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Mães influenciam em rendimento escolar
Levantamento feito por demógrafo aponta que o desempenho de estudantes é pior quando a mãe é menos escolarizada
Para Eduardo Rios, investir em escolas de período integral para os filhos dessas mulheres reduzirá desigualdade no ensino
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Uma em cada cinco mães de
crianças de zero a quatro anos
no país são analfabetas totais
ou funcionais. O dado, revelado
pelo demógrafo Eduardo Rios
Neto, do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Universidade Federal de
Minas Gerais, indica um desafio para o Brasil que só será enfrentado, em sua opinião, com a
adoção de políticas de ações
afirmativas para esse grupo já
no ensino básico.
A defesa de políticas públicas
que privilegiem esse grupo tem
como forte argumento a favor
um dado bastante conhecido
dos que trabalham com indicadores educacionais: um dos fatores que mais explicam o desempenho do estudante é a escolaridade da mãe.
Isso pode ser comprovado
por meio do Saeb, exame do
MEC que avalia a qualidade da
educação brasileira. Entre os
alunos cujas mães nunca estudaram, 78,3% tiveram desempenho crítico ou muito crítico.
O percentual é também alto
(63,1%) para as mães com menos de quatro anos completos
de estudo, consideradas analfabetas funcionais. Já entre filhos
de mães com nível superior, a
proporção cai para 35,7%.
A diferença no desempenho
entre alunos conforme a escolaridade da mãe permanece
mesmo quando se compara estudantes da mesma turma e nível socioeconômico. Mesmo
em condições rigorosamente
iguais, esses alunos terão mais
dificuldade para aprender.
Os estudos do Cedeplar mostram que o percentual de crianças com mães com baixa escolaridade já foi maior no Brasil.
Em 1983, por exemplo, elas
eram 48% do total. Ainda assim, na opinião do demógrafo, o
percentual de 20% é alto e traz
desafios a serem enfrentados.
"Se não agirmos de forma a
compensar essa desigualdade
desde cedo, dificilmente vamos
atingir o objetivo de alcançar
uma sociedade baseada num
sistema meritocrático que dê
oportunidades iguais para todos", diz o demógrafo.
Para reverter esse quadro,
Neto sugere políticas como escolas de tempo integral, melhor
acesso a creches e pré-escolas
de qualidade e uma melhor preparação da mãe para ensiná-la
como ajudar a desenvolver as
potencialidades do filho.
Para ele, o investimento
maior nesse grupo se justifica
por que, se os recursos forem
divididos igualmente entre todos, isso não será suficiente para compensar a desigualdade
herdada por causa da baixa escolaridade da mãe.
"Quanto melhor for o sistema de ensino que desejamos
daqui para a frente, maior será
a demanda sobre a mãe para o
acompanhamento do filho. Cabe ao Estado encontrar alguma
forma de compensar essa deficiência, caso contrário, vamos
continuar com um sistema em
que parte dele terá uma educação de qualidade e outra não."
As políticas de transferência
de renda para essas mães menos escolarizadas são, na opinião de Neto, necessárias, porém insuficientes. "É preciso
discutir o problema da oferta
dos serviços, já que essa escola
precisará ser de qualidade para
compensar a desigualdade."
Para o demógrafo, a preocupação com as políticas públicas
para esse segmento deve levar
em conta não apenas as crianças que estão nascendo neste
momento mas também as
crianças e jovens que, por causa
dessas adversidades, adquiriram uma defasagem muito
grande em relação aos demais.
É por isso que ele defende
uma espécie de segunda fase do
Bolsa Família, em que haja melhoria dos serviços voltados para a primeira infância ao mesmo tempo em que o benefício
seja estendido para família com
jovens. Hoje, só são consideradas no cálculo do valor a ser recebido pelo programa crianças
menores de 15 anos.
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