|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
FOCO
Biquíni no parque Buenos Aires divide usuários
Uso é proibido por regulamento interno; regras variam em cada parque da cidade
CRISTINA MORENO DE CASTRO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Fazia sol, após vários dias
de frio, e Marilia Balbi, 58,
decidiu se deitar no gramado
do parque Buenos Aires, em
Higienópolis (região central
de São Paulo). De biquíni.
Pouco depois, foi interrompida pelo vigilante, que disse
que não poderia continuar ali
com "roupas íntimas". Ela argumentou que ficaria só 15
minutos e ele se foi.
Quando voltou, estava
acompanhado de quatro
guardas metropolitanos, que
a levaram para ler as normas
do parque na administração.
Portaria 28/02, artigo 5º, inciso 17: é proibido "tomar sol
de biquíni ou sunga".
A norma faz parte de apostila de treinamento entregue
a todos os vigilantes do parque que, em última instância, decidem quem está infringindo uma regra ou não.
Cada parque tem regulamento próprio; no Ibirapuera, por
exemplo, é comum mulheres
tomarem sol de biquíni.
Usuários dizem que é corriqueiro ver mulheres de short
e a parte de cima do biquíni e
homens sem camisa no Buenos Aires. A área tem 25 mil
m2 e Marilia diz que foi tomar
sol num canto do gramado,
"longe dos passantes".
"Chama muito a atenção e
os moradores reclamam",
justificou um dos vigilantes.
"As babás já reclamam dos
idosos sem camisa", disse
outro. O parque tem oito vigilantes e 35 proibições.
"Uma intimidação pública
lamentável e preconceituosa. Existe alguma lei neste
país que proíbe tomar sol de
biquíni em parques públicos?", questiona Marilia.
Dos 15 frequentadores ouvidos pela Folha na tarde de
anteontem, cinco -entre 27 e
77 anos- concordavam com
o veto do biquíni. Quatro deles achavam que também os
homens sem camisa deveriam ser proibidos ali.
Os argumentos mais comuns são a "inadequação"
da roupa, em um parque "pequeno" e frequentado, sobretudo, por crianças e idosos.
Esse é também o argumento do supervisor do parque,
Eduardo Panten. "Biquíni ou
sunga são inadequados. Nossa finalidade é evitar o conflito, mas não há discriminação
ou constrangimento. É que a
sociedade é conservadora."
Já os favoráveis ao uso do
biquíni -entre 22 e 67 anos-
argumentam que o ambiente
ali é ideal para tomar sol em
contato com a natureza e que
os trajes devem ser definidos
pelo bom senso de cada um.
"Proibir é um falso moralismo", dizem o engenheiro
Rivaldo de Paula, 67, e a secretária Ivani Monteiro, 59.
O sociólogo esloveno Marko Ferk, 32, que mora perto
do Buenos Aires há três meses, diz que em seu país há
mais liberdade e, em cidades
da Alemanha e Espanha, é
comum ver as mulheres até
de "top less" nos parques.
"As leis nascem de uma
necessidade; se a cultura e as
pessoas acham que tem que
proibir, tudo bem."
O secretário do Verde e do
Meio Ambiente, Eduardo Jorge, disse em nota que "não é
contrário ao uso de biquíni
nos parques" e enviará carta
ao conselho gestor do Buenos Aires "sugerindo que este item seja reavaliado".
FOLHA.com
DEPOIMENTO
Leia o depoimento de
Marilia Balbi
folha.com.br/ct821425
Texto Anterior: Morte na calçada: Falta de socorro a homem que morreu em frente a PS é apurada Próximo Texto: Amigo virtual vira real para 38% dos jovens, diz estudo Índice | Comunicar Erros
|