São Paulo, sexta-feira, 28 de outubro de 2005

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LITERATURA CONCRETISTA

Verba financiará biblioteca comunitária de morador da zona norte do Rio que arquiteto projetou

BNDES paga parceria de Niemeyer e pedreiro

DA SUCURSAL DO RIO

A maior obra do pedreiro Evando dos Santos ganhou sinal verde. O BNDES aprovou nesta semana a liberação de R$ 600 mil para a construção da biblioteca comunitária Tobias Barreto de Menezes.
Hoje com cerca de 40 mil volumes, a biblioteca foi criada há sete anos por Evando, um sergipano (de Aquidabã) apaixonado por livros, e funciona em sua própria casa, na Vila da Penha, bairro de classe média baixa da zona norte do Rio de Janeiro. O pedreiro conseguiu que Oscar Niemeyer fizesse de graça o projeto do prédio.
"Doei o projeto porque gostei muito da idéia do rapaz", disse ontem Niemeyer, 98, que nunca havia desenhado uma biblioteca.
"Não é um milagre? Um pedreiro, nordestino, sem eira nem beira, de mãe solteira e pai desconhecido, que passou fome, conseguir um projeto de um gênio como Niemeyer?", comemorou Evando, 45, na cidade de Carangola (MG), onde foi participar da reinauguração de uma biblioteca.
Ele quer mesmo que sua história vire referência. No Rio, costuma emprestar sua experiência para quem deseja criar bibliotecas comunitárias. Na próxima semana, fará isso no morro do Cajueiro, em Madureira (zona norte).
Evando abriu a biblioteca com 50 títulos e disposição para pedir doações. A peculiaridade da iniciativa não está só em abrigar os livros na própria garagem: o local funciona diariamente, as pessoas pegam quantos livros desejam e, se não devolvem, tudo bem.
"Se ficou é porque gostou, um bom sinal", costuma dizer Evando, que tem a prática de doar livros a pessoas nas ruas. Diz seguir o preceito do escritor (e sergipano) Tobias Barreto de Menezes (1839-1889). "Para ele, o homem só podia se organizar se se libertasse. E só podia se libertar lendo. O homem é feito do que come e daquilo que não come, dizia."
O projeto de Niemeyer prevê uma grande sala de 100 m2 para os livros e, no segundo andar, duas salas nas quais funcionará a Faculdade Comunitária Paulo Mercadante, em homenagem ao escritor e advogado mineiro.
Segundo Evando, as pessoas poderão estudar letras pagando uma taxa simbólica e, principalmente, repassando conhecimentos. "Eles devem criar concursos de poesia, mobilizar as comunidades em torno dos livros", disse ele, que pretende receber doações com a campanha "Adote um estudante que não pode pagar faculdade e diminua os bandidos do Brasil".
A obra coordenada pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) deve começar em dezembro e, segundo Evando, acabará em 17 de julho de 2006, quando a biblioteca completará oito anos.


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