São Paulo, sábado, 28 de outubro de 2006

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Mães influenciam em rendimento escolar

Levantamento feito por demógrafo aponta que o desempenho de estudantes é pior quando a mãe é menos escolarizada

Para Eduardo Rios, investir em escolas de período integral para os filhos dessas mulheres reduzirá desigualdade no ensino


ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

Uma em cada cinco mães de crianças de zero a quatro anos no país são analfabetas totais ou funcionais. O dado, revelado pelo demógrafo Eduardo Rios Neto, do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Universidade Federal de Minas Gerais, indica um desafio para o Brasil que só será enfrentado, em sua opinião, com a adoção de políticas de ações afirmativas para esse grupo já no ensino básico.
A defesa de políticas públicas que privilegiem esse grupo tem como forte argumento a favor um dado bastante conhecido dos que trabalham com indicadores educacionais: um dos fatores que mais explicam o desempenho do estudante é a escolaridade da mãe.
Isso pode ser comprovado por meio do Saeb, exame do MEC que avalia a qualidade da educação brasileira. Entre os alunos cujas mães nunca estudaram, 78,3% tiveram desempenho crítico ou muito crítico. O percentual é também alto (63,1%) para as mães com menos de quatro anos completos de estudo, consideradas analfabetas funcionais. Já entre filhos de mães com nível superior, a proporção cai para 35,7%.
A diferença no desempenho entre alunos conforme a escolaridade da mãe permanece mesmo quando se compara estudantes da mesma turma e nível socioeconômico. Mesmo em condições rigorosamente iguais, esses alunos terão mais dificuldade para aprender.
Os estudos do Cedeplar mostram que o percentual de crianças com mães com baixa escolaridade já foi maior no Brasil. Em 1983, por exemplo, elas eram 48% do total. Ainda assim, na opinião do demógrafo, o percentual de 20% é alto e traz desafios a serem enfrentados.
"Se não agirmos de forma a compensar essa desigualdade desde cedo, dificilmente vamos atingir o objetivo de alcançar uma sociedade baseada num sistema meritocrático que dê oportunidades iguais para todos", diz o demógrafo.
Para reverter esse quadro, Neto sugere políticas como escolas de tempo integral, melhor acesso a creches e pré-escolas de qualidade e uma melhor preparação da mãe para ensiná-la como ajudar a desenvolver as potencialidades do filho.
Para ele, o investimento maior nesse grupo se justifica por que, se os recursos forem divididos igualmente entre todos, isso não será suficiente para compensar a desigualdade herdada por causa da baixa escolaridade da mãe.
"Quanto melhor for o sistema de ensino que desejamos daqui para a frente, maior será a demanda sobre a mãe para o acompanhamento do filho. Cabe ao Estado encontrar alguma forma de compensar essa deficiência, caso contrário, vamos continuar com um sistema em que parte dele terá uma educação de qualidade e outra não."
As políticas de transferência de renda para essas mães menos escolarizadas são, na opinião de Neto, necessárias, porém insuficientes. "É preciso discutir o problema da oferta dos serviços, já que essa escola precisará ser de qualidade para compensar a desigualdade."
Para o demógrafo, a preocupação com as políticas públicas para esse segmento deve levar em conta não apenas as crianças que estão nascendo neste momento mas também as crianças e jovens que, por causa dessas adversidades, adquiriram uma defasagem muito grande em relação aos demais.
É por isso que ele defende uma espécie de segunda fase do Bolsa Família, em que haja melhoria dos serviços voltados para a primeira infância ao mesmo tempo em que o benefício seja estendido para família com jovens. Hoje, só são consideradas no cálculo do valor a ser recebido pelo programa crianças menores de 15 anos.


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