São Paulo, quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

FOCO

Biquíni no parque Buenos Aires divide usuários

Uso é proibido por regulamento interno; regras variam em cada parque da cidade

CRISTINA MORENO DE CASTRO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Fazia sol, após vários dias de frio, e Marilia Balbi, 58, decidiu se deitar no gramado do parque Buenos Aires, em Higienópolis (região central de São Paulo). De biquíni.
Pouco depois, foi interrompida pelo vigilante, que disse que não poderia continuar ali com "roupas íntimas". Ela argumentou que ficaria só 15 minutos e ele se foi.
Quando voltou, estava acompanhado de quatro guardas metropolitanos, que a levaram para ler as normas do parque na administração. Portaria 28/02, artigo 5º, inciso 17: é proibido "tomar sol de biquíni ou sunga".
A norma faz parte de apostila de treinamento entregue a todos os vigilantes do parque que, em última instância, decidem quem está infringindo uma regra ou não. Cada parque tem regulamento próprio; no Ibirapuera, por exemplo, é comum mulheres tomarem sol de biquíni.
Usuários dizem que é corriqueiro ver mulheres de short e a parte de cima do biquíni e homens sem camisa no Buenos Aires. A área tem 25 mil m2 e Marilia diz que foi tomar sol num canto do gramado, "longe dos passantes".
"Chama muito a atenção e os moradores reclamam", justificou um dos vigilantes.
"As babás já reclamam dos idosos sem camisa", disse outro. O parque tem oito vigilantes e 35 proibições.
"Uma intimidação pública lamentável e preconceituosa. Existe alguma lei neste país que proíbe tomar sol de biquíni em parques públicos?", questiona Marilia.
Dos 15 frequentadores ouvidos pela Folha na tarde de anteontem, cinco -entre 27 e 77 anos- concordavam com o veto do biquíni. Quatro deles achavam que também os homens sem camisa deveriam ser proibidos ali.
Os argumentos mais comuns são a "inadequação" da roupa, em um parque "pequeno" e frequentado, sobretudo, por crianças e idosos. Esse é também o argumento do supervisor do parque, Eduardo Panten. "Biquíni ou sunga são inadequados. Nossa finalidade é evitar o conflito, mas não há discriminação ou constrangimento. É que a sociedade é conservadora."
Já os favoráveis ao uso do biquíni -entre 22 e 67 anos- argumentam que o ambiente ali é ideal para tomar sol em contato com a natureza e que os trajes devem ser definidos pelo bom senso de cada um.
"Proibir é um falso moralismo", dizem o engenheiro Rivaldo de Paula, 67, e a secretária Ivani Monteiro, 59. O sociólogo esloveno Marko Ferk, 32, que mora perto do Buenos Aires há três meses, diz que em seu país há mais liberdade e, em cidades da Alemanha e Espanha, é comum ver as mulheres até de "top less" nos parques.
"As leis nascem de uma necessidade; se a cultura e as pessoas acham que tem que proibir, tudo bem."
O secretário do Verde e do Meio Ambiente, Eduardo Jorge, disse em nota que "não é contrário ao uso de biquíni nos parques" e enviará carta ao conselho gestor do Buenos Aires "sugerindo que este item seja reavaliado".

FOLHA.com
DEPOIMENTO
Leia o depoimento de Marilia Balbi
folha.com.br/ct821425


Texto Anterior: Morte na calçada: Falta de socorro a homem que morreu em frente a PS é apurada
Próximo Texto: Amigo virtual vira real para 38% dos jovens, diz estudo
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.