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LITERATURA CONCRETISTA
Verba financiará biblioteca comunitária de morador da zona norte do Rio que arquiteto projetou
BNDES paga parceria de Niemeyer e pedreiro
DA SUCURSAL DO RIO
A maior obra do pedreiro Evando dos Santos ganhou sinal verde.
O BNDES aprovou nesta semana
a liberação de R$ 600 mil para a
construção da biblioteca comunitária Tobias Barreto de Menezes.
Hoje com cerca de 40 mil volumes, a biblioteca foi criada há sete
anos por Evando, um sergipano
(de Aquidabã) apaixonado por livros, e funciona em sua própria
casa, na Vila da Penha, bairro de
classe média baixa da zona norte
do Rio de Janeiro. O pedreiro conseguiu que Oscar Niemeyer fizesse de graça o projeto do prédio.
"Doei o projeto porque gostei
muito da idéia do rapaz", disse
ontem Niemeyer, 98, que nunca
havia desenhado uma biblioteca.
"Não é um milagre? Um pedreiro, nordestino, sem eira nem beira, de mãe solteira e pai desconhecido, que passou fome, conseguir
um projeto de um gênio como
Niemeyer?", comemorou Evando, 45, na cidade de Carangola
(MG), onde foi participar da reinauguração de uma biblioteca.
Ele quer mesmo que sua história vire referência. No Rio, costuma emprestar sua experiência para quem deseja criar bibliotecas
comunitárias. Na próxima semana, fará isso no morro do Cajueiro, em Madureira (zona norte).
Evando abriu a biblioteca com
50 títulos e disposição para pedir
doações. A peculiaridade da iniciativa não está só em abrigar os
livros na própria garagem: o local
funciona diariamente, as pessoas
pegam quantos livros desejam e,
se não devolvem, tudo bem.
"Se ficou é porque gostou, um
bom sinal", costuma dizer Evando, que tem a prática de doar livros a pessoas nas ruas. Diz seguir
o preceito do escritor (e sergipano) Tobias Barreto de Menezes
(1839-1889). "Para ele, o homem
só podia se organizar se se libertasse. E só podia se libertar lendo.
O homem é feito do que come e
daquilo que não come, dizia."
O projeto de Niemeyer prevê
uma grande sala de 100 m2 para os
livros e, no segundo andar, duas
salas nas quais funcionará a Faculdade Comunitária Paulo Mercadante, em homenagem ao escritor e advogado mineiro.
Segundo Evando, as pessoas poderão estudar letras pagando uma
taxa simbólica e, principalmente,
repassando conhecimentos. "Eles
devem criar concursos de poesia,
mobilizar as comunidades em
torno dos livros", disse ele, que
pretende receber doações com a
campanha "Adote um estudante
que não pode pagar faculdade e
diminua os bandidos do Brasil".
A obra coordenada pela UFRJ
(Universidade Federal do Rio de
Janeiro) deve começar em dezembro e, segundo Evando, acabará
em 17 de julho de 2006, quando a
biblioteca completará oito anos.
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