São Paulo, Domingo, 28 de Novembro de 1999


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Entidade vai treiná-lo para visitar a Febem

da Reportagem Local

Nos próximos meses, Júnior vai voltar à Febem. Será agora um dos voluntários do Jeame, entidade que o recuperou.
"Queremos que os meninos dêem o recado. Porque não há ninguém melhor para falar com os internos do que quem já passou por tudo aquilo", diz Fernando Holanda, 38, coordenador da instituição.
Promover a multiplicação de recuperadores é um dos objetivos da entidade. Recuperar internos é um das metas de Júnior. "Vou contar a minha história para ser o espelho deles. Porque eu sei que lá dentro tem muita gente que acha que as únicas saídas são a morte ou a cadeia", diz o ex-interno.
Pelo Jeame, Júnior já fala em igrejas das mais variadas tendências. É o que os religiosos chamam de dar testemunho.
É com as conversas que o Jeame quer diminuir o preconceito e aumentar o número de colaboradores da instituição.
Na escola de informática, ele já sente os resultados do trabalho. Tem um colega que frequenta uma das igrejas já visitadas pelo grupo. Para o menino, um adolescente da mesma faixa etária de Júnior, o ex-interno é um colega normal.
"Eu acho muito legal ele estudar aqui", diz Tiago Rezende Fiorini, 18. "Isso o ajuda a esquecer o que ele foi no passado e dá uma força no futuro."
Tiago foi criado do outro lado do balcão: em uma família de classe média, uma das tantas já assaltadas em São Paulo.
"Eu acho que a gente tem que tentar desculpar", diz, indagado se teria a mesma tranquilidade caso sua família fosse uma das vítimas de Júnior. "Pode ser que eu ficasse um pouco desconfiado, mas todo mundo merece uma chance."
Tiago e a empresária Miriam concordam, porém, que a capacidade de desculpar e oferecer ajuda tende a ser inversamente proporcional à dor já sentida. "Entendo que famílias que sofreram perdas maiores não consigam ajudar. Talvez eu não conseguisse", diz Miriam.
Isso, Júnior também entende. "Se eu encontrar uma vítima, ela pode gritar, fazer escândalo. É direito dela. Mas a sociedade tem que ajudar, não pode só fazer escândalo", diz ele. (SC)

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