São Paulo, sábado, 28 de outubro de 2006

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Reintegração acelera recuperação de esquizofrênicos

Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas estudou 43 pacientes, que fizeram estágio em estabelecimentos comerciais

Houve melhora nos sintomas e em itens como memória, concentração, fluência verbal e capacidade de abstração dos pacientes


CONSTANÇA TATSCH
DA REPORTAGEM LOCAL

Estudo realizado pelo Instituto de Psiquiatria do HC de São Paulo demonstrou que a reintegração dos portadores de esquizofrenia é ponto importante para a recuperação.
O projeto, chamado ReAção, envolveu 43 pacientes com a doença sob controle. Durante seis meses, metade deles participava de estágio em algum estabelecimento comercial. Passado o período, era a vez da outra metade, que até então fazia apenas o acompanhamento ambulatorial.
De acordo com o professor de psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP e autor do estudo, Wagner F. Gattaz, existem três grupos de sintomas da doença: os produtivos (delírio, distorção da realidade e alucinações), os negativos (perda de impulsos, estreitamento dos interesses, diminuição da capacidade de mostrar sentimentos) e o déficit cognitivo (como raciocínio lógico, abstração, linguagem).
O trabalho não incluiu pacientes que apresentassem os sintomas produtivos. Mas o estágio melhorou os sintomas negativos e o rendimento neuro psicológico, como concentração, memória, fluência verbal e capacidade de abstração.
"No rendimento cognitivo, que é o que demora mais para ser recuperado, conseguimos melhoras importantes e significativas em funções como controle dos impulsos, raciocínio lógico verbal e não verbal, capacidade de planejamento intelectual, linguagem, abstração e capacidade adaptativa", diz.
Os pacientes trabalharam em estabelecimentos como lojas, livraria, cybercafé e restaurantes. Receberam uma bolsa de R$ 200 para ajudar no transporte e refeições. O dinheiro vinha do próprio programa, patrocinado pela Souza Cruz.
Além das melhoras clínicas, o estágio possibilitou que os esquizofrênicos fossem reintegrados. "Se a pessoa vai procurar trabalho e fala "eu tive uma fratura de fêmur, fiquei seis meses internado e quero voltar a trabalhar", tudo bem. Mas, se a pessoa afirma "eu tive um surto psiquiátrico, mas estou bem agora", se diz "ah, tá bom'", conta Gattaz, para quem o estigma desses pacientes é um grave empecilho para a recuperação.
A grande surpresa foi que o desempenho dos estagiários agradou além do esperado, e 14 foram contratados.


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