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São Paulo, terça-feira, 28 de outubro de 2003

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RAVE NA RUA

Garoto de 16 anos foi achado afogado no lago do Ibirapuera depois de participar de evento de música eletrônica

Após morte de jovem, PM quer fim de festa

CHICO DE GOIS
DA REPORTAGEM LOCAL

O estudante Gutemberg Clarindo Oliveira, 16, morreu afogado no lago do parque Ibirapuera depois de ter participado da Parada AME São Paulo (Associação dos Amigos da Música Eletrônica), realizada domingo em torno do Monumento às Bandeiras, no Ibirapuera (zona sul), e que atraiu cerca de 170 mil pessoas para ouvir 16 trios elétricos.
A Polícia Militar irá sugerir ao Ministério Público Estadual que adote medidas para proibir que a parada venha a ser feita nas ruas da cidade. Seu comando, no entanto, nega que a decisão esteja vinculada ao incidente.
O corpo de Oliveira foi encontrado por bombeiros à 1h29 de ontem, a cerca de dois metros de profundidade e três metros de distância da margem do lago. Durante a festividade, que durou das 12h às 20h, dezenas de jovens se jogaram nas águas poluídas devido ao intenso calor. Sem sucesso, a Guarda Civil Metropolitana tentou impedi-los.
Amigos contam que Oliveira entrou no lago por volta de 20h40. De acordo com um comunicado da Secretaria Municipal do Governo, o Corpo de Bombeiros foi notificado do desaparecimento do estudante às 21h09.
"Tinha muita gente nadando no lago. O Gugu [apelido da vítima] disse que sabia nadar "mais ou menos". Falei para ele ficar na beirada. Dez minutos depois, ele sumiu", disse Eric William, 20 anos, estudante de engenharia, amigo de Gutemberg Oliveira.
De acordo com seus amigos, o adolescente não havia usado drogas e não bebia devido a problemas de saúde. "Ele tomou só água, a tarde inteira", disse Eric, que também entrou no lago, com a namorada, e estava distante da margem quando o grupo se deu conta que o garoto desaparecera.
Outro amigo do estudante morto, o atendente técnico Bruno Souza Xavier, 19 anos, disse que estava fora da água, sentado na grama, quando percebeu o sumiço e começou a gritar o nome de Oliveira, procurando por ele.
O estudante havia ido à festa com seis jovens da vizinhança, na região de A. E. Carvalho (zona leste da capital). Ele estudava no 1º ano do ensino médio de uma escola estadual.

Local inadequado
O tenente-coronel Pércio Cordeiro, comandante do 12º Batalhão da PM e responsável pela área do Ibirapuera, disse à Folha que estava concluindo ontem seu relatório sobre a parada e que iria pedir a proibição da rave de rua no local onde foi realizada.
"O evento é inadequado naquele lugar", afirmou Cordeiro. O tenente-coronel fez questão de esclarecer, no entanto, que sua decisão não tem nada a ver com a morte do estudante. "A morte aconteceu depois que a parada já havia terminado."
O militar apontou o excesso de bebida alcoólica como um dos maiores problemas enfrentados pela polícia. "Não havia nenhum fiscal da prefeitura para proibir a ação dos ambulantes." Cordeiro relatou que, por causa da embriaguez, foram registradas brigas, lesões corporais e várias pessoas apresentaram sinais de início de coma alcoólico. "Lamento a falta de organização e de fiscalização."
Cordeiro disse que festas como essas deveriam ser realizadas em locais fechados, "onde é mais fácil ter controle do público", e lembrou o caso da Folia na Faria, um carnaval que era realizado na avenida Faria Lima, mas foi transferido para o sambódromo. "Havia gangues de jiu-jitsu, roubos e muitos distúrbios", afirmou.


Colaborou o "Agora"


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