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IMAGEM É TUDO
Nas ruas, nas escolas e na noite, quase ninguém está livre de ser fotografado em "flagrante" sem perceber
Celular com foto cria "geração paparazzi"
NINA LEMOS
COLUNISTA DA FOLHA
CONSTANÇA TATSCH
DA REDAÇÃO
Não é preciso ser uma pessoa famosa para ser alvo de paparazzis.
Hoje, com a popularização dos telefones celulares, qualquer um
pode ter seu dia de celebridade
com privacidade invadida.
Se você for conhecido do produtor de moda Marcelo (nome
fictício), 24, pode se preparar para
ter seus passos guiados como se
você fosse uma Daniela Cicarelli
após terminar o romance com o
atacante Ronaldinho.
"Tiro foto com meu celular o
dia inteiro. Outro dia mesmo fotografei um cara de quem uma
amiga minha é afim andando na
rua e mandei a foto para ela por e-mail naquele momento." O menino, garante, não percebeu que estava sendo fotografado.
De tanto flagrar anônimos,
Marcelo desenvolveu técnicas de
paparazzi profissional - o termo
surgiu quando fotófragos italianos que trabalhavam nas ruas se
especializaram em expor segredos de astros de cinema. Depois,
tanto o termo quanto a nova profissão ganharam o mundo. Agora,
virou coisa também de amadores.
"Finjo que estou falando ao telefone e depois miro o celular como
se fosse para um ponto perdido,
mas é para a pessoa", diz. Entre
seus objetos de fetiche preferidos
estão "pessoas, roupas, cortes de
cabelo". "Se vejo alguém interessante, fotografo e mando para os
amigos por mensagem. O mais
divertido é justamente fotografar
sem as pessoas percebam."
A estudante de direito Michelle
Martins, 23, também tem suas
técnicas de papparazi. Mas na sua
mira estão principalmente seus
amigos. "Fotografo sem eles vejam." A brincadeira já quase acabou em briga. "Uma vez fotografei uns amigos se beijando na noite sem que eles percebessem.
Contaram para a minha amiga.
Ela me obrigou a apagar a foto na
frente dela com medo de que eu
colocasse em meu fotolog", conta.
Em território livre, poucos costumam ter problemas ao fazer as vezes de paparazzi.
Na praia
Por isso, o publicitário Márcio
(nome fictício), 40, escolheu a
praia como seu principal território para brincar de fotógrafo-espião. Em sua mira estão homens e
mulheres de biquíni, fotografados
em suas partes mais íntimas. Márcio sempre faz esse tipo de foto,
mas nunca teve problemas com
seus modelos. "Faço disfarçadamente, mas acho que as pessoas
sabem que estão sendo fotografadas. E gostam disso."
É claro que a maior parte das
pessoas gosta de fotografar de forma tranqüila. "Não sou paparazzi. Toda foto eu mostro. Uma coisa é usar por diversão. Outra é
querer flagrar alguma coisa", diz
o estudante de administração,
Diego Curbelo, 25.
Diego adquiriu o aparelho há
três meses e já tirou cerca de 200
fotos. "O celular com câmera já
está virando um item obrigatório.
Hoje é uma febre, mas, com o passar do tempo, as pessoas vão incorporar ao cotidiano", diz.
Direito e privacidade
Mas, fotografar livremente e poder expor pessoas sem sua autorização, muitas vezes até por escrito, é uma atividade de risco. Se a
pessoa se sentir ofendida, pode
inclusive entrar na Justiça.
"Tudo o que estiver na rua, lugar do público por excelência, pode ser fotografado. Muda de figura se eu entro na sua casa e devasso sua intimidade, sem sua autorização, sem seu conhecimento",
afirma o conselheiro federal da
OAB (Ordem dos Advogados do
Brasil) e professor de dirteito penal da PUC Alberto Zacharias Toron. Essa invasão pode gerar danos morais para o ofendido, no
plano de direito civil.
Já os casos em que alguém é fotografado nu ou tendo relações
sexuais podem ser caracterizados
como uma forma de atentado ao
pudor, segundo Toron. "Mas não
existe uma lei específica, seria o
caso de se regular isso. Criminalmente, inclusive, para não permitir que as pessoas sejam invadidas", diz o especialista.
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