São Paulo, segunda-feira, 28 de outubro de 2002

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Prevenção e tratamento devem começar cedo

DA REPORTAGEM LOCAL

"As crianças têm vergonha de vir ao consultório, de dizer que vêm ao consultório. Quando dois pacientes que frequentam a mesma escola se encontram na sala de espera, sempre o mais tímido fica envergonhado ao pensar que alguém mais sabe que ele precisou vir ao médico porque é gordo."
O depoimento do endocrinologista Ricardo Marum, que tem uma clínica para obesos de todas as idades na Vila Nova Conceição (bairro nobre na zona sul de São Paulo), mostra um dos lados nefastos do problema: as questões de auto-estima e aceitação.
Do outro lado, estão as complicações da saúde física. Elas vão do desgaste nas articulações dos joelhos e quadris (por causa do excesso de peso) até as dificuldades de aprendizado e concentração em consequência de apnéia (parada na respiração) no sono.
Outras consequências são o inevitável aumento precoce dos níveis de colesterol e triglicérides no sangue -que favorecem a ocorrência de infartos e derrames- e possivelmente uma maior suscetibilidade à incidência de diabetes do tipo 2 (que surge geralmente em pessoas adultas).

Tratamento
A prevenção e, se for o caso, o tratamento devem começar o mais cedo possível, de preferência na primeira infância (até os cinco anos), dizem os especialistas.
Isso porque, entre os seis e sete anos de idade, as crianças passam pela segunda grande multiplicação de células que armazenam gordura -a primeira se dá até o bebê fazer um ano. Se já possuem uma predisposição genética e/ou se alimentam de forma errada nessa fase da vida, elas terão maior possibilidade de desenvolver mais tecido adiposo, ou seja, ficarão cada vez mais gordas.
Depois dos sete anos, as mulheres ainda ganham gordura naturalmente -sem precisar, para isso, comer mais- na puberdade e na gravidez; os homens, por sua vez, não passam mais por esse processo, o que não significa que não podem mais engordar, e sim que isso será mais difícil.
Além da genética e dos erros na alimentação, outro fator que leva à obesidade infantil é o sedentarismo, aponta José Augusto Taddei, chefe da disciplina de nutrição e metabolismo do departamento de Pediatria da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). Pesquisa realizada no âmbito da disciplina concluiu que crianças que assistem a mais de quatro horas de televisão por dia têm chance 88% maior de se tornarem obesas, se comparadas àquelas que ficam menos tempo.
O estudo, que envolveu cerca de 2.500 crianças entre sete e dez anos de oito escolas públicas da Vila Mariana (zona sul), identificou uma proporção de 12% de obesos, o que surpreendeu os pesquisadores. "Pelos levantamentos nacionais, esperávamos ter por volta de 5%", afirma Taddei.
No Brasil, entre 1974 e 1997, a prevalência de crianças entre seis e nove anos com sobrepeso aumentou de 4,9% para 17,4%. O aumento foi maior na classe alta (de 3,2% para 21,3%), mas a obesidade tem se mostrado "democrática", segundo os especialistas, por falta de informação e pelo fato de os alimentos gordurosos serem, geralmente, mais baratos. (MV)


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