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Investir em estrutura não basta, dizem educadores
É preciso melhorar condições de trabalho dos professores e a organização pedagógica
"Escola precisa ser um lugar para que jovem se desenvolva como um todo, e não só em português ou matemática", diz professora
DA REPORTAGEM LOCAL
Investimentos em bibliotecas, oficinas de arte e quadras é
importante para que as crianças tenham condições de se desenvolverem socialmente. Mas
não bastam. Para melhorar os
conhecimentos dos alunos em
disciplinas como língua portuguesa e matemática, é preciso
atuar nas condições de trabalho dos professores e na organização pedagógica.
Essa é a análise feita por educadores entrevistados pela Folha sobre a comparação entre
as notas médias dos CEUs e as
das escolas de lata. Eles dizem
que a Prova Brasil avalia apenas o desempenho acadêmico,
não levando em conta problemas decorrentes da precariedade das unidades de lata.
"Certamente, as crianças que
estudaram em escolas de lata
terão problemas até de saúde,
principalmente por causa do
barulho", disse Helena Albuquerque, professora da Faculdade de Educação da PUC-SP.
"Além disso, dificilmente esses estudantes terão lembranças gostosas dos momentos na
escola. Isso pode desestimulá-los a continuar os estudos."
A professora da Faculdade
de Educação da USP Silvia Colello afirma que "uma criança
no CEU tem muito mais condições de se desenvolver culturalmente e até fisicamente".
"Em uma simples aula de
educação física, a criança consegue aprender a seguir regras,
devido ao esporte", diz Colello.
"A escola precisa ser um lugar
para que o jovem se desenvolva
como um todo, e não só em
português ou matemática."
Lisandre Castello Branco,
também da USP, concorda.
"Não adianta uma estrutura
magnífica sem um profissional
competente." "Mas não há como negar que uma criança com
acesso a equipamentos culturais e esportivos terão uma formação social mais ampla."
Para Artur Costa Neto,
membro do Conselho Municipal de Educação, o investimento nos CEUs foi uma política
"correta", pois melhorou as
condições culturais e de lazer
para a periferia.
Para o diretor de avaliação da
educação básica do Inep (instituto de pesquisas do Ministério
da Educação), Amaury Gremaud, os dados mostram que é
possível fazer um bom trabalho
em condições adversas. Cita a
escola de lata Rogê Ferreira
(leia nesta página). "Por outro
lado, se não houver um bom
projeto, um espaço como o
CEU pode ficar subutilizado."
Alcir Ferreira, diretor de ensino fundamental do CEU Meninos, o que teve melhor desempenho na avaliação, com
176,42 pontos em português e
191,61 em matemática, confirma que o sucesso dos alunos na
avaliação se deve mesmo à dedicação dos professores e a um
projeto que divide as turmas
segundo graus de dificuldades
por matérias. "A infra-estrutura ajuda o trabalho, que é muito
mais diversificado, mas o fundamental é a formação e o estímulo do corpo docente."
O benefício de ter uma escola
com espaços diferenciados é
poder acostumar as crianças,
desde pequenas, a uma formação cultural e esportiva. Na tarde de terça, quando a reportagem visitou a unidade, alunos
de 3 anos escolhiam livros na
enorme biblioteca, acompanhados da professora. "São estímulos importantes, que servirão para a vida toda."
Esse tipo de estímulo, os estudantes da Emef Jardim das
Laranjeiras, em São Mateus, na
zona leste, não tiveram. Há dez
dias eles estudam na nova escola de alvenaria mas, até então, tiveram de conviver apertados no colégio de latinha e
passaram os últimos meses
sem ter a sala de leitura.
"Para construir a nova unidade, precisaram cortar a escola ao meio. A diretoria e a secretaria ficaram na sala de leitura. A equipe teve de se organizar para levar o projeto pedagógico adiante", diz a diretora,
Luciane Souza."
Elton, 12, aluno da 6ª série,
mal acredita que hoje tem uma
sala de aula "de verdade". "Era
quente demais na latinha e tinha pouco espaço, ficava difícil
prestar atenção."
(DANIELA TÓFOLI
E FÁBIO TAKAHASHI)
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