São Paulo, domingo, 28 de setembro de 2008

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VÂNIA JACINTO GOMES (1967-2008)

Genes de uma pesada herança familiar

WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A história dos quilos a mais dos Jacinto Gomes teve em Vânia um triste paroxismo.
Do pai (e tios e primos) aos dez filhos, todos eram obesos. "É mal de família", diz a irmã. Mas Vânia Jacinto Gomes, entre decepções e depressões, chegou a pesar 300 kg. E pagou, ela sozinha, o preço da "hereditariedade".
O espelho mais difícil de encarar era a mãe, única magra na família. Era o lado genético do pai, diziam, que os engordava. Vânia até nasceu magra; começou a ficar cheinha na adolescência. "Mas casou já gorda", diz a irmã, e continuou a engordar após o marido morrer -estava grávida. "Aí, não parou mais."
A depressão a levou às massas e doces. Vivia da pensão (ele era auxiliar de limpeza, como o fora) e não trabalhava. Só saía para ir ao carro.
"Passava o dia na cama, fazendo crochê, vendo TV, ouvindo música gospel, que era temente a Deus." Mesmo deitada, oxigênio no nariz, brincava com os sobrinhos "e dizia que ia casar", diz a irmã.
"Independentemente do sofrimento, era feliz."
Há dois anos na fila para a cirurgia de estômago no SUS, morreu segunda, de insuficiência cardíaca, aos 41. "O sonho dela era fazer a cirurgia do doutor Lazzarotto", famoso por operações no intestino. Não teve o dinheiro.
"Mas não maldizia." A prova era a agendinha vermelha, achada dias depois, onde escrevia sua gratidão (apesar de não ter nem o primário).
"Morreu assim, mas morreu feliz, agradecendo a Deus."

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