mudou. Poucos
imprimem o material. Depois de serem enviadas por
e-mail, ilustram sites de relacionamento ou fotologs.
Para Yvette Piha Lehman,
professora de psicologia social da USP, o celular com
câmera pode ser encarado
como um novo brinquedo,
"que pode ser lúdico".
Lehman compara, por
exemplo, o significado dos
álbuns com os fotologs.
"Antes, a foto sustentava
uma história. Hoje, é apenas
uma documentação visual
desconexa." Ou seja, se antes
as fotos mostravam uma trajetória e apresentavam uma
pessoa, agora são como pequenos flashes do cotidiano.
"Essas fotos são pouco vistas, não têm mais a função
de guardar a memória. São
efêmeras, armazenadas e esquecidas", concorda a antropóloga Rita Oliveira.
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