São Paulo, segunda-feira, 28 de novembro de 2005

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"Quero morrer perto dos meus filhos"

DA REPORTAGEM LOCAL

Aos 79 anos, completados na prisão no último dia 10, Iolanda Figueiral diz que tem um único pedido: morrer na companhia dos filhos. A ex-bóia-fria, mãe de quatro filhos -de sete, três já morreram, um deles de desnutrição, aos três anos-, afirma que é inocente e não oferece nenhum risco à sociedade.

 

Folha - A senhora é acusada de um crime grave, segundo a legislação brasileira.
Iolanda Figueiral -
Nem quando era jovem fiz uma coisa dessas. Acha que agora eu ia me enfiar no meio disso? Quem faz isso não tem os dedos aleijados assim [mostra os calos nas mãos]. Se eu fizesse tudo isso que estão falando, não iria passar por tudo que passei na vida.

Folha - E o que aconteceu, então?
Iolanda -
Estava estendendo roupa quando minha nora gritou que um homem entrou na minha casa e jogou uma coisa. Aí, catei a sacolinha e ia jogar no mato quando a polícia apareceu.

Folha - A senhora sabia o que tinha na sacola?
Iolanda -
Abri a sacola. Tinha um monte de papel embrulhado. Mas Deus está vendo que eu não sou traficante.

Folha - O que a senhora quer?
Iolanda -
Quero morrer perto dos meus filhos. Não agüento mais ficar na prisão. Deixar uma mulher doente nessa situação, não há Justiça. Não sou traficante, sempre fiz serviço bruto.

Folha - O que a senhora fez?
Iolanda -
Toda a vida eu trabalhei. Acordava cinco horas da manhã. Era bóia-fria, apanhava café, algodão, fazia colheita de tomate.

Folha - A senhora sustentava a família?
Iolanda -
Meu marido ficava o dia inteiro bebendo [ele morreu há 20 anos, de cirrose]. Eu fazia o serviço de homem. Passava fome com as crianças [teve sete, quatro sobreviveram]. Minha filha de três anos morreu de desnutrição. Então, depois virei bóia-fria. Comecei a enfrentar serviço bruto [começa a se contorcer de dor]. Depois fui catar papelão.

Folha - A senhora oferece alguma ameaça para a sociedade?
Iolanda -
Se eu fosse tão ruim, ninguém gostaria de mim.


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