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Presas preferem cela vizinha à masculina a ficar longe de filhos
KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM
Na cadeia pública de Portel
(650 km de Belém-PA), na ilha
de Marajó, seis mulheres se espremem em um cubículo de 9
m2. Ao lado delas, outras quatro
celas com capacidade para 15
presos abrigam 49 homens, todos já condenados.
A superlotação no local e os
homens -com quem não têm
contato direto- não intimidam as mulheres, a maioria
acusada de tráfico de drogas.
Elas não querem ser transferidas para o presídio feminino
de Ananindeua, na região metropolitana de Belém, como
manda a governadora Ana Júlia Carepa (PT).
Dizem que vão deixar de ver
seus filhos. Uma presa está, inclusive, amamentando. Maria
Mendes de Souza, 30, tem cinco filhos (de 4, 6, 8, 13 e 14
anos), além do bebê, de 11 meses. A detenta está na delegacia
de Portel há quatro meses. "Os
meus filhos vêm me ver aqui,
na cadeia. Se eu for para Belém,
não poderei amamentar meu
bebê", diz ela, em depoimento
à Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados.
A Folha teve acesso à fita com
as gravações.
Ontem, o bispo da Prelazia
de Marajó, dom José Luís Azcona, criticou as transferências
"forçadas". "É crueldade e falta
de humanidade essas transferências. São torturas medievais, mas bem atualizadas nos
dias de hoje no Pará."
Entre Portel e Belém há uma
distância de 650 km. O acesso
entre as duas cidades só é possível de avião ou de barco
-uma viagem que chega a 12
horas. As presas dizem que as
famílias não têm recursos para
pagar as passagens para visitá-las no presídio de Ananindeua.
O presídio é superlotado: tem
217 presas para 204 vagas (138
são provisórias, aguardando
decisão judicial).
Na cadeia de Portel, dividem
o cubículo com Maria Mendes
as presas Maria das Graças
Marques Cunha, 25, três filhos,
a mãe dela, Edna Aquino Marques, 45, que tem mais três filhos, Marlete Mendes Gomes,
29, um filho, Gelsione de Lima
Santana, 28, um filho, e Luciana Tavares Miranda.
Na cadeia, elas dormem em
redes que ficam presas a pregos
nas paredes. Afirmam que não
há violações por parte dos presos homens. "Nunca fomos
maltratadas por eles", afirma
Edna Marques.
Mas há constrangimentos.
Sem banheiros, os presos só tomam banho a cada três dias. As
mulheres utilizam o banheiro
dos funcionários da cadeia,
duas vezes por dia. A temperatura ambiente chega a 40C. A
comida é racionada para todos.
A transferência de mulheres
no Pará foi determinada pelo
governo para presas que estão
em delegacias com instalações
que não atendam às exigências
da Lei de Execução Penal.
Segundo o delegado Adalberto Cardoso, em depoimento à
comissão da Câmara, as transferências para Ananindeua começam hoje. "É uma determinação, e tenho de cumprir."
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