|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VÂNIA JACINTO GOMES (1967-2008)
Genes de uma pesada herança familiar
WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
A história dos quilos a mais
dos Jacinto Gomes teve em
Vânia um triste paroxismo.
Do pai (e tios e primos) aos
dez filhos, todos eram obesos. "É mal de família", diz a
irmã. Mas Vânia Jacinto Gomes, entre decepções e depressões, chegou a pesar 300
kg. E pagou, ela sozinha, o
preço da "hereditariedade".
O espelho mais difícil de
encarar era a mãe, única magra na família. Era o lado genético do pai, diziam, que os
engordava. Vânia até nasceu
magra; começou a ficar cheinha na adolescência. "Mas
casou já gorda", diz a irmã, e
continuou a engordar após o
marido morrer -estava grávida. "Aí, não parou mais."
A depressão a levou às
massas e doces. Vivia da pensão (ele era auxiliar de limpeza, como o fora) e não trabalhava. Só saía para ir ao carro.
"Passava o dia na cama, fazendo crochê, vendo TV, ouvindo música gospel, que era
temente a Deus." Mesmo
deitada, oxigênio no nariz,
brincava com os sobrinhos "e
dizia que ia casar", diz a irmã.
"Independentemente do sofrimento, era feliz."
Há dois anos na fila para a
cirurgia de estômago no SUS,
morreu segunda, de insuficiência cardíaca, aos 41. "O
sonho dela era fazer a cirurgia do doutor Lazzarotto",
famoso por operações no intestino. Não teve o dinheiro.
"Mas não maldizia." A prova era a agendinha vermelha,
achada dias depois, onde escrevia sua gratidão (apesar
de não ter nem o primário).
"Morreu assim, mas morreu
feliz, agradecendo a Deus."
obituario@folhasp.com.br
Texto Anterior: Mortes Próximo Texto: Saúde/Mulher: Mulheres usam injeção para estimular ponto G Índice
|