São Paulo, Sábado, 28 de Agosto de 1999
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CIDADANIA
Projeto prepara dançarinos de 6 a 16 anos para teste do Theatro Municipal
Dançar balé "salva" crianças no Rio

FERNANDA DA ESCÓSSIA
da Sucursal do Rio

Luanda de Andrade Thiago, 12, resume o que tem sido sua vida nos últimos cinco anos com uma frase: dançar balé para não "dançar" na vida. "Dançar na vida é morrer, é entrar para o tráfico, é não ser feliz", diz ela.
A definição de Luanda é o lema do projeto "Dançando para não dançar", que atende 100 crianças e adolescentes dos morros Pavão-Pavãozinho-Cantagalo, em Ipanema (zona sul), Rocinha (zona sul) e Mangueira (zona norte).
O projeto foi criado há cinco anos por Thereza Aguilar, 34, bailarina profissional durante dez anos. "Tive a idéia quando estava dançando no balé de Cuba. Lá foi feito um trabalho semelhante com crianças das comunidades, e o resultado é um dos melhores balés do mundo", afirma.
As escolas dos morros preparam as crianças de 6 a 16 anos, gratuitamente, para a disputa da seleção da escola de balé do Theatro Municipal do Rio. Este ano, o projeto vai ser estendido para o morro do Chapéu Mangueira, no Leme (zona sul). Há também planos de se implantar o projeto em Curitiba (PR).
Duas garotas do Cantagalo, Luanda Thiago e Jéssica Antunes, já alunas da escola do Municipal, foram selecionadas para um curso de um ano na Escola de Balé de Berlim, na Alemanha. As despesas das duas serão pagas pela produtora Vídeo Filmes, do cineasta Walter Salles, que realizou um documentário sobre o projeto.
Thereza Aguilar conta que, quando iniciou o trabalho, não havia uniforme nem sapatilhas para os alunos.
As crianças vêm de famílias pobres e muitas têm de trabalhar para ajudar em casa. Francisca Josiane Emiliano Soares, 13, até hoje vende bala para ajudar a mãe.
"Dançar é minha vida, é aqui que eu me sinto em casa. O balé é a minha arte, é ele que vai me fazer ser alguém", diz.
Parcerias com entidades não-governamentais, órgãos públicos e privados garantiram a sobrevivência do projeto nos últimos cinco anos. A partir do mês que vem, um patrocínio de R$ 140 mil anuais da Petrobras Distribuidora vai permitir que o projeto atenda 150 crianças e adolescentes.


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